Terça, 15 Outubro 2024

Como Enfrentar o Mal do Mundo – Ramakrishna

Escrito por Sabedoria Milenar
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Deixa eu contar uma história para todos vocês, do grande mestre Ramakrishna, sobre como devemos evitar o mal vivendo em meio a uma sociedade tão complexa.

Como podemos aplicar os ensinamentos da bondade e ao mesmo tempo preservar a nossa integridade.

Certa vez um devoto perguntou ao mestre: "Senhor, se um homem estiver a ponto de fazer mal a alguém ou realmente o faz, devemos ficar quietos?"

O Mestre então assim contestou:

"Uma pessoa que vive em sociedade, deveria criar a impressão de muita força, a fim de se proteger contra aqueles de mente perversa, mas não deve ferir ninguém antecipando um mal que eles poderiam lhe fazer.

Ouçam uma história. Alguns jovens pastores tinham o hábito de levar suas vacas para um campo onde vivia uma serpente, terrivelmente venenosa. Todas as pessoas viviam alertas com medo dela.

Um dia, um santo estava passando pelo campo. Os rapazes correram para ele e disseram-lhe: ‘Santo homem, por favor não vá por esse caminho. Uma cobra venenosa vive ali.’

‘O que tem isso demais, meus filhos?’ disse o santo. ‘Não tenho medo de cobra. Conheço alguns mantras.’

Assim falando, continuou seu caminho em direção ao campo, mas os pastores com medo, não o acompanharam. Nesse ínterim a serpente dirigiu-se para ele rapidamente, com a cabeça erguida. Assim que ela chegou, recitou um mantra e a cobra deitou-se a seus pés como se fosse uma minhoca.

O santo disse: ‘Olhe aqui. Por que você vive fazendo mal a os outros? Venha, vou lhe dar uma palavra sagrada. Repetindo-a aprenderá a amar a Deus. Por fim O realizará, e dessa maneira se libertará de sua natureza violenta.’

Assim falando, ensinou-lhe uma palavra sagrada e iniciou-a na vida espiritual.

A serpente curvou-se ante seu mestre e disse: ‘Reverenciado senhor, como vou fazer a prática espiritual?’

‘Repita a palavra sagrada’, disse o mestre, ‘e não faça mal a ninguém.’

Como já estava de saída, o santo disse: ‘Eu a verei de novo.’

Passaram-se alguns dias e os pastores notaram que a serpente não mordia mais. Então jogaram muitas pedras nela, mas mesmo assim ela não demonstrou raiva; comportava-se como se fosse uma minhoca.

Um dia um dos rapazes aproximou-se, segurou-a pela cauda, rodopiou-a no ar, lançou-a contra o chão várias vezes e jogou-a longe. A serpente vomitou sangue e ficou inconsciente. Estava zonza. Não podia se mover. Então julgando-a morta, os rapazes foram embora.

Tarde da noite a serpente recobrou os sentidos. Lentamente e com muita dificuldade, conseguiu arrastar-se até a sua toca; seus ossos estavam quebrados e mal podia se mexer.

Passaram-se muitos dias. A serpente transformou-se num esqueleto coberto de pele. De vez em quando, à noite, saía para procurar alimento. Com medo dos rapazes, não saía do buraco durante o dia. Desde que recebera a palavra sagrada do mestre tinha deixado de fazer mal a os outros. Mantinha-se viva graças a detritos, folhas e frutos que caíam das árvores.

Mais ou menos um ano depois, o santo voltou e perguntou pela cobra. Os pastores disseram que estava morta. Ele não conseguiu acreditar neles. Sabia que ela não morreria antes de ter colhido o fruto da palavra sagrada, com a qual havia sido iniciada.

Saiu procurando-a aqui e acolá, chamando-a pelo nome que lhe havia dado. Ouvindo a voz do mestre, a serpente saiu da toca e curvou-se com muita reverência diante dele.

‘Como vai você?’ perguntou-lhe o santo.

‘Estou bem, senhor’ respondeu a serpente.

‘Mas’, perguntou o mestre, ‘por que você está tão magra?’

A cobra respondeu: ‘Reverenciado mestre, o senhor mandou que eu não fizesse mal a ninguém. Por isso, tenho vivido somente de folhas e frutos. Talvez seja por esta razão que eu tenha ficado mais magra.

"A cobra havia desenvolvido a qualidade de Sattva; não podia ficar com raiva de ninguém. Esquecera-se completamente de que os pastores quase a haviam matado.

O santo disse: ‘Não pode ter sido uma simples falta de comida que a reduziu a este estado. Deve haver uma outra razão. Pense um pouco.’

Então a serpente lembrou-se de que os rapazes a haviam atirado ao chão. Disse: ‘Sim, reverenciado mestre, agora me lembro. Os rapazes um dia me jogaram violentamente contra o chão. Afinal de contas, são ignorantes.

Não compreenderam a grande mudança que se operou em minha mente.

Como poderiam saber que eu não ia mais morder nem fazer mal a ninguém?’

O Santo exclamou: ‘Que vergonha! Você é uma boba! Não sabe proteger-se. Eu lhe mandei que não mordesse, mas não a proibi de sibilar. Por que não os atemorizou com seu silvo? Você deve, portanto, silvar para as pessoas más. Deve assustá-las, senão elas lhe farão mal.

Jamais injete veneno nelas. Ninguém deve fazer mal a os outros.

Na criação de Deus há uma variedade de coisas: homens, animais, árvores, plantas. Entre os animais, há alguns bons, outros maus. Há animais ferozes como o tigre. Algumas árvores dão frutos doces como o néctar, outras dão frutos venenosos. Da mesma maneira, entre os seres humanos, há bons e maus, santos e pecadores. Há alguns que são devotados a Deus e outros apegados ao mundo.

Nunca deves realizar o mal, mas tem a obrigação de se proteger do mal que há no mundo.

Logo após essa fala do mestre, um silêncio tomou conta de todos e os discípulos foram convidados a uma profunda reflexão.


Veja o vídeo sobre esse assunto em nosso canal: https://youtu.be/CnUC-BkwqgQ

Informações adicionais

  • Complexidade do Texto: Intermediário
Ler 3 vezes Última modificação em Terça, 15 Outubro 2024