Domingo, 20 Dezembro 2020

Meditação sem Esforço - Ética

Escrito por Sabedoria Milenar
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(Tempo Estimado de Leitura: 12 - 24 minutos)

Nas duas aulas anteriores que demos sobre a meditação, construímos certos princípios, a fim de sermos capazes de nos guiarmos à medida que desenvolvemos uma prática de meditação forte.

O objetivo deste esforço que fazemos é de adquirir compreensão, auto-conhecimento, para que possamos nos tornar seres humanos melhores. 

Esta é a razão pela qual tantos grandes mestres surgiram neste planeta, a fim de nos ajudar. Seus ensinamentos não foram dados para nós nos divertirmos, adquirirmos poderes, ou para nos exibirmos diante dos outros. Em vez disso, o objetivo dos ensinamentos é para tentarmos salvar a nós mesmos e a humanidade de nos tornarem piores. O potencial para ter sucesso nesse esforço começa com cada indivíduo trabalhando sobre si mesmo. Para nos ajudar nesse esforço, recebemos grandes volumes de ensinamento e instrução de mestres espirituais em todo o mundo, os quais são importantes e vitais, e podem contribuir para o nosso progresso em nossa interna, psicológica evolução espiritual.

Mas essa informação permanecera inútil se não for atualizada, isto é, se não a vivermos e se não a tornarmos parte de nossa própria percepção, não meramente alguma coisa que pensamos, mas um caminho que nós vemos. Então, quando nós estudamos estes ensinamentos e escrituras, e lemos os livros de Krishna, Jesus ou Samael Aun Weor, deveria ser com o objetivo de melhorar a nossa maneira de ver  e transformar a vida.

Entre as ferramentas que nos foram dadas, particularmente nos ensinamentos de Samael Aun Weor, há uma enorme variedade de técnicas, desde as mais simples até as muito desafiadoras. Ao longo de todas elas, Samael Aun Weor enfatizou o fundamento básico para que alguém seja um verdadeiro aspirante espiritual, ou o que ele chamaria de esoterista ou um ocultista: a pessoa tem que ter a capacidade de trabalhar de forma consciente fora do corpo. Em outras palavras, eles devem ser capazes de ter a sua consciência desperta, enquanto o corpo físico está dormindo, de modo que a alma, a essência, possa adquirir autoconhecimento em todos os níveis da mente, e não meramente aqueles que são perceptíveis através do corpo físico.

Samael Aun Weor entregou muitas técnicas e uma série de orientações práticas para nós desenvolvermos essa habilidade. Este é um dos principais elementos que atraem os estudantes a este ensinamento, que temos um sistema tão robusto e muito prático que qualquer um pode utilizar, a fim de despertar a sua consciência fora do corpo físico. No entanto, apesar das boas intenções e até mesmo empenho, muitos falham nessa tentativa e se tornam frustrados. Muitos até mesmo escondem o seu fracasso, e podem até ser instrutores ou serem pessoas respeitáveis na tradição que ainda não possuem esta capacidade. 

Samael Aun Weor explicou por que os estudantes falham: é porque eles não sabem como meditar. Suas mentes são instáveis, fora de controle. Assim, o pré-requisito para ser um verdadeiro mago ou um verdadeiro sacerdote, e possuir a sua consciência desperta fora do corpo, é ser capaz de controlar sua mente, ser capaz de meditar, ser capaz de compreender.

Mesmo no empenho de meditar, muitos não conseguem, devido à falta de instrução, ou por não entender as instruções, ou por não tentar; há muitas razões. Muitos tentam seriamente meditar, mas falham em adquirir a maestria ou até mesmo a experiência de Samadhi, que é o êxtase, a experiência com o divino. Isso também é uma fonte de frustração, e faz com que muitos abandonem seu trabalho espiritual, ou comecem a atacar aqueles que estavam tentando ajudá-los. Muitos estudantes abandonam suas escolas ou tradições porque não conseguem realizar a prática dentro de si mesmo. Por quê? Em alguns casos, podemos dizer que é uma falta de esforço. Em alguns casos, vemos pessoas que fazem um esforço enorme e ainda assim falham em ter essas experiências fundamentais, falham inclusive em alcançar a quietude ou silêncio da mente. Um grande amigo de Samael Aun Weor explicou porque isso acontece. Seu nome é Swami Sivananda. Ele explicou que as pessoas que falham na meditação, que falham até em ter quietude, falham porque elas não foram treinadas em ética.

"Alguns estudantes tolos e impacientes iniciam a prática da concentração" - esta é a concentração preliminar, não é meditação real ainda - "sem se submeterem a qualquer treinamento preliminar em ética. Este é um erro grave. Perfeição em ética é uma questão de suma importância.".

Sivananda também disse:

"Concentração sem pureza da mente é de nenhum proveito. Há alguns ocultistas que têm concentração, mas eles não têm bom caráter. Essa é a razão porque eles não fazem nenhum progresso na linha espiritual."

Na minha própria experiência, eu tenho observado esses fenômenos exatamente como eles foram descritos por Sivananda e Samael Aun Weor. Tenho visto muitas pessoas sérias, dedicadas, que trabalham muito duro para meditar e têm até mesmo certo grau de concentração, mas falham espiritualmente, porque eles têm mau caráter; eles não têm ciência da ética. Em vez disso, eles justificam seus comportamentos, eles se desculpam porque dizem que são "avançados", ou são "praticantes de tantra”, ou praticantes de alguma filosofia esotérica, de forma que isso supostamente dá-lhes o direito de continuar com seus comportamentos nocivos.

Samael Aun Weor explicou muito claramente muitas vezes que há muitos que têm estado no ensinamento por muitos anos, que podem discursar sobre a doutrina lindamente e podem dar a impressão que compreendem o ensinamento muito bem, mas eles não mudam. Ou seja, suas mentes são as mesmas. Este é um problema real em todas as tradições, em todas as religiões.

Portanto, para aqueles de nós que são realmente sinceros e sérios sobre a nossa prática, precisamos permanecer extremamente vigilantes quanto a este ponto: meditação, compreensão, entendimento, experiências divinas, despertar espiritual, verdadeira iluminação do coração, nenhum destes pode ocorrer a menos que tenhamos profundo treinamento em ética. Isto não é "moralidade", isso não tem nada a ver com o que é "moral ou imoral", tem a ver com o que é certo e o que é errado. Princípios éticos são fixos, são parte da natureza. Eles são parte de como energia e matéria funcionam. Podemos discutir filosofia ou moralidade, mas a natureza não se debate. Se executarmos uma ação que é prejudicial, sofreremos uma consequência. Isso é indiscutível, e isso é algo que todos nós experimentamos continuamente. E, ainda assim, porque continuamos ignorantes dessas consequências em nossas vidas, e nós ignoramos a conexão com as causas, continuamos a sofrer e continuamos a estar em escuridão espiritual, porque não criamos a fundação adequada para a prática verdadeira.

Nas duas palestras anteriores, delineamos princípios fundamentais necessários a fim de estabelecer uma técnica de meditação eficaz. Na palestra anterior falamos sobre uma escritura do grande mestre Tsong Khapa que explica três fundamentos ou três princípios, e estes são:

  • 1.Renúncia
  • 2.Bodhichitta
  • 3.Prajna

Estes três princípios ou três caminhos representam três níveis de ensinamento e também três níveis de compreensão. Para todos nós que somos meros iniciantes, vamos começar com o primeiro, que é renúncia.

Como explicamos, a renúncia não está relacionada tanto com renunciar a coisas físicas, como conforto ou viver no mundo ou raspar sua cabeça, que são meros sinais superficiais de renúncia. Verdadeira renúncia está na mente e no coração, é do espírito, é a renúncia de ação prejudicial, é a compreensão de quando algo é certo e quando é errado. Quando compreendemos que uma ação é errada, não é doloroso renunciar, é natural, é normal. Esta é a verdadeira renúncia. No entanto, para nós, quando enfrentamos renúncia sentimos dor, porque temos apegos e desejos. A solução é compreensão, entendimento. Quando nós realmente compreendemos a natureza nociva de um comportamento, não é doloroso renunciá-lo.

Isto é motivo que todas as religiões, sem exceção, começam com a ética. Toda religião no mundo começa em seu catecismo ou a sua primeira instrução que se aplica a todos aqueles que entram nela, e a primeira instrução é sempre ética, não moral, ainda que hoje em dia tornou-se simples moralidade ou filosofia. Ética verdadeira não é "moral".

Entenda, a moral muda com o tempo e com a cultura. Comportamentos que são morais na América do Norte são imorais na Ásia. Comportamentos que são morais na Ásia são imorais no ocidente. Assim, a moralidade é subjetiva. A moralidade não é eterna, imutável e infalível. A moralidade muda com o tempo e cultura.

Ética, por outro lado, é eterna. Verdadeira ética, ética consciente, são leis da natureza. As religiões originalmente emergiram da consciência dessas leis éticas, mesmo que mais tarde as religiões se degeneraram e ruíram em dogma moral.

No Ocidente, na tradição judaico-cristã, ética foi sintetizada no que conhecemos como o Decálogo ou os Dez Mandamentos. Esta é a ética que você já ouviu, como "Não matarás", "Não cobiçarás", "Não cometerás adultério, fornicação"," Honrarás teu pai e tua mãe ", etc. Todos estes têm um fundamento ético. Eles não são a única representação da ética nas tradições judaicas ou cristãs, eles são apenas uma síntese simplificada deles.

De forma similar, no hinduísmo há muitas apresentações de ética. Provavelmente as mais famosas estão nos Yoga Sutras de Patanjali, que é uma exposição de Raja Yoga. No Raja Yoga as duas primeiras etapas são Yama e Niyama. Essas duas etapas são a ética e observâncias, e estas são coisas que você deveria fazer e coisas que você não deveria fazer. Por quê?

Qual é o karma que você tem realizado? Uma ação que você tem pensado sobre ou que você tenha colocado em movimento tanto fisicamente quanto verbalmente.

Yoga-carya-bhumi

Ética não é apenas leis mecânicas que alguma autoridade externa está tentando impor sobre nós. Estas regras, mandamentos, ou votos têm uma função muito específica, que deve ser claramente apreendida, e que é esta: Se você executar ações que são prejudiciais, você cria desarmonia, não só no seu ambiente, mas em sua mente. No entanto, se você seguir essas "observâncias", ou práticas positivas, você cria energia positiva, não só no seu ambiente, mas em sua mente. Assim, o propósito de Yama e Niyama ou os mandamentos de Moisés é de estabilizar nossa psicologia para que não mais vibremos com tanta emoção negativa. Por exemplo, no Budismo, qualquer Budista, seja um leigo ou um monge, sempre tomam cinco votos fundamentais:

  • 1.Não roubar
  • 2.Não matar
  • 3.Não mentir
  • 4.Não ter má conduta sexual
  • 5.Não se entorpecer com álcool ou drogas

Se você matar, roubar, mentir, ter má conduta sexual, ou tomar bebidas alcoólicas, tudo isso cria uma grande perturbação energética em sua mente e no ambiente, mas em primeiro lugar em sua mente. Quando esse distúrbio energético existe, você não pode ter quietude e paz na mente para meditar: para mergulhar e experimentar a sua verdadeira natureza, para experenciar e compreender o que o divino é em você. Torna-se impossível. Se você observar a si mesmo no curso da vida, você pode ver como isto é verdade. Quando uma forte emoção negativa como a ira ou luxúria tomam posse de você, você não pode relaxar, você não tem uma mente calma; você está muito agitado. Essa agitação é precisamente o que nos impede de ver a verdade. Quando estamos com muita raiva, só vemos através dessa raiva. Nós só queremos o que essa raiva quer. Em um acesso de raiva, nós podemos até mesmo jogar fora um casamento, nosso trabalho, nosso status social. A raiva é totalmente irracional e perigosa. Isso é o que a raiva faz conosco, e assim faz a luxúria, inveja, gula, avareza, medo, preguiça, etc. Então, com ética, estamos tentando regular essas qualidades, e eliminá-las.

Como um veneno que foi ingerido, 
O ato de cometer até mesmo um pequeno pecado 
Cria nessa e em próximas vidas
Grande medo e uma terrível queda.

Como quando o grão amadurece em grandes quantidades, 
Mesmo a criação de pequeno mérito [de ação virtuosa] 
Nos leva nessa e em próximas vidas à grande felicidade 
E será imensamente significativa da mesma forma.

Udana-varga (Coleção de Versos Indicativos)

Há uma grande citação de uma escritura Budista que descreve uma conversa entre Buda Shakyamuni e o rei dos Nagas. Um Naga é um ser serpente. No Ocidente as pessoas riem dessas histórias, mas nagas são uma raça de humanóides ou criaturas, preferencialmente, que são inteligentes como nós, mas são uma raça diferente. Eles existem neste planeta e eles podem algumas vezes aparecer fisicamente, tanto como pessoas como em sua forma original. Mas eles raramente são vistos hoje em dia. De qualquer forma, o rei dos Nagas veio ao Buda com perguntas, e Buda lhe disse:

"Senhor dos Nagas, uma única prática dos Bodhisattvas realizada corretamente para o renascimento nos reinos inferiores. Qual é esta única prática? É o discernimento do que é virtuoso. Você deve pensar: "Estou sendo verdadeiro? Como estou passando o dia e a noite?"

Sagara-naga-raja-pariprccha (Perguntas dos Reis Naga do Oceano)

Essa perspectiva singular ou ponto de vista pode guiá-lo de varias formas pelo caminho. Assim, temos que nos questionar: "Estou sendo verdadeiro?" Coloque essa pergunta quando você é tentado pela luxúria, orgulho ou medo. "Estou sendo verdadeiro?"

Quem é esse "eu", em primeiro lugar, e o que significa ser verdadeiro? Você é fiel ao seu Ser, fiel ao seu Íntimo, fiel à sua Divina Mãe e ao seu Pai?

Então, o que esta questão sublinha para nós é que o início do nosso trabalho espiritual e o fim de nosso trabalho espiritual são os mesmos: através de todo o nosso caminho espiritual temos que estar questionando em nós mesmos: "Estou sendo verdadeiro? Como estou passando o dia e a noite? O que estou fazendo com a minha mente, com o meu corpo? " Esta questão tem que estar sempre presente. Para que a questão dê frutos, porém, precisamos ter bom entendimento destes aspectos fundamentais do caminho. Precisamos saber como responder a pergunta: "Estou sendo verdadeiro? Quem sou “eu”?" Temos de ser capazes de responder isso. Fiel ao que? Por isso, estudamos estes aspectos fundamentais.

Para podermos entrar nos aspectos superiores do caminho, como a faixa do meio do caminho que é o aspecto Mahayana, e depois o caminho do Bodhisattva, que é o aspecto Tântrico, temos que ter uma base forte em primeiro lugar, que é o Sutrayana ou caminho fundamental. Para termos essa base, precisamos compreender dois aspectos primários: morte e Karma. Nós também já explicamos em palestras anteriores que nenhum de nós compreende nenhum deles. Isso é comprovado e fácil de ver. Quando analisamos apenas um dia de nossas vidas, ontem, por exemplo, se formos sinceros com nós mesmos, podemos ver quanto tempo perdemos em futilidade, em atividades que são completamente sem sentido, espiritualmente falando. Há tanta coisa que estamos fazendo, gastando o tempo, pensando sobre, nos preocupando, investindo energia, que são espiritualmente infrutíferas. Além disso, nós as fazemos pensando que nós ainda temos tempo neste planeta, que nós não iremos morrer. Acreditamos que a morte pode acontecer com qualquer um, exceto nós mesmos. Agimos de maneira que pensamos que não vamos arcar com as consequências, como se pudéssemos agir, pensar, sentir e fazer o que gostamos sem receber as consequências. Assim, por exemplo, temos pensamentos lascivos, olhamos para os outros com intenção impura, nós nutrimos nossa raiva, nós alimentamos nosso orgulho, nós nos condescendemos de inveja. Tudo isto é feito na ignorância da morte e Karma. É muito simples e muito triste, mas estes são os aspectos fundamentais. Como podemos esperar avançar para os aspectos maiores e mais altos, se nós nem sequer percebemos isto hoje em nossa vida cotidiana? É importante que nós percebamos.

Na palestra anterior, explicamos quatro aspectos básicos de ação e consequência, dos quais eu vou lembrá-los agora, porque você precisa manter isso em mente enquanto estudamos o tópico de hoje.


 1. Ações produzem consequências relacionadas.


Quando você executa uma ação, haverá um resultado, e esse resultado é sempre relacionado à ação.


2. As consequências são maiores do que as ações.


Eu usei o exemplo de jogar uma pedra na água. Nós tendemos a pensar que a ação e o resultado são iguais, em parte por causa do que aprendemos na escola sobre a terceira lei do Movimento de Newton, mesmo se acontecer de aplicarmos a lei do movimento para pensamento, matéria, energia e psicologia. Mas o fato real é: o resultado é mais forte do que a ação. Isto porque, por exemplo, quando você joga a pedra na água, a água absorve a pedra e a água se move para trás até uma distância igual ao impacto, mas há também anéis na superfície e ao longo das profundezas. Toda a água é deslocada pelo impacto. Então, se você fosse quantificar todo esse movimento, essa energia, a energia que foi colocada em movimento pela ação é muito maior do que a energia da ação original. O mesmo acontece quando você fala uma mentira. Quando você fala uma mentira, você pensa "Oh, eu só estou falando somente estas poucas e pequenas palavras", ou mesmo apenas um gesto, ou mesmo apenas não falando parece ser uma pequena ação. Mas isso não afeta somente você, mas todos os outros envolvidos na situação sobre a qual você mentiu. Podem haver dois ou três, podem haver uma centena, podem haver mil. Como você vai saber? Assim, a ação é um nível de energia, mas o resultado é sempre maior, mesmo que não possamos vê-lo.


3. Não é possível receber a consequência sem cometer sua ação correspondente.


Isso também é muito simples, assim como diz a Bíblia: nós colhemos o que semeamos. Se você não tiver cometido a ação que causa câncer, você não vai ter câncer. A natureza funciona na base da invariância. Existem apenas leis: causa e efeito. Se você está experimentando um efeito, é porque você produziu uma causa que lhe permitiu, e porque as condições estão maduras para essa consequência emergir.


4. Uma vez que uma ação é executada, a consequência não pode ser apagada.


Se você puxar o gatilho, você não pode puxar a bala de volta. É o mesmo com os nossos pensamentos, sentimentos e ações. Depois de ter dito uma palavra crítica e causado dor, você não pode remover a dor. Depois de ter atingido alguém, você não pode remover o hematoma. O mesmo é verdadeiro para as ações que você faz para si mesmo. Uma vez que você cometer um ato errado, você não pode remover este ato ou as suas consequências.

Mas todas essas quatro regras são modificadas por um princípio essencial:


Uma lei superior sempre supera uma lei inferior.


Se você cometeu uma ação errada, você pode cancelar a sua recepção da consequência se você realizar uma ação superior. Um exemplo muito rude é, se você estiver correndo e tropeçar e estiver para cair, mas você se segurar, você não pode cair e se machucar. Você pode cambalear, mas você pode ser capaz de recuperar-se. O mesmo acontece quando você diz uma palavra crítica, você fofoca, você mente, você se satisfaz em luxúria; você pode ser capaz de executar uma ação que transcenda o erro, se você pegá-lo no tempo, e se você for sincero. Esta é uma regra importante para compreender, e é a base inteira do caminho.

Se o Karma fosse invariável, se o Karma fosse um destino fixo, não haveria esperança para qualquer um de nós e nós não receberíamos este ensinamento. Nós apenas delegaríamos e seríamos consumidos pela natureza. Mas o fato é que existe esperança, porque uma lei superior pode transformar, pode transcender a lei inferior. Essa é a nossa esperança, mas é uma ação. Nossa esperança não está na crença, não é na fé, é uma ação: ação consciente, ação ética. Saber como realizar a coisa certa no momento certo. É assim que mudamos nossa situação, nosso Karma.

Em nossa tradição, de acordo com o esoterismo ocidental, tendemos a falar de cerca de sete pecados capitais, ou sete defeitos. Estes são o aspecto negativo, ou o aspecto polarizado (negativamente) das sete virtudes. Estas (as virtudes) são as qualidades do espírito, qualidades da mente pura. Então, nessas palestras, falamos sempre sobre a preguiça. A preguiça é um defeito, um "pecado" se você quiser usar essa palavra. Seu oposto é diligência, ação consciente. Isto é o que estamos falando hoje: Diligência, mas tem que ser diligência consciente.

No contexto das duas últimas palestras que demos, que foram baseados nos ensinamentos do Budismo, vamos observar um pouco a ética sob a mesma perspectiva.


As Dez Ações Não-Virtuosas


O Buda ensinou que existem dez ações não-virtuosas. Isso não significa que essas dez ações não-virtuosas são as únicas ações erradas. Assim, por exemplo, nesta lista de dez, ele não menciona a tomar drogas ou beber álcool, ou bater em suas crianças. Estas ainda estão erradas, elas ainda são prejudiciais, elas simplesmente não aparecem nesta lista. Esta lista está falando sobre axiomas psicológicos fundamentais que nós precisamos entender.

As três primeiras são consideradas ações de corpo. O Budismo tende a olhar para as potencialidades do Karma como emergindo de três formas: fisicamente, verbalmente ou mentalmente. Então, no Budismo, você sempre ouve:

  • 1.Corpo
  • 2.Fala
  • 3.Mente

Estas são as três portas através das quais nós utilizamos energia. Mas, novamente, não pense que estas são as únicas formas de criar Karma. Isto é apenas um modelo para ajudá-lo em seu caminho para analisar a si mesmo, mas estas não incluem tudo. Na verdade, estas dez não-virtudes são geralmente estudadas após alguém já ter feito outros votos, como não matar, não roubar, não mentir, não ter má conduta sexual, não tomar bebidas alcoólicas, etc. Então, estas dez ações não-virtuosas vêm depois disso.

No budismo, a primeira ação não-virtuosa é chamada de matar. Nós tendemos a interpretar isto como o ato de assassinato, o que, é claro, cria uma série de danos. Matar é um crime grave, e é por isso que é punido tão severamente em todas as tradições. Mas temos que nos lembrar de algo, podemos matar com uma palavra. Podemos matar com o silêncio, porque podemos matar não somente o corpo, mas o espírito. Podemos matar a mente de alguém. Podemos matar o coração de alguém. Matar não é meramente o ato físico. Matar é tirar a vida de alguém, tirar a vida de outro ser. Nas escrituras, afirma-se que este é um direito reservado apenas para Deus. Dependendo da religião ou tradição que você estudar, esse direito pode ser mais elaborado. Por exemplo, existem o que chamamos de anjos da morte: Devas ou Budas, que são responsáveis por acabar com a vida. Neste caso, matar não é um crime, é o seu trabalho, o seu dever, e é realizado com amor. Da mesma forma, existem executores cósmicos cuja função é matar, como punição, como compaixão. Matar é o domínio de Geburah na Árvore da Vida. Geburah é a sefira da justiça, e é regido pelo anjo Samael. É por isso que o Zohar diz que Samael é o anjo da morte. Samael tem uma espada e tem o direito de matar, de acordo com o Karma, de acordo com a lei. Da mesma forma, existem grandes mestres, grandes professores, grandes profetas iluminados que adquirriram esse direito. Davi, Salomão, Padmasambhava, Quetzalcoatl, outros que, de acordo com a lei, em conformidade com o Karma, foram capazes de matar sem acumular qualquer dívida. Nós não estamos nesse nível. Nós não temos esse direito. Mas, pensamos que temos. 

Agora, a maioria das pessoas que ouvem este tópico olham para si mesmas e dizem: "Bem, eu nunca matei ninguém, então isto não se aplica a mim." Sinto muito, mas isto se aplica. Nossa sociedade é como é por causa de quem somos como indivíduos. Todos nós compartilhamos o karma de matar. Qual civilização, qual país deste planeta é responsável por mais guerras e mais mortes? Qual civilização, qual país deste planeta está gastando mais dinheiro desenvolvendo e aperfeiçoando a arte de matar? Os Estados Unidos. 

A vasta maioria do dinheiro que é produzido nos Estados Unidos é gasto na ação e na arte de matar. Por quê? Temos um monte de "razões", uma série de "justificativas". Algumas podem ser boas, algumas podem não ser. Mas é uma verdade inegável e todos os cidadãos dos Estados Unidos são parte disso, de alguma forma, em algum nível. Seja através de uma participação ativa ou através de apatia, nós contribuímos. Nenhum de nós é inocente.

Além disso, muitos de nós estão sendo treinados diariamente na arte de matar. Você assiste televisão? Por que é que a maior parte dos programas de TV das últimas décadas são todos sobre a arte de matar? Aqueles que assistem televisão são treinados diariamente em como assassinar. A Mídia celebra criminosos, assassinos, estupradores seriais, gângsteres, guerra, e todos nós cedemos a esses filmes e programas de TV e pensamos "é só entretenimento", sem perceber que toda essa informação vai para o cérebro e está nos ensinando. É isso que precisamos aprender? Quais serão as consequências de uma sociedade que ama aprender sobre a morte e assassinato, e de quantas maneiras "criativas" existem para se prejudicar uns aos outros? Quais são as consequências disso? Quais são os resultados disso? Lembre-se: causa e efeito. Se você ensina geração após geração de crianças como usar armas, como lidar com revólveres, como atirar, como esfaquear, qual será o resultado? Paz, serenidade, uma era de ouro, ou guerra? O que você acha? E sobre os video-games? Você já reparou que os video-games mais populares são sempre jogos sobre matar, com extrema violência? Todos os nossos filhos estão gastando horas e horas e horas ensinando-se como matar: se divertindo com isso, se satisfazendo com isso. Mais uma vez, pode não haver uma ação física, mas existe um ambiente psicológico que está sendo criado a partir disto. Se nós queremos saber por que há tanta violência nos Estados Unidos e na América do Norte por causa de armas, temos de olhar para nós mesmos pela causa. Se nós imaginarmos porque há tanta violência no Oriente Médio por causa de armas, as pessoas que vivem lá têm que olhar para si mesmas, e não culpar outros países, mas olhar para si mesmos. Ou na África, ou na Ásia: as causas estão dentro de nós.

A segunda ação não-virtuosa é roubar. Mais uma vez, nós tendemos a pensar em um ladrão que usa uma pequena máscara negra ao redor dos olhos, entra escondido em uma casa à noite para roubar jóias e sai. Sim, isso é roubo, mas que é relativamente raro em comparação com o tipo de roubo que todos nós fazemos todos os dias. É um crime roubar energia, roubar a atenção, roubar ideias, roubar a verdade. Roubamos de muitas maneiras, não apenas por tomar posse. Podemos retirar a identidade de alguém. Se você já teve um sonho que alguém vem e rouba sua licença de direção, passaporte ou carteira, isso significa que alguém no mundo físico está criticando você, reduzindo a sua imagem, retirando a sua identidade, fazendo você parecer mal. Quando criticamos, fofocamos, mentimos, apontamos os defeitos dos outros, e de outra forma caluniamos ou colocamos alguém para baixo, estamos roubando deles. Isso está errado. Por que fazemos isso? Por causa do nosso orgulho, ressentimento e inveja.

Samael Aun Weor escreveu que os verdadeiros aspirantes espirituais sempre têm muitas pessoas ao seu redor fazendo tudo que podem para destruir a sua imagem, dizendo que eles estão roubando dinheiro, que são homossexuais, um fornicário, um adúltero, um mentiroso. Todo aspirante espiritual, verdadeiro aspirante espiritual enfrenta isto. Por que isso acontece? Porque todas as pessoas da comunidade espiritual têm inveja, orgulho, medo, ressentimento.

Engano é uma forma de roubo. Quando você deturpa algo, você rouba. O que podemos dizer sobre todas essas empresas que fazem grandes promessas e oferecem produtos bonitos para nós comprarmos, e então quando nós os compramos, é barato, é lixo, não funciona, ou ele quebra no dia em que a garantia acaba? Isso é enganação, é roubo; é errado. Quantas empresas ou pessoas por aí realmente querem fazer algo que seja realmente bom e vale a pena e irá durar um longo tempo? Ninguém; todo mundo está tentando obter alguma coisa por nada. Hoje em dia, esta é a grande obsessão: obter algo por nada, como ganhar na loteria, o que é, aliás, uma forma de engano sancionada pela autoridade. (continua).


Traduzido e adaptado ao idioma Português pelo site Sabedoria Milenar através do original postado no link https://glorian.org/learn/courses-and-lectures/meditation-without-exertion/ethics. Qualquer adaptação ao idioma Português é unicamente e exclusivamente de responsabilidade do site Sabedoria Milenar.


Informações adicionais

  • Complexidade do Texto: Avançado
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