Segunda, 06 Julho 2020

O Falso Sentimento do Ego

Escrito por Samael Aun Weor
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Vamos hoje falar um pouco sobre o "sentimento de si mesmo"; vale a pena refletirmos sobre esta questão do sentimento de si mesmo. Convém entendermos a fundo a questão do "falso sentimento do Eu".

Todos temos sempre, no fundo de nosso coração, o sentimento de nós mesmos. Mas convém saber se esse sentimento é correto ou equivocado; é necessário, portanto, entender o que é este "sentimento do Eu".

Antes de qualquer coisa urge entender que as pessoas estariam dispostas a abandonar tudo, o álcool, o cinema, o fumo, as farras, etc., menos seus próprios sofrimentos. As pessoas adoram suas próprias dores, seus sofrimentos. Se desapegariam mais facilmente de alguma alegria que de seus próprios sofrimentos. Entretanto, o que parece paradoxal é que todos se pronunciam contra esses mesmíssimos sofrimentos e se queixam de suas dores, mas, quando se trata de abandoná-los, de modo algum estão dispostos a tal renúncia.

Certamente, temos uma série de "fotografias vivas" de nós mesmos; fotografias de quando tínhamos dezoito anos, de quando éramos meninos, de quando éramos homens de vinte e um anos, vinte e oito ou trinta, etc., etc. A cada uma dessas fotografias psicológicas corresponde uma série de sofrimentos, isto é evidente, e gozamos ao examinar tais fotografias, nos deleitamos ao narrar aos outros os sofrimentos de cada idade, as fases dolorosas pelas quais passamos, etc.

Tem um sabor bastante exótico, ou boêmio, poderíamos dizer, contar aos outros nossas dores: quando lhes dizemos que somos pessoas experientes, ao lhes contarmos nossas aventuras de criança, a forma como tivemos que trabalhar para ganharmos o pão de cada dia, a época mais dolorosa da existência quando andávamos por aí buscando os centavos para sobreviver - quantas dores, quantos sofrimentos! - com tudo isto gozamos e nos deleitamos.

Ao fazermos esse tipo de narrativa, parecemos realmente boêmios entusiasmados. Num caso como esse, em vez de nos deleitarmos com a bebida ou o cigarro, deleitamo-nos com a história, com a "novela", com o que nos aconteceu, o que dissemos, o que nos disseram, com a forma como o vivemos, etc., etc.

É um tipo de boemia bastante exótico, que nos agrada. De modo algum parecemos dispostos a abandonar nossos próprios sofrimentos - eles são o narcótico de que todos gostam, o deleite que agrada a todos. Quanto mais acidentada uma vida, mais exóticos nos sentimos, mais boêmios com nossas dores; isso é sem dúvida um absurdo.

Mas observem que a cada situação corresponde um sentimento: um sentimento do Eu, do Mim Mesmo. Sentimos que somos, sentimo-nos existir.

Neste momento vocês estão reunidos aqui para me escutar, e eu estou lhes falando; vocês sentem que estão sentindo, têm aqui no coração o sentimento de si mesmos. E estão certos de que esse sentimento é correto? É possivel que tenham certeza disso. Será esse sentimento que têm neste momento o sentimento de existir, o sentimento de ser e de estar vivo, será um verdadeiro ou um falso sentimento?

Convém refletirmos um pouco sobre essas questões. Quando andávamos por aí, talvez pelos bares, ou pelos "cabarets", tínhamos Sentimento? Sim, é óbvio que o tínhamos. E esse sentimento seria o correto? A cada idade corresponde um Sentimento, pois um é o sentimento de quando se tem dezoito anos, outro o que se tem aos vinte e cinco, outro é o sentimento dos trinta e outro o dos trinta e cinco; um ancião de oitenta anos terá também indubitavelmente seu próprio sentimento - qual deles será o verdadeiro?

É uma tremenda questão esta do sentimento de nós mesmos. O fato é que a pessoa sente que está sentindo, sente que existe, sente que vive, sente que é, sente que sente; tem coração e sente, e diz: "Eu", "Eu" e "Eu". Mas os "Eus" são muitos, e, então, qual dos "sentimentos" será o exato? Reflitam um pouco sobre esta questão. Pensem! Vale a pena tratar de compreender esta questão.

Se alguém desintegra um Eu qualquer, por exemplo, o ressentimento contra alguém; está convicto de havê-lo desintegrado; porém, se o mesmíssimo Sentimento continua a existir, há uma falha no trabalho - isto simplesmente nos indica que o tal Eu que acreditávamos ter sido desintegrado não o foi, visto que o Sentimento que lhe corresponde persiste.

Se perdoamos a alguém, e, mais ainda, se cancelamos a dor que essa pessoa nos causou, mas continuamos a ter igual sentimento, isto nos indica que não cancelamos, portanto, a ofensa, ou a má lembrança ou má ação que esse alguém nos causou. O Eu do ressentimento continua vivo.

Estamos tocando num ponto muito delicado, já que participamos todos do Trabalho de Si Mesmo e Sobre Si Mesmo. Quantas vezes acreditamos, por exemplo, ter desintegrado um "Eu da Vingança"? Mas aquele Eu que tínhamos continua sob a forma de sentimento; isto nos mostra que, portanto, não conseguimos desintegrar tal Eu, isto é evidente. De modo que, portanto, existem em nós tantos sentimentos quantos são os agregados psíquicos ou Eus que temos em nosso interior. Se temos dez mil agregados psíquicos, indubitavelmente teremos dez mil sentimentos de nós mesmos. Cada Eu tem seu próprio sentimento.

Assim, pois, há uma pauta a seguir em nosso Trabalho sobre nós mesmos e é esta questão do sentimento. Intelectualmente podemos ter aniquilado o Eu do Egoísmo, mas, continuará existindo em nós o sentimento do Egoísmo, esse sentimento do primeiro Eu, do segundo e do terceiro Eu?

Sejamos sinceros conosco mesmos: se tal sentimento continua existindo, é porque o Eu do Egoísmo ainda existe.

Assim, hoje os convidei a compreender esta questão do Sentimento. Dá muito trabalho fazer com que as pessoas se decidam a compreender a necessidade de desintegrar o Ego, mas ainda mais trabalhoso é compreenderem o que é o Sentimento. É algo tão fino, tão sutil...

De qualquer modo, neste trabalho sobre nós mesmos, meus queridos irmãos, há três linhas que precisamos entender:

  • Primeiro: O Trabalho sobre Nós Mesmos, com o propósito de desintegrar os agregados psíquicos que levamos em nosso interior, viva personificação de nossos erros.
  • Segundo: O Trabalho com as outras pessoas - precisamos aprender a nos relacionarmos com os outros, e
  • Terceiro: O Amor ao Trabalho, o Trabalho pelo próprio Trabalho.

São as três linhas a seguir.

Se por exemplo, alguém diz e acredita que está trabalhando sobre Si Mesmo, mas não se verifica nenhuma mudança na pessoa, se o Sentimento Equivocado do Eu continua, se sua relação com os outros ainda é a mesma, está demonstrado que esta pessoa não mudou, e, se não mudou, não está trabalhando sobre si mesma corretamente, isso é óbvio.

Precisamos mudar, mas, se após certo tempo de trabalho o Sentimento do Eu continua o mesmo, se o modo de proceder com as pessoas é o mesmo, poderíamos acaso afirmar que mudamos? Na verdade não, e a finalidade destes estudos consiste em mudar. A mudança deve ser radical, porque até mesmo a própria identidade tem que perder-se para nós mesmos.

Um dia, por exemplo, Arce procurará Arce, mas Arce já não existe, ter-se-á perdido para si mesmo, isso é claro. Um dia Uzcátegui dirá: "Que foi feito de Uzcátegui? ", já não existe, terá desaparecido para Uzcátegui. Assim, na realidade, até a mesmíssima identidade tem que perder-se para nós mesmos. Temos de tornar-nos absolutamente diferentes.

Conheço aqui mesmo, entre os irmãos - sei de alguns, cujo nome não menciono - alguns que estudam comigo há anos e anos, vejo-os sempre na mesma, não mudaram, têm o mesmo comportamento, cometem os mesmos erros - exatamente os mesmos erros cometidos há vinte anos. Nada indica ou acusa qualquer mudança; não há nada novo neles. Como são hoje? Como eram há vinte anos, ou há dez ou cinquenta anos. Mudança, nenhuma.

Então, que estão fazendo essas pessoas? Que fazem aqui? Estão perdendo o tempo miseravelmente, não é verdade? Porque o objetivo de nossos estudos é mudar psicologicamente, converter-nos em seres diferentes; mas se continuamos os mesmos, se Fulano de Tal é o mesmo que era há dez anos, então não mudou nem está fazendo nada, está perdendo seu tempo - isto é óbvio

Convido todos vocês a esta reflexão. Querem ou não querem mudar? Se continuam sendo sempre os mesmos, então, que estão fazendo? Com que objetivo estão aqui reunidos na Terceira Câmara? Para que? Precisamos refletir melhor.

Uma orientação a seguir é esta questão do sentimento do Eu. O sentimento do Eu é sempre equivocado, nunca é correto. Devemos distinguir entre o Sentimento do Eu e o Sentimento do Ser.

" O Ser é o Ser, e a razão se ser do Ser é o próprio Ser ".

O Sentimento do Ser é sempre correto, mas o sentimento do Eu é um sentimento equivocado, é um sentimento falso! Por que os irmãos se deleitam com suas fotografias psicológicas de vinte, trinta ou cinquenta anos atrás? Que se passa com vocês?

Cada fotografia psicológica é acompanhada de um sentimento diferente. O sentimento do jovem de dezoito anos que se embebeda, o do rapaz de vinte anos que anda com a noiva ou pelo caminho pervertido, etc., qual desses será o correto? O que tínhamos como rapazes de dezoito anos ou o que temos hoje, na idade de cinquenta ou sessenta anos? Qual será o verdadeiro?

Nenhum desses sentimentos é verdadeiro, nenhum deles é correto. Todos são falsos. É falso quando alguém se sente um homem de dezoito anos com o mundo diante de si e a quem as noivinhas sorriem. É falso aquele rapazinho de vinte anos que acredita que vai dominar o mundo com seu rosto bonito. É falso aquele jovem de vinte e cinco anos que anda de janela em janela. Tudo isto é falso! Qual desses sentimentos será o real? Só a Consciência pode lhes dar um Sentimento Real.

Não se esqueçam de que não há muita distância entre o Ser e a Consciência. A vida tem três aspectos: o Ser (Sat, em sânscrito), a Consciência (Chit) e a Felicidade (Ananda); mas a Consciência Real do Ser, que não está muito distante do Ser em Si Mesmo, está engarrafada entre esta multiplicidade de agregados psíquicos que personificam nossos erros e que levamos em nosso interior. Só a Consciência pode dar-nos um Sentimento Correto; mas este sentimento pareceria aos outros cruel, porque estes estão engarrafados em falsos sentimentalismos que não têm nada a ver com o Verdadeiro Sentimento do Ser.

O Sentimento da Consciência Objetiva, Real, é o que importa; mas, para podermos ter esse Sentimento Verdadeiro da Consciência Real e Objetiva, precisamos, antes de tudo, desintegrar os agregados psíquicos. À medida que vamos desintegrando os diversos agregados, viva personificação de nossos defeitos, a Voz da Consciência irá se tornando cada vez mais forte; o Sentimento do Ser, isto é, da Consciência, irá se fazendo sentir de forma cada vez mais intensa; e, à medida que vamos passando a sentir com a Consciência, nos daremos conta de que o Falso Sentimento do Eu nos conduz ao erro.

Mas isto é muito sutil, sumamente delicado, pois todos nós sofremos muito na vida, isto é óbvio. Temos marchado também pelo caminho do erro, o que é patético; e, em todos os aspectos de nossa vida, em cada processo, em cada instante, temos sentido aqui no coração algo, algo, algo, algo que se chama sentimento. Temos sempre considerado esse "algo" como a Voz de nossa Consciência; temo-lo considerado como o Sentimento de Si, como o Sentimento Real ao qual temos obedecido, como o único que pode conduzir-nos pelo caminho certo ("reto"), etc. Mas, infelizmente, temos estado equivocados, meus queridos irmãos !

A prova de nosso equívoco é que mais tarde tivemos outro Sentimento completamente diferente, totalmente distinto, e bem depois ainda outro Sentimento também diferente; qual dos três era então o verdadeiro? Assim, temos todos sido vítimas de um auto-engano. O Sentimento do Eu sempre nos guiou, temos sempre confundido o Sentimento do Eu com o Sentimento do Ser. Temos sido vítimas de um auto-engano, e nisto não pode haver exceções, até mesmo eu marchei pelo caminho do erro quando tomei o Sentimento do Eu pelo Sentimento do Ser. Não há exceções, todos temos sido vítimas do auto-engano.

Chegar a sentir verdadeiramente, chegar a ter o Sentimento Preciso, é algo tremendo. Esse Sentimento Preciso é o da Consciência Superlativa do Ser. De qualquer modo, devemos seguir pelo caminho da Aristocracia da Inteligência e da Nobreza do Espírito. À medida que avancemos por essa senda tão difícil do Auto-Conhecimento e da Auto-Observação de Si Mesmos, de momento em momento, iremos também aprendendo a sentir corretamente. Iremos aprendendo a conhecer o Sentimento Autêntico da Consciência Superlativa do Ser.

O Ser é para nós o que conta, é o importante, e o Sentimento tem um grande papel nessa questão do Ser, um tremendo papel. Quantas vezes acreditávamos estar indo bem pelo caminho da vida, guiados pelo Sentimento vivo de uma autêntica Realidade; aconteceu que andávamos então pior do que antes porque guiados por um falso sentimento, o do Eu.

Há pessoas incapazes de desapegar-se do Falso Sentimento do Eu. Jamais! Têm uma série de "fotografias" ou imagens de Si Mesmas que não abandonariam por nada na vida, nem por todos os tesouros do mundo. Gozam com suas dores e renunciar a elas seria pior que a própria morte. As pessoas vivem se queixando e gozam com seus lamentos, jamais abandonariam suas dores. É terrível isto que estou lhes dizendo, doloroso mas verdadeiro.

Devido a um Falso Sentimento do Eu podemos perder toda uma existência íntegra. Passam-se os vinte anos, e os trinta, quarenta, cinquenta, os sessenta e chegamos aos oitenta (se por acaso chegamos, pois muitos morrem antes dos oitenta) com o mesmo conceito falso, o mesmo Falso Sentimento do Eu para ser mais claro, e esse Falso Sentimento que temos do Eu nos "engarrafa" completamente no Ego, e por fim morremos sem haver dado um só passo adiante.

Comumente as pessoas, ao enfrentarem a vida, não recebem as experiências diretamente na Consciência; têm muitos e terríveis preconceitos e prejuízos em sua mente. Qualquer desafio é, portanto, imediatamente escudado, recebido com algum prejuízo ou preconceito. Tudo o que ocorre na vida chega, não à Consciência, mas a toda essa multiplicidade de preconceitos que levamos dentro, a toda essa diversidade de sentimentos equivocados e contraditórios - nunca à Consciência, e, como resultado, permanecemos adormecidos por toda a vida.

Olhemos por exemplo um velho neurastênico, de oitenta anos, torpe e rançoso no pensar, "engarrafado" em algum dogma; tem um Sentimento de Si Mesmo totalmente equivocado. Quando alguma impressão ("algo") o atinge, não toca sua Consciência; tudo o que lhe chega chega apenas à sua mente, e esta, como está cheia de preconceitos, costumes, hábitos mecânicos, etc., reage então de acordo com seu próprio condicionamento - violentamente, covardemente, etc.

Já viram algum ancião de oitenta anos reagindo? Vocês já sabem como é, sempre as mesmas reações. Por que? Porque tudo lhe chega à mente, não toca nunca sua Consciência, chega à sua mente e esta logo o interpreta a seu modo. A mente julga tudo segundo lhe parece, como está habituada a julgar, como crê ser verdadeiro, e o Falso Sentimento do Eu respalda essa forma equivocada de pensar. Conclusão: quem tem um Falso Sentimento perde sua vida miseravelmente.

O fato é que é preciso chegar ao Sentimento Correto, mas este é o da Consciência. Ninguém poderia chegar a ter este Sentimento Correto se não desintegrasse os agregados psíquicos. À medida que alguém desintegra seus agregados psíquicos o Sentimento Correto se manifesta. Quando a desintegração é total, também o Sentimento Correto é total.

Comumente, entretanto, o Sentimento Correto de Si Mesmo está em luta com o Sentimento Falso do Eu. É que o Sentimento Correto da Consciência está muito além de qualquer código de ética, além de qualquer código moral estabelecido por alguma religião, etc. No fundo, os conceitos morais estabelecidos pelas várias religiões resultam comumente falsos.

Como a Consciência humana está atualmente tão adormecida, foram inventados diversos sistemas pedagógicos, sociais, éticos, educativos e morais para que possamos andar pelo caminho reto, mas nada disso serve para nada. Há uma ética própria da Consciência, mas esta pareceria imoral aos santurrões das diversas correntes religiosas.

Os livros dos Paramitas do Tibet Oriental expõem uma ética que jamais se encaixaria em qualquer culto, pois é a ética da Consciência; e não estou, com isso, me pronunciando contra nenhuma forma de religião, mas unicamente contra certas formas ou armaduras enferrujadas dentro dos quais estão hoje em dia "engarrafados" a Mente e o Coração, certas estruturas caducas e degeneradas de falsa moral convencional - contra isso é que estou me pronunciando.

Nesses estudos [Gnósticos] não se trata de seguir ou de viver de acordo com certas formas petrificadas de moral; aqui o que se deve desenvolver é a capacidade de compreensão. Necessitamos constantemente avaliar a nós mesmos para descobrir o que temos e o que nos falta. Há muita coisa que devemos eliminar e muito que devemos adquirir, se é que queremos seguir o caminho certo; mas o Sentimento equivocado do Eu não permite a muitos avançar pela difícil senda da liberação; esse Sentimento Equivocado do Eu é sempre confundido com o Sentimento do Ser, e se não abrirmos bem os olhos, o Sentimento Equivocado do Eu pode fazer com que fracassemos todos na presente existência.

O Ser é o que importa, mas está muito fundo, muito profundo... Realmente o Ser em Si Mesmo é a Mônada Interior. Lembremo-nos de Leibnitz e suas famosas "Mônadas". A Mônada em si mesma é o que chamamos Neshamah em hebraico, ou seja, Atman-Budhi. Atman... Quem é o Atman? É o Íntimo, o Ser.

Precisamente sobre isso, o livro "Deuses Atômicos" nos diz: "Antes que a falsa aurora aparecesse sobre a Terra, aqueles que haviam sobrevivido ao furacão e à tormenta adoraram o Íntimo, e a eles apareceram os Arautos da Aurora... "

Neshamah, ou seja, Atman-Budhi, é a Mônada citada por Leibnitz em sua "Filosofia Monádica". Atman é o Íntimo, Budhi é a Alma Espiritual, a Consciência Superlativa do Ser; os dois, integrados, constituem a Mônada, isto é óbvio. A Mônada, por sua vez, se desdobrou na Alma Humana, que é o "Manas Superior" dos orientalistas. Essa Alma Humana é em princípio completamente germinal, mas dela, por desdobramento, resultou a Essência, que é a única coisa que os animais intelectuais têm encarnada em seu interior. Essa Essência está "engarrafada" entre os diversos agregados psíquicos que levamos dentro de nós.

Em hebraico, Neshamah é precisamente Atman, Atman em seu aspecto inefável. Budhi é Ruach, e Atman-Budhi se diz "Ruach" em geral. Nephesh é a Alma Humana ou Alma Causal, de onde precisamente deriva a Essência que cada um tem em seu interior. Essa Essência precisa ser despertada, é a parte da Consciência que temos dentro, essa Essência há que pô-la em atividade; infelizmente está adormecida, presa dentro dos agregados psíquicos inumanos que por desgraça levamos em nosso interior.

É preciso entender que, quando alguém trabalha sobre Si Mesmo, entra no caminho da Revolução da Consciência, aspira a receber algum dia seus princípios anímicos e espirituais, quer dizer, converte-se em um Templo da Mônada Interior, pois é óbvio que uma Essência desenvolvida desperta, integra-se, funde-se completamente com a Alma Humana no Mundo Causal. Muito mais tarde ainda vem o melhor: os Esponsais, o Casamento, a integração dessa Alma Humana com a Mônada; quando isso ocorre, o Mestre se Auto-Realizou totalmente.

Assim, o que possuímos, a Essência, deve ser trabalhada. Devemos começar por "desengarrafá-la"; é uma fração da Alma Humana em toda criatura e há que despertá-la, pois está adormecida em meio aos agregados psíquicos que levamos em nosso interior.

Essa Essência tem seu próprio Sentimento Correto, que é diferente, completamente diferente do Falso Sentimento do Eu. Essa Essência - com seu Sentimento - realmente emana da verdadeira Alma Causal ou Alma Cósmica; assim, o Sentimento da Essência é o mesmo da Alma Cósmica, o mesmo que existe na Alma Espiritual, o mesmo que existe no Íntimo ou Atman...

Quando alguém entra por este caminho, descobre que ingressou na Senda da Revolução da Consciência, e a Revolução da Consciência é tremenda, porque de fato traz consigo a Revolução Intelectual e a Revolução Física. A Revolução da Consciência provoca uma série de revoluções intelectuais extraordinárias e, por sua vez, como resultado, dá-se a Revolução Física.

Na Alquimia, por exemplo, fala-se na Reincrudação do Corpo Físico, na Invulnerabilidade e na Mutação. É óbvio que aquele que obteve o despertar total, aquele que atingiu a Iluminação, pode alimentar-se com a Árvore da Vida, e seu Corpo Físico pode, se assim o quiser, tornar-se invulnerável e mutante - isto pode ser conseguido mediante a Reincrudação Alquimista. Um iluminado sabe muito bem como se consegue a reincrudação.

Assim, tem-se três Revoluções em uma: a Revolução da Consciência traz consigo a Revolução Intelectual e também a Revolução Física.

Os grandes Adeptos da Consciência, esses que obtiveram realmente o despertar, são Iluminados, e muitos deles são imortais. Lembremos Sanat Kumará, o "Ancião dos Dias", o fundador do Colégio de Iniciados da Irmandade Branca. Trouxe seu corpo físico à Terra desde Vênus. Esse Grande Mestre, havendo já transcendido qualquer necessidade de viver neste mundo, deixou-se ficar aqui para ajudar aos que seguem a Senda Pedregosa que conduz à Libertação Final.

Sanat Kumará pode submergir-se totalmente no Oceano da Grande Luz, mas renunciou a toda felicidade para ficar aqui conosco, e permanece conosco, por Amor a nós.

Neste caminho que estamos percorrendo, é urgente compreender a forma de nos relacionarmos corretamente com nossos semelhantes; se estamos trabalhando sobre Nós Mesmos, devemos também levantar a tocha para iluminar o caminho de outros, para mostrar-lhes o Caminho, e isso é precisamente o que fazem os Missionários Gnósticos: mostrar a outros a Senda da Libertação.

No Oriente se fala claramente de dois tipos de seres que seguem esse caminho. Podemos chamar o primeiro tipo de Sravacas e Buddhas Pratiekas. São obviamente ascetas, sabem que o falso sentimento do Eu só pode conduzir ao fracasso. Compreendem isto, preocuparam-se em trabalhar intensamente sobre si mesmos, fizeram seus votos; alguns deles até tem diluído o Ego, mas não fazem nada pelos outros, não fazem nada pelo próximo.

Estes Buddhas Pratiekas e Sravacas obviamente gozam de certa iluminação e alguma felicidade, mas nunca chegaram verdadeiramente a ser Bodhisattwas no sentido mais restrito da palavra.

Há dois tipos de Bodhisattwas: os que têm o Bodhisitta em seu interior e os que não o têm. Que se entende por Bodhisitta ou Bodhisitto? Simplesmente que trabalham pela humanidade à base de diversas renúncias e por Kalpas inteiros, manifestando-se nos mundos e renunciando a qualquer tipo de felicidade. Estes possuem os Corpos Existenciais de Ouro Puro, pois é isto o Bodhisitta: os Corpos Existenciais do Ser e a Sabedoria da experiência adquirida através de sucessivas eternidades.

O Bodhisitta de um Buddha é na verdade um Bodhisattwa devidamente preparado, que pode realizar com perfeição e eficiência todos os trabalhos que o Buddha Interior lhe confiou. Poderia o Bodhisattwa que realmente se desenvolveu no terreno vivo do Boddhisitta fracassar nos trabalhos que deve realizar? É evidente que não, pois está devidamente preparado.

Entende-se portanto, por Bodhisitta, precisamente todas essas experiências, todos esses conhecimentos adquiridos através das idades, os Veículos de Ouro Puro, a Sabedoria Evidente do Universo. Obviamente, o Bodhisattwa, provido do Bodhisitta, se manifesta ao longo (através) de vários Mahanvantaras e finalmente vem a converter-se num Ser Omnisciente.

A Omnisciência é algo que se precisa conquistar, não se "ganha de presente"; é um produto de diferentes manifestações cósmicas e de renúncias incessantes.

O Bodhisattwa que possui dentro de si o Bodhisitta, ou seja, toda esta soma de Conhecimentos, Experiências e Veículos de Ouro, etc., jamais se deixaria guiar por um Falso Sentimento do Eu. Mas este Falso Sentimento do Eu costuma refinar-se espantosamente. Muitos indivíduos que já obtiveram grande elevação espiritual são ainda, entretanto, vítimas do Falso Sentimento do Eu. Compreender isto é básico para a Grande Obra, é fundamental...

Todos nós temos direito a aspirar à Iluminação; entretanto, não devemos cobiçar a Iluminação. Ao invés disso, devemos preocupar-nos com a desintegração dos Agregados Psíquicos que levamos em nós; vigiar intensivamente esse Falso Sentimento do Eu, aniquilá-lo, pois pode fazer-nos estagnar, pode levar-nos ao auto-engano, fazer-nos pensar que vamos indo bem, fazer-nos acreditar que é a Voz da Consciência, quando na realidade se trata da voz do Ego.

Quero que compreendam claramente que um dia terão de fabricar dentro de si mesmos o Bodhisitta, isto é, elaborar essa experiência, elaborar esse conhecimento que o Trabalho sobre Si Mesmos lhes vai conferindo. Com tal conhecimento e experiência, vocês não falharão. À medida que vão desintegrando esses agregados psíquicos que lhes dão o Falso Sentimento do Eu, irão se alimentando com o Pão da Sabedoria, com o Pão Transubstancial vindo do Alto, pois cada vez que se desintegra um Agregado Psíquico libera-se uma percentagem de Consciência e se adquire de fato uma virtude, um conhecimento novo, algo extraordinário...

A propósito de Virtudes, devo dizer-lhes que quem não é capaz, por exemplo, de apreciar as gemas preciosas, tampouco poderia conhecer o valor das Virtudes. Estas são em si mesmas valiosas e preciosas, mas é impossível adquirir qualquer Virtude sem haver previamente desintegrado o defeito que constitui sua antítese. Não poderíamos, por exemplo, adquirir a Virtude da Castidade se não desintegramos o defeito da Luxúria. Não poderíamos adquirir a Virtude da Mansidão, se não desintegramos em nós mesmos o defeito do Ressentimento. Não poderíamos adquirir a Virtude do Altruísmo se não eliminamos o defeito do Egoísmo.

O que importa, portanto, é que compreendamos a necessidade de eliminar nossos defeitos, pois só assim irão nascendo em nós as gemas preciosas das Virtudes.

De qualquer maneira, o objetivo desta prática de hoje foi o de chamar sua atenção para o Falso Sentimento do Eu. Vocês terão que aprender a sentir a Consciência, a ter um sentimento correto da Consciência Superlativa do Ser. Essa Consciência Superlativa emana originalmente de Atman, o Inefável, ou seja, o Íntimo, o Ser...

Assim, meus queridos irmãos, aqui terminamos esta palestra. Sintam-se inteiramente livres para perguntar o que quiserem em relação ao tema.


PERGUNTAS E RESPOSTAS


Venerável Mestre, qual a relação entre as sensações e o sentimento?

Sensações são sensações, e podem ser positivas ou negativas. Toda sensação resulta de alguma radiação ou impressão externa. Por exemplo: temos uma sensação de dor, produzida por alguém, seja através da palavra ou de uma pancada; sobrevém então uma sensação de dor. Ou uma sensação de alegria: quando alguém nos trata bem ou aspiramos um perfume delicioso. Em todo o caso, sensações são sensações; mas o sentimento se leva no coração, é diferente, envolve o centro emocional, e nunca se deve confundir o Sentimento Autêntico do Ser, de Atman, da Mônada, da Essência, etc. (do Ser em geral) com o sentimento do Eu. Cada Eu tem sua forma de sentimento, e comumente esses sentimentos do Eu nos levam ao fracasso.

Venerável Mestre, em que idade ou etapa do desenvolvimento do indivíduo se manifestam Eus característicos, próprios dessa idade?

Certamente que isto ocorre de acordo com a Lei de Recorrência, porque, se numa passada existência, aos trinta anos de idade, tivemos uma briga num bar, o Eu correspondente àquela rixa permanece no fundo de nós mesmos, aguardando aquela idade de trinta anos para voltar a manifestar-se. Quando chegar essa idade sairá então e irá procurar um bar com o propósito de encontrar-se com o homem com quem brigou. Este fará o mesmo, e por fim se encontrarão no bar voltarão a brigar, essa é a Lei de Recorrência.

E se, na idade de vinte e cinco anos, tivemos uma aventura amorosa, também na mesma idade o Eu que estava aguardando lá no fundo sairá à superfície, controlará o intelecto, controlará o coração e irá procurar a amada de seus sonhos. Ela fará o mesmo, e ambos se encontrarão para repetir a aventura.

Assim, o robô humano está programado pela Lei de Recorrência. Em todo o caso, o Ser, o verdadeiro Ser, não se expressa no animal intelectual, vive normalmente na Via Láctea. O que atua neste mundo é o robô programado pela Lei de Recorrência.

É preciso desintegrar o Ego e despertar a Consciência para que a Mônada, Atman-Buddhi, o Ruach Elohim que, segundo Moisés, "lavrava as águas no no princípio do Mundo", o Rei-Sol, volte a expressar-se naturalmente dentro de nós, venha à manifestação, ingresse em nossa pessoa humana. Só Ele pode fazer.

As pessoas crêem que fazem e não fazem nada. Atuam de acordo com a Lei de Recorrência, são máquinas programadas, e isto é tudo!

Venerável Mestre, a Segunda Guerra Mundial foi uma recorrência da Primeira?

Tudo se repete sempre, é verdade, de acordo com a Lei de Recorrência. A Segunda Guerra Mundial nada mais foi que repetição da Primeira, e a Terceira será uma repetição da Segunda.

Mestre, pode explicar-nos como alguém pode acreditar haver eliminado um defeito, quando na verdade não é assim?

Sim, pode-se acreditar que se eliminou determinado defeito psicológico, mas se o Sentimento correspondente a esse Eu continua em nós significa que o defeito não foi eliminado. Assim, esse conhecimento nos dá um modo de saber se realmente eliminamos tal ou qual Eu. É um padrão de medida que nos permite descobrir se já eliminamos determinado Agregado Psíquico.

Mestre, como poderia explicar-nos o fato de que o Anjo Adonai tenha Karma?

Bem, Adonai, o Filho da Luz e da Alegria, que eu saiba não tem Karma. Se demorou a eliminar algum elemento indesejável, isso já passou.

Venerável Mestre, pelo que compreendi, o Karma de Adonai se devia às lembranças da Alma...

Bem, mas isto é uma conjectura, e devemos basear-nos em fatos. Não sei se Adonai tem Karma, pelo menos não fui informado sobre isso, esta é a verdade. Pelo que entendi, não tem Karma. No momento tem corpo físico e vive na Europa, é um Adepto maravilhoso, pertence ao Círculo Consciente da Humanidade Solar, que age sobre os Centros Superiores do Ser; vive como um desconhecido na Europa, na França...

Mestre, há outros Kumarás além de Sanat Kumará, o Venerável Mestre?

Entende-se por Kumará todo Indivíduo Ressurrecto;.desde que ressuscite é um Kumará. Obviamente os Kumarás, assim como os Pitris, são os que ajudaram a criar, a dar vida à nossa forma física humana.

Entretanto, os Agnishwatas, que são Deuses Solares, me parecem mais interessantes que os Kumarás. O certo é que os Deuses Solares que governaram a Terra e a Humanidade da Primeira Raça voltaram para o Sol. Haviam vindo do Sol e a ele regressaram, e na futura Grande Raça Raiz voltaremos a receber a visita dos Deuses Solares. Virão do Sol, viverão em meio à humanidade e estabelecerão a Sexta Raça Raiz sobre a face da Terra. Governarão os povos, nações e línguas, são Governantes. Entre as doze constelações do Zodíaco, a constelação mais importante é obviamente a de Leão. O Sol tem seu trono em Leão.

Os Deuses Solares vêm periodicamente à Terra, cada vez que se inicia uma nova Raça...

Mas não nos afastemos tanto da questão que vimos examinando. Devemos ter em mente a necessidade de estudarmos um pouco mais a Nós Mesmos e dar atenção a esta questão do Sentimento do Eu. Até aqui minhas palavras.

Informações adicionais

  • Complexidade do Texto: Avançado
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