O material do Prajna-Paramitá é profundamente esotérico, e consiste em discursos do Buda pronunciados no Pico do Abutre, para seus discípulos principais e para ouvintes super-humanos, devas, etc.
O Grande Mestre Nagarjuna, que viveu uns quinhentos anos depois da passagem do Buda pela Terra, foi o primeiro que enunciou publicamente as doutrinas concernentes ao Vazio. De acordo com Nagarjuna, foi o próprio Buda Sakyamuni que compôs e colocou estes ensinamentos sob a custódia dos Nagas (Serpentes de Sabedoria), que as ocultaram nas profundidades de um grande lago ou mar, até que os homens fossem capazes de compreendê-las.
A Doutrina do Shunyatá implica que o Verdadeiro Conhecimento só é acessível a uma mente iluminada, liberada da ignorância e da ilusão, e que transcende o mundo das representações e das aparências. O Prajna-Paramitá é considerado "a Mãe dos Bodhisattvas", pois os faz nascer e os aperfeiçoa. Assim, é associado à Divina Shakti e ao poder serpentino da Mãe Kundalini.
Com relação à superioridade do Prajna-Paramitá, um manuscrito tibetano diz: "Se um Boddhisttva praticasse intensamente todos os Cinco Paramitás, a saber, Dána Paramitá (ilimitada caridade), Shila Paramitá (ilimitada moralidade), Kshanti Paramitá (ilimitada paciência), Virya Paramitá (ilimitada diligência),e Dhyana Paramitá (ilimitada meditação), e não chegasse a praticar o Sexto, o Prajna-Paramitá, seria incapaz de alcançar o Conhecimento Total"... No entanto, o texto diz que os outros Cinco são necessários para preparar o terreno para o Sexto, e o Sexto chega para liberar o Bodhisattva do apego aos outros Cinco.
De acordo com o Prajna-Paramitá, contudo, a Liberação deve ser alcançada com o único propósito de percorrer o caminho superior, o sublime Caminho do Bodhisattva. Asanga diz a esse respeito: "Mediante o domínio supremo, conquistou a compreensão e pôs outra vez sob seu governo o mundo, do qual se liberou. Seu único deleite é procurar a liberação dos seres. Caminha pela existência como um leão".
A seguir, apresentaremos a Essência do Prajna-Paramitá. Este pequeno texto tibetano é um resumo abreviado dos ensinamentos do Prajna-Paramitá.
A Conquistadora, a Essência da Sabedoria Transcendental" (Na linguagem da Índia, "Bhagavati Prajna-Paramitá Hridaya".)
Assim escutei: Uma vez, o Conquistador, no meio da grande congregação da Sangha, no Pico do Abutre, estava sentado, absorto em um Samádhi chamado Iluminação Profunda.
Ao mesmo tempo, o Bodhisattva, o Grande Ser (Maha-Sattva), Arya Avalokiteswara, sentou-se para meditar sobre a profunda doutrina do Prajna-Paramitá, no sentido de que os cinco agregados são da natureza do Vazio.
Então, inspirado pelo poder de Buda, o venerável Shariputra se dirigiu ao Bodhisattva Avalokiteswara desta maneira:
Como um devoto, desejoso de praticar as profundas doutrinas do Prajna-Paramitá, poderá compreendê-las?
Depois de escutar a pergunta, o Bodhisattva, o Grande Ser, Arya Avalokiteswara, formulou a resposta.
Shariputra, qualquer devoto, filho ou filha espiritual, desejoso de praticar as profundas doutrinas do Prajna-Paramitá, deve praticá-las da seguinte maneira:
Os Cinco Agregados devem compreender-se como sendo natural e totalmente o Vazio.
As Formas são o Vazio e o Vazio são as Formas; nem as Formas nem o Vazio são separáveis, nem as Formas diferem do Vazio.
Do mesmo modo, a Percepção, o Sentimento, a Vontade e a Consciência são o Vazio.
Assim, Shariputra, todas as coisas são o Vazio, sem características, Não-Nascido, sem impedimentos, impoluto, sem manchas, interminável e não-cheio.
Sendo assim, Shariputra, o Vazio não tem forma, nem percepção, nem sentimento, nem volição, nem consciência, nem olho, nem ouvido, nem nariz, nem língua, nem corpo, nem mente, nem forma, nem cheiro, nem som, nem gosto, nem tato, nem qualidade.
Onde não há olho não há desejo, e assim sucessivamente até "não há consciência de desejo".
Não há ignorância, não há derrota da Ignorância, e assim sucessivamente até não há decadência e não há morte, e não há derrota da decadência e da morte.
Do mesmo modo, não há pesar, não há mal, não há impedimento, não há Caminho, não há Sabedoria nem qualquer logro ou malogro.
Shariputra, sendo isso assim, pois inclusive os Bodhisattvas nada têm a alcançar, confiando no Prajna-Paramitá e morando nele, não existe obscurecimento mental (da Verdade) e, portanto, não há temor, e, ultrapassando largamente os caminhos ou doutrinas errôneas, o praticante alcança com sucesso a liberação.
Assim também todos os Budas alcançaram o supremo, puríssimo e perfeitíssimo Estado Búdico dependendo deste Prajna-Paramitá.
E agora pronunciamos o Mantra do Prajna Paramitá, o Mantra da Grande Lógica, o Mantra supremo, o Mantra que faz alguém igualar-se com Aquilo que não pode ser igualado, o Mantra que suaviza todo pesar e que, não sendo falso, se conhece como verdadeiro, o Mantra do Prajna-Paramitá.
GATE GATE PARA-GATE PARA-SAM-GATE BODHI SWAHA
Shariputra, um Bodhisattva deve compreender o Prajna-Paramitá desta maneira.
Então o Conquistador (o Buda) despertou do Samádhi e disse ao Bodhisattva Avalokiteswara: "Bem feito, bem feito. Isto é assim, isto é assim. Tal como mostrastes deve ser compreendido o Prajna-Paramitá. Os Tathagathas também estão satisfeitos com isto"
Desta maneira, havendo o Conquistador pronunciado seu mandato, Shariputra, o Bodhisattva Avalokiteswara, e todos os seres ali reunidos, devas, homens e o mundo todo, se regozijaram e louvaram as palavras do Conquistador.
Isto completa a Essência da Maravilhosa Sabedoria Transcendental.