Segunda, 24 Junho 2019

A Segunda Jóia do Dragão Amarelo

Escrito por Samael Aun Weor
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É claro que devemos nos tornar cada vez mais independentes da mente. Ela é certamente uma prisão, um calabouço, onde estamos todos prisioneiros. Precisamos escapar dessa prisão, se é que realmente queremos saber que coisa é a liberdade; essa liberdade que não é do tempo, essa liberdade que não é da mente.

Antes de tudo, devemos considerar a mente como algo que não é o Ser. Infelizmente, as pessoas estão muito identificadas com a mente. Dizem: estou pensando... Sentem-se como se fossem a própria mente.

Há escolas que se dedicam a fortificar a mente, dão cursos por correspondência, ensinam a desenvolver a força mental, etc. Tudo isso é absurdo! Fortificar as barras da prisão onde estamos metidos não é o indicado. O que precisamos é destruir esses barrotes para conhecer a verdadeira liberdade que, como já lhes disse, não é do tempo. Enquanto estivermos na prisão do intelecto, seremos incapazes de experimentar a verdadeira liberdade.

A mente em si mesma é uma prisão muito dolorosa. Ninguém foi feliz até hoje com a mente. Quando conheceram o primeiro homem feliz com a mente? A mente torna as criaturas infelizes. Os momentos mais felizes que tivemos na vida foram sempre na ausência da mente. Foi só um instante, sim, mas que nunca poderemos esquecer. Em tal segundo, soubemos o que é a felicidade, mas isso durou apenas um segundo. A mente não sabe que coisa é a felicidade, ela é uma prisão.

Temos que aprender a dominar a mente, não a alheia, mas a própria. Temos que dominá-la, se é que queremos ficar independentes dela. É necessário, é indispensável, aprender a olhar a mente como algo que devemos domar, como algo que precisamos amansar.

Recordemos o divino Mestre Jesus entrando na Jerusalém Celestial montado num burro em pleno Domingo de Ramos; esse burrinho é a mente que tem de ser submetida, devemos montar nele e não deixar que ele monte em nós. Infelizmente, as pessoas são vítimas; o burrinho monta nelas; as pessoas não sabem montar no burrinho. É um burro muito teimoso; que deve ser domado, se é que de fato queremos montar nele.

Durante a meditação, devemos conversar com a mente. Se alguma dúvida aparece, precisamos dissecar a dúvida. Quando uma dúvida foi devidamente estudada, quando foi dissecada, não deixa rastro algum em nossa memória, desaparece. Mas quando uma dúvida persiste, quando queremos apenas combatê-la incessantemente, forma-se o conflito. Toda dúvida é um obstáculo à meditação. Não será repelindo as dúvidas que as vamos eliminar, e sim dissecando-as para ver o que escondem de real.

Qualquer dúvida que persista na mente converte-se numa trava para a meditação. Então, temos de analisar, esquartejar, reduzir a pó, a dúvida. Não se trata de combatê-la, mas de abri-la com o bisturi da autocrítica, fazendo uma rigorosa e implacável dissecação. Só assim descobriremos o que havia de importante na dúvida, o que não havia de importante, o que havia de real e o que havia de irreal.

Assim, as dúvidas às vezes servem para esclarecer conceitos.Quando alguém elimina uma dúvida mediante uma análise rigorosa, quando faz sua dissecação, descobre alguma verdade. De tal verdade vem algo mais profundo: mais sapiência, mais sabedoria. A sabedoria se elabora sobre a base da experiência direta, sobre a experiência própria, sobre a base da meditação profunda.

Há vezes em que precisamos dialogar com a mente, porque quando queremos que a mente fique quieta, quando queremos que a mente fique em silêncio, ela insiste na sua tolice, em seu falatório inútil, em uma luta de antíteses. É quando necessitamos interrogar a mente, dizendo: “Bom, o que é que tu queres, mente? Explica-me, responda-me, o que é que tu queres?” Se a meditação for profunda, pode surgir em nós alguma representação, nessa representação, nessa figura, nessa imagem, está a resposta. Devemos conversar com a mente, fazer com que veja a realidade das coisas, até fazer-lhe ver que sua resposta está equivocada, até fazer-lhe ver que suas preocupações são inúteis, e o motivo porque são inúteis... Por fim, a mente fica quieta e em silêncio.

Mas se notarmos que ainda não surge a iluminação, que o estado caótico ainda persiste em nós, aquela confusão incoerente com sua luta e seu falatório incessante, teremos de chamar outra vez a mente à ordem, interrogando-a: “Bom, o que é que tu queres? Diga-me, o que andas buscando? Por que não me deixas em paz? Fale claro.” Conversar com a mente como se fosse um sujeito estranho, e certamente ela é um sujeito estranho. Ela não é o Ser. Há que se tratar com ela como se fosse alguém estranho: recriminá-la, repreendê-la.

Os estudantes do zen avançado treinam o judô, mas o judô psicológico deles não foi compreendido pelos turistas que chegam ao Japão. Ver os monges praticando o judô, lutando uns com os outros, pareceria um exercício meramente físico, mas não é. Quando eles estão praticando o judô, realmente quase não se estão dando conta do corpo físico. Sua luta se dirige realmente contra a própria mente.

Neste judô em que se acham combatendo, cada um está contra sua própria mente. De modo que o judô psicológico tem por objetivo submeter a mente, tratá-la cientificamente, tecnicamente; o objetivo é submetê-la. Infelizmente, os ocidentais que somente vêem a casca do judô, como sempre superficiais e néscios, tomaram o judô como defesa pessoal física. Esqueceram-se dos princípios Zen e Ch’an; isso é de fato lamentável.

Algo muito semelhante aconteceu ao Taro. Saibam que no Taro está toda a sabedoria antiga, que nele estão todas as leis cósmicas da natureza. Por exemplo, um indivíduo que fala contra a magia sexual esta falando contra o Arcano IX do Taro, logo está lançando em cima de si um karma horrível. Um indivíduo que fala a favor do dogma da evolução, que quer escravizar as mentes alheias no dogma da evolução, está quebrando a lei do Arcano X do Taro, e assim sucessivamente. O Taro é o padrão de medidas para todos, como já disse em meu livro O Mistério do Áureo Florescer. Os autores são livres para escrever o que quiserem, mas que não se esqueçam do padrão de medidas que é o Taro, o Livro de Ouro, se é que não querem violar as leis cósmicas e cair sob a lei da Katância, o Karma superior. Aqueles que defendem o dogma da evolução estão quebrando as leis do Arcano X do Taro.

Bom, depois desta pequena digressão, quero lhes dizer que este Taro tão sagrado, tão sábio, se converteu em jogo de pôquer e nos diferentes jogos de cartas que há para divertir as pessoas. As pessoas se esqueceram de suas leis, de seus princípios. As sagradas piscinas dos templos da antiguidade, dos templos de mistérios, converteram-se hoje em recintos para banhistas. A tourada, ciência profunda, ciência taurina dos antigos mistérios de Netuno na Atlântida, perdeu seus princípios e converteu-se hoje no espetáculo de circo vulgar para todos.

Assim, não é de se estranhar que o judô zen e ch’an, que tem por objetivo precisamente submeter a própria mente em cada um de seus movimentos e paradas, se tenha degenerado, tenha perdido seus princípios no mundo ocidental e que tenha se convertido em algo meramente profano que só usa hoje para defesa pessoal.

Olhemos o aspecto psicológico do judô! Não quero dizer que vou lhes ensinar judô físico, porque eu mesmo não o pratico, mas estou lhes ensinando judô psicológico. É necessário dominar a mente, ela tem que obedecer; temos que recriminá-la fortemente para que obedeça.

Como é possível que, estando em uma prática de meditação, em instantes que buscamos a quietude e o silêncio, a mente venha se impor, não querendo ficar quieta? Há que se saber por que não quer ficar quieta. Temos de interrogá-la, de recriminá-la, de açoitá-la, fazer com que obedeça. Ela é um burrinho torpe, teimoso; precisa ser domado.

Isto Krishnamurti não ensinou, e tampouco o ensinou o zen ou o ch’an. Isto que lhes estou dizendo pertence à Segunda Jóia do Dragão Amarelo, à segunda jóia da sabedoria. Podemos incluir o zen na primeira jóia, porém ele não explica a segunda jóia, ainda que tenha os prolegômenos em seu judô psicológico. A segunda jóia implica em disciplina da mente, dominando-a, açoitando-a, repreendendo-a, etc. A mente é um burrinho insuportável que tem de ser amansado.

Durante a meditação, temos de contar com muitos fatores. Se quisermos chegar ao silêncio e à quietude da mente, precisamos estudar a desordem, porque somente assim conseguiremos estabelecer a ordem. Há que se saber o que existe em nós de atento e o que existe de desatento.

Sempre que entramos em meditação, nossa mente fica dividida em duas partes: a parte que atende (a parte atenta) e a parte desatenta. Não é na parte atenta que temos de por a atenção e sim precisamente no que há de desatento em nós. Quando conseguirmos compreender a fundo o que há de desatento em nós e estudar os procedimentos que convertem o desatento em atento, teremos conseguido a quietude e o silêncio da mente.

Mas temos de ser rigorosos na meditação, julgar a nós mesmos, para saber o que há de desatento em nós. Precisamos nos tornar conscientes daquilo que existe de desatento em nós.

- Quando é dito que devemos dominar a mente, quem a deve dominar?

A essência. A essência, a consciência, deve dominar a mente.

- Então despertando a consciência adquirimos mais poder sobre a mente?

Naturalmente que sim, pois nos tornamos conscientes do que há de inconsciente em nós. Assim, é urgente, inadiável, dominar a mente, falar com ela, recriminá-la, açoitá-la com o látego da vontade, fazer com que obedeça; isto pertence à Segunda Jóia do Dragão Amarelo. Como já lhes disse, eu estive reencarnado na antiga China e me chamei Chou Li. Fui iniciado na Ordem do Dragão Amarelo e tenho autorização para entregar as Sete Jòias do Dragão Amarelo.

Antes de tudo, não devemos nos identificar com a mente, se é que queremos verdadeiramente tirar o melhor partido da segunda jóia, porque se nos sentirmos sendo a mente, se dissermos: “estou raciocinando, estou pensando”, estaremos afirmando um despropósito e não estaremos de acordo com a doutrina do Dragão Amarelo.

O Ser não precisa do pensar, o Ser não precisa do raciocinar, quem raciocina é a mente. O Ser é o Ser e a razão de ser do Ser é o próprio Ser. Ele é o que é e o que sempre será. Ele é a vida que palpita em cada átomo e que palpita em cada sol. Assim, o que pensa não é o Ser, o que raciocina não é o Ser. Não temos todo o Ser ainda encarnado em nós e sim apenas uma parte do Ser: a essência, o budhata, O que há de alma em nós, o anímico, o material psíquico. É necessário que esta essência viva se imponha sobre a mente.

- Mestre, quer dizer então que o que analisa é o eu, os eus?

Assim é, já que os eus não são senão formas da mente, formas mentais que têm de ser desintegradas, reduzidas a poeira cósmica.

-Nesse caso, deixamos de raciocinar e de analisar?

Pois claro que sim! Ainda poderia se dar o caso de que alguém dissolvesse os eus, os eliminasse, poderia se dar o caso de que esse alguém além de dissolver os eus ainda fabricasse um corpo mental, obviamente adquiriria individualidade mental, porém, teria de se libertar até do próprio corpo mental porque esse corpo, por mais perfeito que seja, também raciocina, também pensa, e a forma mais elevada de pensar é não pensar; enquanto se pensa não se está na forma mais elevada de pensar.

O Ser não precisa pensar. Ele é o que sempre foi e o que sempre será. Assim, em síntese, há que subjugar a mente, açoitá-la, interrogá-la. Não devemos submeter mentes alheias porque isso é magia negra. Não precisamos dominar a mente de ninguém, porque isso é bruxaria da pior espécie. O que precisamos é submeter a nossa própria mente; dominá-la...

Durante a meditação, repito, há duas partes: a que está atenta e a que está desatenta. Precisamos nos fazer conscientes do que há de desatento em nós, e quando nos fizermos conscientes poderemos evidenciar que o desatento tem muitos fatores. Vamos analisar alguns desses fatores:

A dúvida; há muitas dúvidas; na mente humana existem muitas dúvidas. De onde vêm as dúvidas da mente? Vejamos por exemplo o ateísmo, o materialismo, o ceticismo. Se os dissecamos, veremos que existem muitas formas de ceticismo, muitas formas de ateísmo e muitas formas de materialismo. Há pessoas que se dizem materialistas, ateus, e, no entanto, temem as superstições, as bruxarias; respeitam a natureza, percebem Deus na natureza, mas a seu modo. Quando lhes falamos sobre assuntos espirituais ou religiosos, declaram-se ateus, materialistas; mas seu ateísmo é bem incipiente.

Há outro tipo de materialismo e ateísmo: o marxista-leninista, incrédulo, cético. No fundo, algo busca esse materialista ateu, simplesmente quer desaparecer, não existir, aniquilar-se integralmente. Não quer saber nada da Mônada Divina, a odeia. Obviamente, ao proceder assim se desintegrará, como quer; é isso que lhe agrada. Deixará de existir, descerá aos mundos infernais, descerá para o centro de gravidade do planeta. É isso que quer: se autodestruir, perecer. Mas ainda assim continuará... A essência se libertará, retornará a novas evoluções e passará por outras involuções. Voltará uma e outra vez, em diferentes ciclos de manifestação, a cair no mesmo ceticismo, no mesmo materialismo. Mas, a longo prazo, o resultado aparecerá. Qual? Quando se fechem definitivamente todas as portas, quando os três mil cicios se esgotem, então essa essência se absorverá na Mônada, e esta por sua vez no seio do Espírito Universal de Vida, mas sem o mestrado.

O que queria realmente essa essência? O que buscava com seu ateísmo? Com seu materialismo? Qual era a sua aspiração? Sua aspiração era rejeitar o mestrado. No fundo, era isso que queria e isso consegue; foi o que valorizou. No entanto, no final, termina como uma chispa divina sem mestrado.

Assim, são diversas as formas de ceticismo. Há pessoas que se declaram católicas apostólicas romanas; vão à missa aos domingos, se confessam e comungam, no entanto em suas exposições são cruamente materialistas e ateístas. Esta é outra forma de ceticismo. Se analisarmos todas as formas de ceticismo existentes e por existir, descobrimos que não há um ceticismo só, não há um materialismo só, na realidade existem milhões de formas de ceticismo e de materialismo. E são milhões simplesmente porque são formas mentais, coisas da mente, isto é, o ceticismo e o materialismo são da mente e não do Ser.

Quando alguém passou além da mente, quando se fez consciente da verdade que não é do tempo, é óbvio que não pode ser ateu nem materialista. Aquele que alguma vez escutou o Verbo que está além do tempo, além da mente, não pode ser materialista nem ateu. O ateísmo é da mente, pertence à mente; é como um leque. Todas as formas de materialismo e de ateísmo parecem um grande leque, são tantas e tão variadas; é o leque da mente. Mas o que há de real está além da mente.

O ateu, o materialista, é ignorante, jamais escutou ao Verbo, nunca conheceu a palavra divina, jamais entrou na corrente do som. O materialismo e o ateísmo são gerados na mente, são formas da mente, formas ilusórias que não têm realidade alguma. O que verdadeiramente é real não pertence à mente, o que certamente é real está além da mente. O importante é independizar- nos da mente para conhecer o real; não para conhecê-lo intelectualmente, mas para experimentá-lo legítima e verdadeiramente.

Ao pormos atenção no que há de desatento, poderemos ver diferentes formas de ceticismo, de incredulidade, de dúvidas, etc. Percebendo-se qualquer dúvida de qualquer espécie, há que fazer sua dissecação, para se ver o que quer de verdade. Uma vez que a tenhamos dissecado totalmente, ela desaparece não deixando na mente rastro algum, não deixando na memória nem o mais insignificante vestígio.

Quando observamos o que há de desatento em nós, vemos também a luta das antíteses na mente. É quando temos de dissecar essas antíteses para ver o que elas têm de verdade. E em outras vezes lembranças, emoções, desejos ou preocupações que se ignoram, que não se sabe de onde vêm nem porque vêm.

Quando vemos realmente a necessidade de chamar a atenção da mente; há um limite a partir do qual nos cansamos da mente, que não quer obedecer de forma nenhuma. Então, nada mais resta do que recriminá-la, falar-lhe duramente, encará-la frente a frente, cara a cara, como a uma pessoa estranha e inoportuna, açoitá-la com o látego da vontade, recriminá-la com palavras duras até que obedeça. Há que se conversar com a mente muitas vezes para que entenda... Se não entender, pois que se a chame à ordem severamente.

É indispensável não se identificar com a mente. Temos de açoitar a mente, subjugá-la, dominá-la... Se ela reagir com violência, tornaremos a açoitá-la. Assim, saímos da mente e chegamos à verdade, àquilo que certamente não é do tempo. Quando chegamos a isso que não é do tempo, experimentamos um elemento que transforma radicalmente. Existe certo elemento transformador que não é do tempo e que somente pode ser experimentado, repito, quando saímos da mente; é quando sentimos esse elemento transformador; lutar intensamente até que se consiga a auto-realização íntima do Ser.

Necessitamos liberar-nos da mente uma e outra vez, e entrar na corrente do som, no mundo da música, no mundo onde ressoa a palavra dos Elohim, onde certamente reina a verdade.

Mas enquanto estivermos engarrafados na mente, que poderemos saber sobre a verdade? O que os outros dizem? Mas e nós, o que sabemos? O importante não é o que os outros dizem e sim o que experimentamos. Nosso problema é, portanto, como sairmos de dentro da mente. Precisamos de sabedoria e de ciência para nos emancipar.

Assim, meus caros irmãos, espero que todos façam consciência do que existe de desatento em vocês. Que sejam capazes de fazer a dissecação de qualquer dúvida, que sejam capazes de dominar a mente, de dialogar com ela cara a cara, de recriminá-la, etc. O objetivo é buscar a quietude e o silêncio mental.

Quando acreditamos que a mente está quieta, quando acreditamos que a mente está em silêncio e no entanto não ocorre nenhuma experiência divina, é porque a mente não está quieta nem em silêncio; no fundo ela continua lutando, no fundo ela continua tagarelando.

Então temos de encará-la e dialogar com ela através da meditação, temos de recriminá-la, interrogá-la. “O que deseja?” E que responda, que explique o que quer.

Digam-lhe: “Mente, por que não ficas quieta? Por que não me deixas em paz? O que é que tu queres?” Ela dará alguma resposta e nós a contestaremos com outra explicação, tratando de convencê-la. Se não quiser se convencer, não restará outro remédio senão submetê-la através da recriminação e do látego da vontade.

Como lhes disse, isto pertence à Segunda Jóia do Dragão Amarelo. O Zen abarca somente a primeira jóia. Estes conhecimentos que lhes estou dando pertencem à segunda jóia. Mais perguntas?

- Mestre, nos indicaram que também se poderia meditar nos opostos. Se tenho uma jovem bonita na mente, devo colocar uma jovem feia. Se vejo uma flor, colocar uma flor murcha... Isso parece dissipá-la... É possível também aquietar a mente, não à força, mas conseguir que fique quieta espontaneamente?

Tudo isso que estás expondo nada mais é do que o fragmento de um ensinamento desconhecido. O que vai mais fundo ainda é o que estou ensinando. Se nos assalta, por exemplo, um pensamento de ódio, uma lembrança malvada, há que tratar de compreender, tratar de ver sua antítese que é o amor. Se há amor para que esse ódio? Qual o objetivo? Surge a lembrança, por exemplo, de um ato luxurioso... Passar pela mente o cálice sagrado e a santa lança e dizer: “Por que profanar o sagrado com meus pensamentos mórbidos?”

Isso no fundo é o que se quer, e depois continua em sua forma, diríamos, esotérica simplesmente. Surge a lembrança de uma pessoa alta, e a vês baixa; isso simplesmente está correto. A chave está na síntese. Saber buscar sempre a síntese. Da tese há que se passar à antítese, mas a verdade não se encontra nem na antítese nem na tese. Na tese e na antítese há discussão e o resultado da discussão é a solução. Isso é exatamente o que se quer: afirmação, negação, discussão, solução. Afirmação de um mau pensamento, negação do mesmo mediante a compreensão do seu oposto. Discussão: há que se discutir para saber o que há de real em um e em outro até chegar à sabedoria e deixar a mente quieta e em silêncio. Eis como se deve praticar.

Tudo isto faz parte das práticas conscientes, da observação do que há de desatento. Mas se simplesmente dizemos que é a lembrança de uma pessoa alta e colocamos na frente uma pessoa baixinha e adeus, isto não está correto. O correto seria dizer: O alto e o baixo são apenas dois aspectos de uma mesma coisa. O que importa não é o alto nem o baixo, e sim o que há de verdade em tudo isso. O alto e o baixo são dois fenômenos ilusórios da mente. Assim, chega-se à síntese, à solução.


Perguntas e Respostas


P - Eu estou atento ao que você está explicando, mas qual é a parte da qual não estou atento, que não tenho atenção? Isso é o que não entendo. Trato de me libertar da mente... O fato de que eu estou captando os pensamentos, as imagens que vêm, as estou analisando para ver que dúvidas contêm, é isto o que se chama atenção?

Aí há atenção, mas o desatento está constituído pelo subconsciente, pelo incoerente, pela quantidade de recordações que surgem na mente, pelas memórias do passado que nos assaltam uma e outra vez, pelos resíduos da memória, etc.

P - E esses, há que se rejeitá-los?

Nem aceitá-los nem rejeitá-los. Tornando-se consciente do que há de desatento, o desatento fica atento, de forma natural e espontânea.

P - Mestre, isso também pode ser feito na vida diária, quando vem um mau pensamento? Fazer meditação em plena vida diária?

Claro que sim. Fazer simplesmente o que é prático. Fazer da vida uma corrente contínua de meditação. Não somente se medita naqueles momentos em que se está em casa, no santuário ou no Lumisial, como também durante o viver diário. A vida assim se converte de fato em uma constante meditação. Assim é como se chega à verdade realmente. Precisamos amadurecer. Há alguma outra pergunta?

P - Podemos pensar que a mente é o ego e a consciência a alma?

Sim. A mente em si é o ego. Convém destruir o ego, assim só restará substância mental.

Pode-se fabricar o corpo mental, porém sempre se terá mente. O importante é libertar-se da mente, tornar-se livre dela. E ficando livre, aprender a agir no mundo do espírito puro sem a mente. Saber viver nessa corrente do som que está além da mente e que não é do tempo. O que há na mente é ignorância. A sabedoria real não está na mente e sim além da mente. A mente é ignorante, por isso cai em tantos erros graves.

P - Mestre, sofre-se muito com a mente. Estou em uma constante batalha com ela.

Todos os seres humanos são amargurados pela mente. Vejam quão néscios são aqueles que fazem propaganda mentalista, aqueles que prometem poderes mentais, que ensinam como dominar as mentes alheias, etc. A mente nunca fez ninguém feliz. A verdadeira felicidade está além da mente. Ninguém pode chegar a conhecer a felicidade enquanto não se tornar independente da mente. Alguma outra pergunta?

P - Quando alguém está sonhando é porque não está atento?

Os sonhos são próprios da inconsciência. Quando alguém desperta a consciência deixa de sonhar. Os sonhos nada mais são do que projeções da mente.

Recordo certo dia em que algo me aconteceu nos mundos superiores. Foi somente um instante de descuido e vi como me saiu da mente um sonho. Ia começar a sonhar, porém reagi dentro do sonho que me escapou por um segundo de descuido. Claro, como me dei conta do que se passou, rapidamente me afastei daquela forma petrificada que escapou da minha própria mente num segundo de descuido. Que tal se eu tivesse permanecido dormindo? Ali teria ficado enredado naquela forma mental, maravilhado. No entanto, quando alguém está desperto, sabe que num momento de desatenção um sonho pode escapar e que pode ficar enredado nele toda a noite até o amanhecer.

P - Eu tive um sonho justamente de quando eu era menina.

Não, aí não houve sonho, houve simplesmente um processo de recordação de sua infância. Isso não é sonho, isso é diferente, isso é algo real, são produtos residuais da memória que escapam da mente; coincidem com o que se viveu na infância. É um processo de recordação. O que importa é despertar a consciência para deixar de sonhar, para deixar de pensar. Este pensar, que é matéria cósmica, é a própria mente. O próprio astral não é mais do que a cristalização da matéria mental, e o mundo físico também é mente condensada. Assim, a mente é matéria, e bastante grosseira, seja no estado físico ou no chamado estado astral, manas como dizem os hindus.

De todas as maneiras, a mente é grosseira e material. O astral não é mais do que mente condensada; o físico também é mente. A mente é matéria, física ou metafísica não importa, e portanto não nos pode fazer felizes. Para se conhecer a autêntica felicidade, a verdadeira sabedoria, precisamos sair da mente e viver no mundo do Ser, isso sim é importante!

P - Mestre, você está confirmando e afirmando o poder criador da mente no mundo físico. Naturalmente que, desde logo, nesses planos inefáveis, a mente é um estorvo; temos de nos libertar dela para funcionar nos mundos superiores.

Não negamos o poder criador da mente. É claro que tudo que existe é mente condensada. Porém, que ganhamos com isso? Por acaso isso nos deu felicidade? Podemos fazer maravilhas com a mente, criar muitas coisas na vida, (os grandes inventos são mente condensada), porém esse tipo de criações nos torna felizes? O que precisamos é de independência; sair desse calabouço da matéria, porque a mente é matéria.

Temos de sair da matéria, viver em função do espírito, como seres, como criaturas felizes, além da mente. A matéria não faz ninguém feliz. A matéria é sempre grosseira, ainda que assuma belas aparências. Ela é dolorosa sempre. O que buscamos é a autêntica felicidade, mas jamais a encontraremos na matéria e sim no espírito. Precisamos nos libertar da mente, a verdadeira felicidade vem a nós quando saímos do calabouço da mente. Isto é o certo! Não negamos que a mente possa ser criadora de coisas. Ela cria inventos, maravilhas, prodígios, mas, por acaso, isso nos dá a felicidade? Quem de nós é feliz? Se alguém for feliz que levante o dedo, gostaria de conhecê-lo. Nós estamos aqui porque buscamos o verdadeiro caminho que irá nos conduzir à felicidade.

Se a mente não nos deu felicidade, temos de sair dela e buscar em outro lugar. Obviamente, a encontraremos no mundo do espírito; mas o que temos de saber agora é como escapar da mente. Este é o objetivo de nossas práticas e de nossos estudos.

P - O chamar a atenção ao inconsciente pelo consciente, pertence também à SEGUNDA JÓIA DO DRAGÃO AMARELO?

Também pertence à SEGUNDA JÓIA DO DRAGÃO AMARELO, isso é óbvio. Em nós há uns 3% de consciência e uns 97% de subconsciência, isso é certo. Então, o que temos de consciente deve se dirigir ao que temos de inconsciente ou subconsciente para recriminá-lo, para fazer com que veja que deve se converter em consciente. Porém, há necessidade de que a parte consciente recrimine a parte subconsciente para que o subconsciente faça-se consciente. Isto de que a parte consciente se dirija à parte subconsciente é um exercício importante que pode ser praticado na aurora. Assim, as partes inconscientes pouco a pouco irão se tornando conscientes.

P - Não mais do que isso? Até parece Davi contra Golias, os 3% contra os 97%.

As partes subconscientes não vão se tornar conscientes de imediato. Tudo é um processo, um longo processo... porém, por fim, se consegue...

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