Domingo, 18 Abril 2021

A Doença como Ritual

Escrito por Rüdger Dahlke
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A doença é a corporalização problemática de um padrão. Por meio dela, o paciente é forçado a passar por esse padrão ao qual resiste e que não aceita conscientemente.

A vivência consciente de um padrão é um ritual. Um acontecimento patológico é, consequentemente, um ritual inconsciente, ou seja, que mergulhou na sombra.

O primeiro passo em direção à cura é ir buscar esse ritual na consciência. lima ajuda substancial para isso é fazer aquilo que o sintoma de qualquer maneira nos força a fazer, mas conscientemente e de livre e espontânea vontade. No exemplo da obesidade tratava-se, por exemplo, de petiscar conscientemente.

A medida que se incorpora desperta e atentamente todos os doces e guloseimas, surge um sentimento em relação ao prazer implícito. Isso poderia resultar em um ritual de petiscar divertido e prazeroso. O importante é não permitir que surja nenhum sentimento de culpa. O sentimento de culpa vem do polo alopático e, neste caso, somente poderia prejudicar.

Quando, em vez de se abarrotar de sentimento de culpa, começa-se a praticar rituais conscientes de prazer, a pressão do sintoma cede. Por um lado, com o prazer consciente já não é preciso comer tanto; por outro, aceita-se melhor o aumento de peso resultante. Agora se sabe o que se conseguiu com aquilo.

Quando se mergulha na corrente do prazer, outros planos de prazer também se abrem como que por si mesmos. No Reino de Vênus há, ao lado da gula, outras possibilidades correspondentes. O prazer através de outros sentidos alivia o estômago sobrecarregado sem abandonar o tema da sensualidade. O prazer através dos olhos, dos ouvidos, do nariz e da pele preenche mais ou menos o mesmo padrão.

Como órgão de Vênus, a pele, nesse âmbito, é sem dúvida o mais apropriado, ao lado do paladar. A melhor alternativa para comer seria portanto o prazer sensual do tato. Beijar pode substituir de maneira bastante adequada a avidez por doces, já que o prazer aqui parte da mesma mucosa. Carícias transmitem um sentimento de bem-estar, de maneira semelhante a quando se acaricia a barriga após uma boa refeição.

Criar um ritual consciente a partir do padrão inconsciente do sintoma é o primeiro passo. O passo seguinte tem por objetivo trocar os tristes planos de elaboração por planos de resgate plenos de desenvolvimento. Isso resulta mais fácil na mesma medida em que estes últimos se ajustam ao padrão, ou seja, ao princípio primordial afetado.

O padrão não se deixa modificar, mas sim o plano de sua elaboração ou resgate. Existe um verdadeiro abismo separando esses dois conceitos. A elaboração é sobretudo labor, ou trabalho, enquanto o resgate tem a vantagem da solução a seu favor [em alemão Einlösung = resgate / Lösung = solução].

No exemplo anterior de obesidade, a elaboração do tema, neste caso naturalmente uma elaboração prazerosa, seria talvez um programa de massagens de que se desfruta para adequar-se às exigências do princípio de Vênus. Massagens cansativas ou dolorosas não seriam apropriadas ao princípio venusiano. O amor, que inclui o corpo, a alma e a mente seria, ao contrário, um resgate e até mesmo a redenção do tema.

Resgates não almejam um objetivo, eles não acontecem para que se consiga alguma coisa, mas partem de uma necessidade interior e afetam a pessoa em sua totalidade. Por essa razão, eles preenchem o princípio de maneira abrangente e fundamental.

A elaboração consciente está sujeita ao perigo de destapar apenas âmbitos isolados. A massagem, da mesma maneira que petiscar, afeta somente o plano do prazer corporal. A elaboração inconsciente também pode sem dúvida abranger toda a pessoa, mas ela tocará o tema de uma maneira menos profunda.

Caso se tenha um problema não consciente com o princípio primordial de Marte, pode-se por exemplo elaborar sua agressividade como espectador nos campos de futebol. Mas mesmo estando lá de corpo e alma, o tema não se deixa solucionar por meio de gritos de batalha. Quem, ao contrário, elabora seu tema de maneira consciente, tem a vantagem de conhecê-lo.

Faz sentido que o afetado, por exemplo, decida praticar uma variedade de luta para dar vazão à sua agressividade; o perigo está porém em que ele participe apenas com o corpo, mas não com a alma. Um resgate seria que ele se deixasse arrebatar, tomasse sua vida de assalto, se confrontasse corajosamente com as tarefas pendentes e vivesse sua vida de maneira resoluta.

Faz parte de um ritual a consciência de todos os planos envolvidos. Além disso, os rituais são tanto mais eficazes quanto mais planos compreendem. Disso resulta também a pouca eficácia relativa da doença para o resgate de um tema. Na maioria das vezes os sintomas somente levam à elaboração, já que falta a consciência anímico-espiritual. Caso esta seja trazida para o sintoma e se transforme na sintomática da doença em um ritual consciente que abranja todos os planos implicados, aumentam as chances de se resgatar o tema.

Esta é também a chave para se fazer resgates a partir de tentativas de elaboração. No exemplo acima, seria possível dedicar-se de maneira tão consciente à variedade de luta escolhida que ela chegasse a abranger também a alma e a mente e se tornasse arte marcial, que a partir de sua filosofia abrange toda a vida, da superfície às raízes.

A partir daí crescerá, como que por si mesma, uma abertura em relação ao tema da agressão que termina por abrir caminho para a energia marciana também em outros âmbitos da vida e leva o afetado a ousar viver de maneira corajosa. Onde os sintoma incitam a dar caráter ritual à vida, eles colaboram não somente para o autoconhecimento, mas também para a autorrealização, já que o objetivo do caminho do desenvolvimento é transformar toda a vida em um ritual consciente.


Livro A Doença como Linguagem da Alma - Rüdger Dahlke – Doença como Ritual

Informações adicionais

  • Complexidade do Texto: Intermediário
Ler 348 vezes Última modificação em Quarta, 05 Mai 2021