Você pensa que o saber que adquiriu dos instrutores e dos livros te levará a alguma parte?
Ele poderá ser útil, numa discussão, para "mostrar erudição", mostrar o quanto é perspicaz. Mas o saber acumulado - exceto no mundo científico - pode conduzir um homem, a você ou a mim, ao descobrimento do que é real, do que é verdadeiro, Deus, o Eterno, descobrimento sem o qual a nossa vida muito pouco significa?
Sem dúvida, para se achar o Eterno, temos que largar todo o nosso saber, não é verdade? Tudo o que disse Buda, Cristo, ou outro qualquer - tudo isso não deve ser posto de lado? Senão estará meramente perseguindo suas próprias "projeções" ou a "projeção" da sua igreja; estará, na verdade, reagindo ao seu próprio condicionamento.
Ora, vocês têm que deixar de ser cristãos, hinduístas, budistas ou praticantes da ioga, devem deixar tudo isso completamente para que "o que está além" (caso exista) possa manifestar-se. Se dizemos, simplesmente, que além existe algo, e aceitamos este algo, e esperamos alcançá-lo, com isso nos mostramos muito superficiais.
Mas podemos empreender uma jornada sem nada sabermos, sem apoio nenhum, sem sermos cristãos, budistas, hinduístas, que são simples rótulos e denotam uma mente condicionada? Colocamos a parte tudo o que sabemos, eis o único problema, e pouco importa que eu tenha "algo melhor para oferecer".
Porque, sem dúvida, um homem deve estar só - não isolado, não "sozinho" – no saber, na experiência, porque todo saber e toda experiência são obstáculos ao descobrimento do real. A mente deve estar livre de todo condicionamento, tem de estar só, para descobrir.
Quanto mais uma pessoa observa certa prática, quanto mais acumula, quanto mais disciplina, molda, torce, luta, tanto menos compreenderá o que é. Não estou falando de nenhuma filosofia indiana de negação, de "nada fazer", quando você tem a mentalidade ocidental de "fazer algo"; não é disso que estou falando.
Estamos tratando de uma coisa completamente diferente. A mente deve tornar-se pura, nova. Não pode ser nova e pura se existe acumulação de saber ou a mera repetição das palavras de um instrutor, ou o resultado final de certa prática.
Pode a mente tornar-se consciente de seu próprio condicionamento? Não só do condicionamento superficial, mas de todos os símbolos, ideologias, filosofias, imagens, todas as coisas, enfim, que jazem nas profundezas da mente e a estão condicionando.
Tornar-se consciente dessas coisas e delas libertar-se, eis o que é "liberdade religiosa". Esta liberdade é que opera a revolução - a única revolução que pode transformar o mundo.
Livro “Transformação Fundamental” – Jiddu Krishnamurti