Os romanos adoravam as mesmas divindades, referindo-se a elas pelos seus nomes latinos.
Os deuses olímpicos tinham muitos atributos humanos: o comportamento deles, as reações emocionais, a aparência e a mitologia nos proporcionam padrões que se igualam ao comportamento e às atitudes humanos.
Eles nos são familiares porque são arquetípicos, isto é, representam modelos de ser e de se comportar que nós reconhecemos a partir do inconsciente coletivo, do qual todos nós compartilhamos.
Os deuses mais famosos eram os doze olímpicos. Seis deuses: Zeus, Poseidon, Hades, Apolo, Ares, Hefesto; e seis deusas: Héstia, Deméter, Hera, Ártemis, Atenas e Afrodite. Uma das doze, Héstia, deusa da lareira, foi substituída por Dioniso, deus do vinho, mudando, portanto, o equilíbrio masculino/feminino para sete deuses e cinco deusas.
Os arquétipos que estou descrevendo neste livro são as seis deusas olímpicas - Héstia, Deméter, Ártemis, Atenas e Afrodite - mais Perséfone, cuja mitologia é inseparável da de Deméter.
Dividi essas sete deusas em três categorias: as deusas virgens, as deusas vulneráveis e as deusas alquímicas ou transformativas. As outras duas categorias são designações minhas. Modos de consciência, papéis preferidos e fatores motivadores são características distintas de cada grupo. Atitudes em relação aos outros, necessidade de afeto e importância dada aos relacionamentos também são diferentes em cada categoria.
As deusas, representando três categorias diferentes, necessitam de expressão em algum lugar na vida da mulher, para que ela possa amar profundamente, trabalhar significativamente, e também ser sensual e criativa.
O primeiro grupo que você encontrará nessas páginas é o das deusas virgens: Ártemis, Atenas e Héstia. Ártemis, a quem os romanos chamavam de Diana, era a arqueira de infalível pontaria e protetora da prole de todas as coisas vivas. Atenas, conhecida como inerva entre os romanos, era a deusa da sabedoria e das habilidades manuais, patrona de sua cidade homônima, Atenas, e protetora de numerosos heróis.
Era usualmente retratada usando armadura e conhecida como a melhor estrategista na batalha. Héstia, deusa da lareira, a Vesta dos romanos, era a menos conhecida dos deuses olímpicos. Ela se fazia presente em casas e templos como a chama no centro da lareira.
As deusas virgens representam a qualidade de independência e autossuficiência das mulheres. Ao contrário das outras deusas olímpicas, essas três não eram suscetíveis de se enamorarem. Os afetos emocionais não as desviavam daquilo que consideravam importante. Não eram atormentadas e não sofriam. Como arquétipos, elas expressam a necessidade de autonomia e capacidade que as mulheres têm de enfocar sua percepção naquilo que é pessoalmente significativo.
Ártemis e Atenas representam meta direcionada e pensamento lógico, o que as torna arquétipos de realização orientada. Héstia é o arquétipo que enfoca a atenção interior para o centro espiritual da personalidade de uma mulher. Essas três deusas são arquétipos femininos que procuram ativamente seus próprios objetivos. Elas ampliam nossa noção de atributos femininos, para incluir competência e autossuficiência.
O segundo grupo - Hera, Deméter e Perséfone - é o das deusas vulneráveis. Hera, conhecida como Juno pelos romanos, é considerada a deusa do casamento. Era esposa de Zeus, deus principal dos Olimpo. Deméter, a deusa romana Geres, era a deusa dos cereais. No seu mito mais importante, seu papel de mãe foi enfatizado. Perséfone, em latim Prosérpina, era filha de Deméter. Os gregos a chamavam de Core, "a jovem".
As três deusas vulneráveis representam os papéis tradicionais de esposa, mãe e filha. São deusas-arquétipos orientadas para o relacionamento, e suas identidades e bem-estar dependem de um relacionamento significativo. Expressam as necessidades que as mulheres têm de adoção e vínculo. São sintonizadas aos outros e sensíveis. Essas três deusas foram violadas, raptadas, dominadas ou humilhadas pelos deuses.
Cada uma sofria a seu modo quando um afeto era rompido ou desonrado e apresentavam sintomas que se assemelhavam a doenças psicológicas. Cada um dos arquétipos também se expandiu e pode proporcionar às mulheres: a) insight quanto à natureza e padrão de suas próprias reações a perdas, e b) potencial para o crescimento através do sofrimento que é inerente a cada um desses três arquétipos de deusas.
Afrodite, a deusa do amor e da beleza, mais conhecida pelo nome romano Vênus, está na terceira categoria, a das deusas alquímicas. Era a mais bela e irresistível das deusas. Teve muitos romances e muita descendência, devido às suas numerosas ligações. Produziu amor e beleza, atração erótica, sensualidade, sexualidade e vida nova. Viveu relacionamentos de sua própria escolha e nunca foi ludibriada.
Assim, manteve sua autonomia como deusa virgem, mas nos relacionamentos era uma deusa vulnerável. Sua consciência era enfocada e receptiva, permitindo dupla alternância através da qual ambos, ela e o outro, eram afetados. O arquétipo de Afrodite motiva as mulheres a procurarem intensidade nos relacionamentos, em vez da permanência neles; motiva-as a valorizarem o processo criativo e a serem receptivas às mudanças.
Livro “As Deusas e a Mulher” – Trecho do Capítulo 1– Jean Shinoda Bolen