Naquela época, meus familiares, minha estirpe, julgavam−se demasiado sangue azul, devido aos notáveis antepassados e nobres descendentes. Causa−me pena confessá−lo, e isso é o grave, eu também estava metido nessa garrafa de preconceitos de sociedade. Coisas da época!
Um certo dia, não importa qual, uma irmã minha enamorou−se de um homem pobre. Claro que isso tornou−se o escândalo do século. As damas da nobreza e seus néscios cavalheiros, janotas, empertigados, engomados, esfolaram vivo o próximo, escarneceram da infeliz. Diziam que ela havia manchado a honra da família, que poderia ter se casado bem melhor, etc. Não demorou muito tempo e a pobre mulher ficou viúva. Como resultado de seu amor restou−lhe um menino.
E se quisesse voltar ao seio da família? Porém, isso não era possível. Ela conhecia demasiado a língua viperina das elegantes damas, sua enfadonha disciplina, seu desdém… e preferiu a vida independente.
Que eu ajudei a viúva? Seria absurdo negá-lo. Que me apiedei do meu sobrinho? Isso foi verdade. Porém, infelizmente, há vezes que alguém, por não lhe faltar a piedade, pode se tornar impiedoso.
Este foi o meu caso. Compadecido do menino, o internei em um colégio (dizia para que recebesse uma educação firme e rigorosa), sem me importar, nem um pouco sequer, com os sentimentos de sua mãe. Até cometi o erro de proibir a sofrida mulher de visitar seu filho. Pensava que assim meu sobrinho não se prejudicaria e mais tarde poderia ser alguém, chegar a ser um grande senhor, etc.
O caminho que conduz ao abismo está empedrado de boas intenções. Não é VERDADE? Pois, assim é. Quantas vezes, querendo fazer o bem, fiz o mal. Minhas intenções eram boas, mas procedia equivocadamente e, no entanto, acreditava firmemente que estava agindo corretamente.
Minha irmã sofria demasiado com a ausência do seu filho. Não podia vê-lo nem no colégio porque fora-lhe proibido. A todas as luzes salta aos olhos que houve de minha parte amor para com meu sobrinho e crueldade para com minha irmã. Mas, eu acreditava que, ajudando o filho, estava ajudando também a mãe.
Felizmente, dentro de cada um de nós, nessas regiões íntimas onde falta AMOR, surge como por encanto a polícia do CARMA, o KAON. Não é possível fugir dos agentes do CARMA. Em cada um de nós está a polícia do Carma, a qual nos conduz inevitavelmente para os tribunais. Passaram-se muitos séculos desde aquela época. Todos personagens daquele drama envelheceram e morreram. Mas, a lei da RECORRÊNCIA é terrível. Tudo se repete da mesma maneira com o acréscimo das conseqüências.
Século XX. Reencontro de todos atores daquela cena. Tudo se repetiu, de certa forma, porém com suas conseqüências. Desta vez fui eu o repudiado pela família, eis a lei. Minha irmã encontrou-se outra vez com seu marido e eu voltei a me unir com a minha antiga esposa sacerdotisa conhecida como LITELANTES.
Aquele tão amado e discutido sobrinho renasceu entre nós, mas desta vez em corpo feminino. É uma menina (minha filha) muito formosa, seu rosto parece uma deliciosa noite e em seus olhos resplandecem as estrelas.
Há algum tempo, não importa a data, vivíamos perto do mar. A menina (o antigo sobrinho), não podia brincar, estava gravemente enferma. Tinha uma infecção intestinal.
O caso era bastante delicado, porquanto vários meninos de sua idade tinham morrido naquela época devido a mesma causa. Por que seria minha filha uma exceção?
Os numerosos remédios que se lhe aplicaram foram francamente inúteis. Em seu rosto infantil já começava a se desenhar com horror o perfil inconfundível da morte.
O fracasso era evidente. O caso estava perdido e não me restava outra solução senão a de visitar o DRAGÃO DA LEI, esse gênio terrível do Carma, cujo nome é ANÚBIS.
Felizmente…! Graças a Deus! LITELANTES e eu sabemos viajar consciente e positivamente em CORPO ASTRAL.
Assim pois, juntos nos apresentarmos no palácio do Grande Arconte, o qual se acha no Universo Paralelo da quinta dimensão não era um problema para nós.
Impressionante, majestoso, grandioso, aquele templo do CARMA.
Lá estava o imponente HIERARCA, sentado em seu trono terrivelmente divino, qualquer um se espantaria ao vê-lo oficiar com a sagrada máscara de chacal, tal como aparece em muitos baixos-relevos do antigo Egito Faraônico.
Por fim, foi me dada a oportunidade de lhe falar e não a deixei passar, dizendo−lhe: Tu tens uma dívida para comigo - lhe disse - Qual? Replicou assombrado. Satisfeito, nomeei a um homem que em outros tempos fora um perverso demônio. Refiro−me a ASTAROTH, o Grande Duque.
Ele era um filho perdido para o PAI – continuei explicando – e, no entanto, o salvei. Mostrei−lhe a senda da luz e o tirei da LOJA NEGRA. Agora é um discípulo da FRATERNIDADE BRANCA e tu ainda não me pagaste esta dívida.
O caso era que aquela menina devia morrer, de acordo com a LEI. Sua alma devia penetrar no ventre da minha irmã para nascer em novo corpo físico. Eu entendia tudo aquilo e foi por isso que acrescentei: “peço que vá Astaroth para o ventre da minha irmã ao invés da alma da minha filha”.
A solene resposta do HIERARCA foi definitiva: “Concedido. Que vá Astaroth para o ventre da tua irmã e que tua filha fique curada”.
Resta ainda dizer que aquela menina (meu antigo sobrinho), curou-se milagrosamente e minha irmã concebeu a um formoso varão.
Eu tinha com que pagar essa dívida, possuía o capital cósmico necessário. A LEI DO CARMA não é uma mecânica cega como supõem muitos PSEUDO ESOTERISTAS e PSEUDO OCULTISTAS.
Da maneira como estavam as coisas, torna-se bem evidente compreender que, com a morte de minha filha, eu deveria sentir a dor do desprendimento, aquela amargura que, em épocas anteriores, sentira minha irmã com a perda de seu filho.
Assim, perante a GRANDE LEI ficaria o dano compensado. Repetiram-se cenas semelhantes às passadas, porém desta vez a vítima seria eu mesmo.
Felizmente, o CARMA é negociável. Nada tem que ver com essa mecânica cega dos astrólogos e quiromantes de circo.
Tinha capital cósmico e com ele paguei a velha dívida. Graça a Deus, consegui evitar a amargura que me aguardava.