Não existe ego. Conquanto ele não exista, nós nos assimilamos a esse ego ilusório. Ele é o centro e a pedra de toque de todas as nossas relações: tudo o que reconforta sua existência, tudo o que lhe é favorável, torna-se objeto de apego; tudo o que, ao contrário, ameaça sua integridade torna-se inimigo, fonte de aversão.
Por sinal, a simples presença do ego oculta a verdadeira natureza de nossa mente e dos fenómenos, torna-nos incapazes de discriminar entre o real e o ilusório. Somos, nesse sentido, prisioneiros da opacidade mental [ignorância]. O ego também engendra a inveja em relação a toda pessoa considerada como um rival possível, em qualquer domínio que seja. Enfim, o ego deseja ser superior aos outros; é o orgulho.
Apego, aversão, opacidade mental, inveja, orgulho são os cinco venenos de base produzidos pela apreensão egocêntrica.
Eles constituem um obstáculo irrevogável à paz interior, criando sem descontinuidade inquietudes, perturbações, dificuldades, angústias e sofrimentos. Não apenas para si mesmo, mas ainda para o próximo. É evidente, por exemplo, que a cólera é sofrimento para si mesmo e para aquele a quem ela se dirige, afligido por um rosto furioso, imprecações e palavras ofensivas.
O ego e os cinco venenos levam-nos, além do mais, a realizar atos de carácter nocivo que imprimem em nossa mente um potencial cármico negativo, cuja maturação se exprimirá sob a forma de circunstâncias dolorosas.
O ego e seu séquito são nossos verdadeiros inimigos, não inimigos visíveis que as armas ou algum objeto material poderiam vencer, mas inimigos invisíveis cuja derrota só a meditação e o caminho espiritual provocam. A ciência contemporânea criou armas de extremo poder, bombas capazes de matar de uma vez centenas de milhares de pessoas. Mas nenhuma bomba pode aniquilar o ego e os cinco venenos. Neste campo, a verdadeira bomba atómica é a meditação.
O Senhor da Grande Compaixão – Tchenrezi