Quarta, 05 Mai 2021

O Polo Oposto

Escrito por Rüdger Dahlke
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O caminho de tratamento sobre o polo oposto tal como é tentado na alopatia não pode, a longo prazo, levar à solução de uma problemática se tenta também ganhar tempo no curto prazo.

Na interpretação, ao contrário, dar uma olhada no polo oposto, no outro extremo, provou ser muito útil.

Os opostos estão muito mais próximos um do outro do que nossa maneira de pensar usual percebe. Novamente, a sabedoria popular pode nos dar indicações partindo, por exemplo, de que “os psiquiatras estão loucos", sendo que no imaginário burguês ideal eles justamente deveriam ser as pessoas mais saudáveis, mentalmente falando.

Quando se pensa que um psiquiatra decidiu por livre e espontânea vontade passar metade de sua vida em uma instituição para doentes mentais, a sabedoria popular poderia muito bem ter razão. Uma pessoa precisa sentir um enorme fascínio pelos tortuosos desvios da alma para escolher essa profissão.

Mas de onde viria essa predileção, senão do fato de estar a própria pessoa afetada? Isso não é nenhuma desvantagem, mas a garantia mesma da possibilidade de realização do médico de almas.

Por essa razão, tampouco é de surpreender que muitos médicos exibam traços de hipocondria. Eles, de livre e espontânea vontade, passam metade da vida em um hospital ou em um consultório. Eles, exatamente como as outras pessoas, o fazem porque têm medo de estar doentes e ter que morrer.

É justamente uma sorte que a motivação para a profissão de médico surja do desejo de livrar de uma vez por todas o mundo e principalmente a si mesmo da doença. Dessa maneira, o compromisso não esmorece nem mesmo sob as condições mais difíceis.

Outros padrões profissionais também exibem essa à primeira vista surpreendente união de posições opostas. Caso o criminalista não pensasse de maneira tão criminosa como o criminoso, jamais poderia apanhá-lo.

Caso o missionário tivesse encontrado Deus em seu coração, não precisaria inculcá-lo em outras pessoas de maneira tão obstinada. No fundo de seu coração ele é um descrente e, ao converter os outros, tenta converter a si mesmo.

No que se refere aos sintomas, as posições contrárias também se igualam. Trata-se de um único e mesmo tema, exatamente como criminalista e criminoso. As pessoas que sofrem de prisão de ventre e os pacientes com diarreia elaboram em seus intestinos a temática prender/soltar.

Quando sofremos de pressão arterial alta, pacientes com pressão baixa podem nos elucidar muita coisa a respeito de nosso próprio problema. No centro de ambos os casos está a questão de qual é o espaço ocupado pela própria energia vital.

Isso se torna ainda mais evidente no tema conflitante compartilhado por alcoólicos e abstinentes. Um agarra avidamente todos os copos que vê, o outro censura todos os que o fazem. A vida de ambos gira ao redor de um tema: o álcool.

Quanto à sua saúde anímico-espiritual, o abstinente se encontra igualmente ameaçado. É verdade que muitas vezes o alcoólico coloca a culpa de suas misérias nos outros, mas em geral ele ainda tem consciência de sua situação pouco saudável. Isso é mais difícil no que se refere ao abstinente e ao seu ambiente.

Geralmente ele está mergulhado tão profundamente na projeção, está tão convencido da culpa dos outros que não pode mais reconhecer seu próprio problema. Perdido em sublimes teorias sobre livrar a humanidade do vicio ou algo do mesmo estilo, ele não pode mais ver seu próprio extremismo.

Neste último exemplo pode ficar claro que qualquer carga extrema em relação a um tema determinado é suspeita. Na maioria dos casos é justamente aí, onde menos se presume, que nos encontramos próximos do polo oposto.


Livro A Doença como Linguagem da Alma – Rüdger Dahlke – O caminho do reconhecimento sobre o polo oposto

Informações adicionais

  • Complexidade do Texto: Intermediário
Ler 380 vezes Última modificação em Domingo, 30 Mai 2021