São gente pacífica, de comportamento doce; suas relações interpessoais chegaram a tal grau de superação que os povos que os rodeiam chegam a interpretá-lo como produto de uma magia especial. Os Senoi se riem interiormente de tais crenças, mas não fazem nada para desmenti-las, pois lhes são muito úteis para manter a paz, tanto com os de fora como dentro da comunidade.
O que os Senoi têm, na realidade, é um profundo conhecimento dos sonhos, aos quais atribuem valor decisivo. São os sonhos que ditam o momento e o modo de levar a cabo cada acontecimento importante da vida; por isso sua interpretação constitui a principal ocupação da tribo. O resultado, segundo os estudos efetuados por alguns investigadores, é uma sociedade na qual praticamente não existe agressão ou violência.
Desde a mais tenra idade se ensina às crianças a contar seus sonhos, instruindo-as sobre o método de controlá-los. Muitos afirmam que os Senoi devem a isso sua estabilidade psíquica e social.
Ainda que estejamos aqui no Ocidente, é importante que também comecemos a entender a importância que os sonhos podem chegar a ter para melhorar nossa relação social com as outras pessoas e até conosco mesmos.
Devemos começar, paulatinamente, a adquirir uma disciplina para não esquecer as situações e acontecimentos que vivemos fora do corpo, enquanto este dorme (ver mais na monografia intitulada “A Ioga do Sonho”).
Com isto não estamos afirmando que todos os sonhos possam chegar a ser transcendentes para nossa vida, pois já dissemos que muitos deles são o produto desse mundo de desejos que se oculta no subconsciente humano, como dissera Freud.
Não devemos esquecer que o mamífero racional que povoa hoje os cinco continentes é, em 97%, material egóico ou, em outras palavras, que a lucidez e o discernimento dados pela Consciência estão só uns 3% livres; o restante está condicionado terrivelmente por esse conjunto de elementos indesejáveis que temos dentro de nós: ira, cobiça, luxúria, inveja, orgulho, preguiça, gula, etc., etc., etc.
Os sonhos relacionados com este subconsciente freudiano são os que se encontram vinculados, por exemplo, ao centro Instintivo-Motor, isto é, são o eco de coisas vistas no dia, de simples sensações e movimentos, mera repetição astral do que vivemos diariamente...
Também algumas experiências emocionais, como o medo, que tanto mal faz à humanidade, costumam ocorrer nestes sonhos caóticos do Centro Instintivo-Motor.
Existem então sonhos intelectuais, emocionais, motores, instintivos e sexuais: sonhos que se relacionam com os cinco centros inferiores da máquina humana.
Contudo, não é demais recordar que todo sonho, por absurdo ou incoerente que seja, tem algum significado, pois nos indica não só o centro psíquico ao qual se acha associado, mas também o estado psicológico de tal centro.
A própria História nos conta, ao longo dos milênios, como os grandes malvados e tiranos eram assaltados por sonhos maus. Popularmente se diz que os bons e piedosos dormem “o sono dos justos”. Recordemos, por um instante, os tormentos que a mulher de Pôncio Pilatos sofreu em sonhos na noite antes que o procurador romano condenasse Jesus Cristo à morte (Mateus 27, 19).
Assim diz o refrão popular: “A consciência tranquila é o melhor travesseiro”.
Realmente, todo aquele que queira conhecer integramente suas profundezas psicológicas deve converter-se em espião de seus próprios sonhos.
Quais são as atividades mentais durante o sonho? Que emoções nos agitam e comovem? Quais são nossas atividades fora do corpo físico? Que sensações instintivas predominam? Já reparamos nos estados sexuais que temos durante os sonhos?
Devemos ser sinceros conosco mesmos. Com justa razão disse Platão: “Conhece-se o homem por seus sonhos”.
Muitos penitentes que se presumiam castos foram submetidos a provas nos mundos internos; falharam no centro sexual e caíram em poluções noturnas.
“Por tudo quereis ser responsáveis, exceto por vossos sonhos. Que miserável debilidade, que falta de coragem e de lógica. Nada é mais propriedade vossa que vossos sonhos”, chegou a afirmar em tom enfático o grande filósofo alemão Friedrich Nietzsche.
Inquestionavelmente, no Adepto perfeito, os cinco centros psíquicos - intelectual, emocional, motor, instintivo e sexual - funcionam em plena harmonia com o Infinito.
A questão do funcionamento equivocado dos centros é um tema que exige estudo por toda a vida, através do exame de si mesmo em ação e do estudo rigoroso dos sonhos.
Não é possível chegar imediatamente a compreender os centros e seu trabalho correto ou equivocado; necessitamos infinita paciência...
Toda a vida se desenvolve em função dos centros e é controlada por estes.
Nossos pensamentos, sentimentos, ideias, esperanças, temores, amores, ódios, ações, sensações, prazeres, satisfações, frustrações, etc., encontram-se nos centros.
O descobrimento de algum elemento inumano em qualquer dos centros deve ser motivo mais que suficiente para o trabalho esotérico.
Todo defeito psicológico deve ser previamente compreendido, mediante a técnica da meditação, antes de se proceder a sua eliminação.
Extirpar, erradicar, eliminar qualquer elemento indesejável só é possível invocando o auxílio de “TONANTZIN”, a Divina Mãe KUNDALINI, uma variante de nosso próprio Ser, o FOHAT particular de cada um de nós.
Assim é como vamos morrendo de instante em instante; só com a morte advém o novo...
Trecho da Conferência “A Transcendência dos Sonhos” – Samael Aun Weor