Domingo, 15 Agosto 2021

A Psicossomática da Vertigem

Escrito por Rüdger Dahlke
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Não há muito que interpretar na vertigem [Schwindel = vertigem em alemão, e também mentira, engano]: Nomen est omen.

A vertigem se remete a um engano mais profundo. Ela pode ser entrevista no protótipo do sintoma, o enjoo que se sente em um navio ou quando se viaja.

Embora seja muito frequente durante viagens por mar, ela surge em viagens de carro ou ônibus, em parques de diversões e até mesmo em elevadores. As condições para seu aparecimento são, em princípio, sempre idênticas. Uma situação típica se dá mais ou menos da seguinte maneira: a pessoa está viajando de navio e senta-se no convés para comer. Os olhos veem uma mesa posta diante de si, firmemente assentada no chão e imóvel. Em seguida, eles anunciam à Central: “Tudo em paz e em ordem". Ao mesmo tempo, entretanto, o órgão do equilíbrio, lá de dentro do ouvido interno, avisa: "Movimentos de balanço".

Surge então uma espécie de situação double-bind, a qual não tem solução para a Central. Ou predomina a calma ou o movimento, ambos ao mesmo tempo não são evidentemente possíveis. Nessa situação, o organismo incorpora o engano evidente para com isso mostrá-lo à consciência. Aqui fica especialmente explícito como a doença o torna honesto. O sintoma reproduz no próprio corpo do afetado aquilo que ele não pode reconhecer fora, ou seja, que o chão está oscilando sob seus pés.

No enjoo que ocorre durante as viagens essa informação é inofensiva, porque de fato é o chão concreto que se move. Em sintomas como a esclerose múltipla, o sintoma mostra igualmente que o chão sobre o qual se está oscila. Neste caso, entretanto, isso é entendido em sentido figurado, o que é mais ameaçador.

No enjoo das viagens, o corpo ao mesmo tempo indica com o mal-estar que ele está a ponto de vomitar e que gostaria de sair dessa situação o mais rapidamente possível. Os doentes, no sentido mais verdadeiro da palavra, não se sentem em seu elemento. Ao contrário, eles estão entre elementos, vivem na ilusão de ainda estar pisando a confiável e tranquila terra enquanto há muito estão balançando ao sabor das ondas do mar.

Eles deveriam admitir essa situação inteiramente, isto é, com todos os sentidos, e entregar-se totalmente ao elemento aquático que os está levando, e rapidamente voltariam a se sentir bem. Caso eles, vomitando, não entregassem tanto de si concretamente, poderiam entregar-se à situação em sentido figurado.

O sintoma contém a solução em si mesmo e força o afetado a vomitar sobre a amurada. Lá seus olhos veem os movimentos da água e do navio, e as informações voltam a coincidir totalmente com as do ouvido interno. A vertigem e o mal-estar podem passar. Caso, em um veleiro, se entregue o timão nas mãos da pessoa que sofre de vertigens, a honestidade volta a se estabelecer imediatamente: ele precisa concentrar-se na água e os olhos percebem seu engano. Esta é também a razão pela qual nadar jamais causa enjoo.

E o motorista de um carro não é jamais ele mesmo afetado, mas sempre somente os passageiros. São sobretudo as crianças que tendem a enjoar. Ao contrário do motorista elas em geral não ficam olhando para a rua, mantendo os olhos nas brincadeiras que estão fazendo no interior do carro.

É justamente essa situação que permite o surgimento do duplo sentido. As mensagens dos órgãos dos sentidos afetados são incompatíveis. Com o mal-estar que sentem, as crianças naturalmente mostram também que não estão exatamente em seu elemento no carro. Uma solução simples seria movê-las, fazendo com que olhem para diante mostrando-lhes alguma coisa interessante.

Um outro método, utilizado em todos os casos correspondentes, consiste em desligar temporariamente as mensagens enganosas simplesmente fechando os olhos. Então, os movimentos que estavam provocando o desagradável enjoo tornam-se agradáveis e fazem com que a pessoa adormeça.

Ela está novamente em seu elemento, pois a vida começou exatamente assim na bolsa materna, razão pela qual muitos adultos gostam de ser embalados como crianças. O importante é fechar os olhos, abandonar o controle e entregar-se a essa situação primordial.

O mesmo princípio é valido para todos os tipos de vertigem, até mesmo para a muito mais frequente vertigem de circulação, que surpreende as pessoas com pressão baixa quando elas se levantam rápido demais. Sua vertigem está no "rápido demais". Elas agem como se quisessem colocar-se em um novo dia ou em uma nova situação com impulso e energia. Quando isso não é sustentado também por uma postura interna, o corpo precisa revelar esse engano, encarnando-o. Os afetados voltam a sentar-se e têm uma nova chance na velocidade que lhes corresponde, mais lenta mas também mais honesta.


Livro A Doença como Linguagem da Alma - Rüdger Dahlke – A Vertigem

Informações adicionais

  • Complexidade do Texto: Avançado
Ler 397 vezes Última modificação em Quarta, 08 Setembro 2021