A problemática da projeção, nossa tendência de transportar tudo o que é incômodo e difícil para fora e lá também elaborá-lo e combatê-lo, prova ser prejudicial também no que se refere à interpretação dos sintomas. Ao mesmo tempo que reconhecemos claramente o cisco no olho dos outros, de bom grado deixamos de ver a trave que temos no nosso. A experiência com A Doença como Caminho resultou em um padrão notável. Às interpretações de sintomas verbalizadas por amigos e conhecidos contrapõe-se um grande "Mas" no que se refere aos próprios sintomas. O que tinha funcionado de maneira tão convincente com os parceiros ou sogros, de repente falhava.
Interpretar os sintomas da doença é trabalhar nas sombras e, justamente por essa razão, freqüentemente desagradável. Pode-se inclusive concluir a partir disso que as interpretações orais tropeçam na recusa espontânea. Se uma interpretação de repente parece agradável, ela ou não é correta ou, de qualquer forma, não é suficientemente profunda. Nesse caso, o mais simples é aprender com os sintomas alheios e então aplicar esses conhecimentos em si mesmo. O conceito somente adquire sentido como consequência desse difícil passo. Mas então ele transforma-se em um verdadeiro caminho de autoconhecimento e autorrealização.
Em relação a outros sistemas de interpretação, especialmente do âmbito esotérico, o simbolismo dos sintomas tem a vantagem de não deixar praticamente qualquer margem para mal-entendidos quanto à área afetada. O risco de interpretar uma úlcera do estômago como sendo um sinal de um iminente processo de fulminação imediata é bem menor. O corpo confirma que se trata aqui de uma tarefa de aprendizado palpável, substancialmente enraizada no mundo material.
Livro: A Doença Como Linguagem da Alma – Capítulo 1 – Rudiger Dahlke