Segunda, 18 Julho 2022

Como Meditar - O Senhor da Grande Compaixão

Escrito por Tchenrezi
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Estabelecidos em um local isolado, é- nos necessário libertar nosso corpo de toda atividade, libertar nossa mente dos pensamentos concernentes ao passado e ao futuro, libertar nossa palavra de toda conversação profana.

Nosso corpo, nossa palavra e nossa mente são deixados em repouso, naturalmente à vontade.

A postura corporal é importante. Nosso corpo é percorrido por uma rede de canais subtis (nadis) nos quais circulam os ventos subtis (prana). A produção dos pensamentos está ligada à circulação desses ventos. A agitação do corpo engendra a agitação dos canais e dos ventos, que, por sua vez, favorece as turbulências mentais.

A atividade oral, a formação dos sons, também depende da atividade dos ventos. Falar em demasia perturba-os, aumentando a produção de pensamento. Guardar o silêncio favorece a meditação.

Preservar a calma da palavra e o corpo predispõe, portanto, à calma interior evitando a criação de um fluxo de pensamentos demasiado abundante. Tal como um cavaleiro, controlando bem sua montaria, está sentado comodamente, quando o corpo e a palavra estão controlados, a mente está predisposta ao repouso.

Falsas ideias são às vezes alimentadas quanto ao que é a meditação. Para alguns, meditar é passar em revista e analisar os acontecimentos de sua vida quotidiana ocorridos nos dias, meses e anos passados. Para outros, meditar é encarar o porvir, refletir sobre a conduta a manter, formar projetos a mais ou menos longo prazo. Essas duas abordagens são evidentemente erróneas.

A produção de pensamentos concernentes ao passado ou ao futuro está por si mesma em contradição com estabelecimento da mente na calma, mesmo quando o corpo e a palavra permanecessem inativos. Na medida em que o exercício não conduz à paz interior, não é meditação.

Outras pessoas, acreditando meditar, não vão em busca nem do passado nem do futuro. Instalam-se, isto sim, num estado vago e impreciso, vizinho do tipo de torpor que uma grande fadiga engendra. A mente permanece numa indeterminação obscura, estado que pode parecer positivo na medida em que proporciona, antes de tudo, uma impressão de repouso benfazejo; todavia, falta-lhe total lucidez e não tarda a resvalar para o sono, a menos que não desemboque numa corrente de pensamentos descontrolados.

A verdadeira meditação evita esses escolhos: a mente despreocupada com o passado, sem encarar o futuro, enraizado num presente lúcido, claro e calmo. A noite só permite uma percepção muito obscura do mar, enquanto o dia deixa ver com precisão todos os detalhes: as cores, as ondas, a espuma, os rochedos, o fundo submarino.

Nossa mente é semelhante ao mar. O meditador deve estar plenamente consciente da situação interior, percebida de modo tão claro quanto o mar à luz do dia. Ele deixa, então, sua mente tranquila e as ondas acalmam-se naturalmente. É a calma interior, tecnicamente denominada pacificação mental (em tibetano shine).

Inúmeros métodos são utilizados para desenvolver shine. Um principiante pode, por exemplo, visualizar uma pequena esfera de luz branca ao nível da fronte e nela concentrar-se no melhor de suas capacidades. Podemos também nos concentrar no vaivém da respiração, ou ainda, sem tomar um objeto de concentração particular, deixar a mente sem distração. Podemos utilizar esses três métodos e, por aí, aprender progressivamente a meditar.

Por sinal, é importante abordar uma sessão de meditação com a mente muito ampla, muito aberta, sem estar fixada sobre a esperança que ela seja boa nem o temor que não o seja. A mente deve estar tranquila, disponível e vasta. Esperar uma boa meditação ou temer uma ruim são, em si mesmo, entraves dos quais precisamos estar libertos.

A meditação dá-nos, às vezes, experiências de felicidade e paz. Satisfeitos conosco regozijamo-nos por termos feito uma boa meditação. Às vezes, ao contrário, nossa mente permanece muito perturbada, durante toda a sessão, por numerosos pensamentos e, tristemente, julgamo-nos péssimos meditadores. Regozijar-se por uma boa meditação e ligar-se a experiências agradáveis, assim como entristecer-se por uma meditação ruim são duas atitudes falsas. Meditação boa ou ruim, o importante é simplesmente meditar.

Algumas pessoas, quando de seus começos, obtêm rapidamente boas experiências; estas ligam-se a estas, esperam sua repetição constante e, quando não é o caso, decepcionadas, abandonam a meditação. No transcurso de uma longa viagem, percorremos ora bons caminhos, ora ruins.

Se os encantos de uma porção agradável servissem de incentivo para nos determos para deles usufruir continuamente, ou então, se as dificuldades do caminho ruim nos fizessem renunciar a avançar, nunca alcançaríamos nosso objetivo. Caminho bom ou ruim, é mister avançar. Da mesma forma, no caminho da meditação é necessário perseverar sem preocupar-se com as dificuldades nem se ligar aos momentos felizes.

É preferível, para os principiantes, limitar-se a curtas sessões de dez ou quinze minutos. Mesmo que a meditação seja boa, devemos parar. Depois, se dispusermos de tempo necessário, faremos uma segunda sessão curta após uma pausa. Melhor é proceder por uma sucessão de curtas sessões do que engajar-se numa longa sessão que, mesmo boa no início, corre o risco de resvalar para a dificuldade e cansar o meditador.


O Senhor da Grande Compaixão – Tchenrezi

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  • Complexidade do Texto: Intermediário
Ler 490 vezes Última modificação em Segunda, 29 Agosto 2022