É evidente que não estamos separados da crise – o que quer que aconteça a uma nação ou a um grupo de pessoas está na realidade acontecendo a cada um de nós, como indivíduo e já que estamos tão ligados uns aos outros, precisamos manter-nos muito vigilantes e deliberadamente cônscios dos nossos pensamentos e sentimentos.
Porque, se somos influenciados pelos acontecimentos, se eles nos persuadem a tomar partido, sem estarmos cônscios das suas causas, seremos então simplesmente por eles arrastados; e já que os acontecimentos, tanto locais como mundiais, se estão passando com extraordinária rapidez, e uma vez que o seu ímpeto é tão forte e tão brutal, compete-nos, por certo, ter extrema clareza em nossos pensamentos e muita firmeza em nossos sentimentos.
Porque, quanto mais forte é o acontecimento, tanto maior a confusão exterior, e tanto mais intenso o tumulto e o caos dentro de nós. Os acontecimentos exteriores, tão aproximados que estão de nós, naturalmente transtornam e perturbam a muitos; e julgo que é correto – não achais? Ter sentimentos muitos fortes, emoções vigorosas, bem orientadas, não tendenciosas, e com objetivos definidos; porque, privado de sentimentos, o indivíduo está morto.
A mera escuma intelectual nenhum valor tem em instantes de grande significação; ae há o perigo de traduzirmos intelectualmente, superficialmente, os grandes acontecimentos e passarmos adiante sem mais lhes darmos atenção. Se, porém, somos capazes de acompanhar com grande atenção e clareza as causas psicológicas da perturbação e de manter uma atenção emocional livre da interferência do intelecto, talvez então possamos perceber o significado dos acontecimentos.
Não estou apenas a pronunciar palavras, para vós escutardes; é possível que, conversando sobre a questão, como o estamos fazendo neste momento, venhamos a esclarecer o confuso estado da nossa mente e das nossas emoções.
Assim à medida que eu for respondendo a perguntas, esta tarde, espero que acompanheis as minhas respostas não apenas no nível verbal ou intelectual, porque isso tem pouca significação; mas que as acompanheis como se o que digo estivesse de fato acontecendo.
Porque, de certo, a responsabilidade de qualquer crise não cabe a outra pessoa – ela nos cabe – a vós e a mim – como indivíduos, e para compreender uma crise, como a que reina agora na Índia, precisamos abeirar-nos dela com muita diligência, com intensidade, com clareza, com a intenção de examiná-la a fundo e de perceber todo o seu significado, todas as suas profundezas.
Como disse, esta tarde vou responder a perguntas; mas as respostas têm pouca significação quando se esperam apenas respostas. Se, todavia, analisarmos juntos o problema, se nele pensarmos profundamente – isto é, se não ficardes apenas escutando, e eu explicando – se o examinarmos juntos, talvez então esse próprio processo de pensamento crie uma compreensão uma revelação.
Introdução da 3ª Conferência “Da Insatisfação à Felicidade” – Krishnamurti