08 - Disciplina Onírica


Nessa monografia também se fala muito dos Sonhos, porém já são entregues algumas chaves para que o estudante possa experienciar a realidade desses mundos supra-sensíveis. Aqui também se fala da disciplina necessária para que as praticas relacionadas à Yoga dos Sonhos sejam realmente eficazes. Bons estudos!


“É doloroso saber que existem muitos Iniciados que trabalham nos Grandes Templos da Loja Branca enquanto seu corpo físico dorme, e que, entretanto, não recordam nada porque sua memória está atrofiada”.

Samael Aun Weor


Disciplina da Yoga dos Sonhos
O Sonho Tântrico
Prática e Retorno
As Quatro Bem-Aventuranças
O Anjo da Guarda

Disciplina da Yoga dos Sonhos


"Ao despertar do sono normal, todo estudante gnóstico deve fazer um exercício retrospectivo sobre o processo do sonho, para se recordar de todos os lugares que visitou durante as horas do sono. Já sabemos que o Ego viaja muito a lugares onde estivemos, e tudo aquilo que vimos e ouvimos é importante. Os Mestres instruem os discípulos quando estes estão fora do corpo físico.

É urgente saber meditar profundamente e em seguida praticar aquilo que aprendemos durante o sono. É necessário não nos movermos no momento de despertar, porque com esse movimento se agita o astral e se perdem as recordações. É urgente combinar o exercício retrospectivo com os mantrams RAOM – GAOM - cada palavra se divide em duas sílabas. Deve acentuar-se a vogal O. Estes mantrams são para o estudante como a dinamite para o minerador. Assim como o minerador abre caminho através das entranhas da terra com a ajuda da dinamite, o estudante abre a passagem até as memórias do subconsciente com a ajuda desses mantrams.


Os aspirantes que almejam sinceramente a experiência mística direta devem certamente começar pela disciplina da “Yoga do Sonho”. É claro que o Gnóstico deve ser exigente consigo mesmo e aprender a criar condições favoráveis para a recordação e compreensão de todas essas experiências íntimas que acontecem sempre durante o sonho. Antes de nos deitarmos para o descanso dos esforços e fadigas da vida diária, convém dar a devida atenção ao estado em que nos encontramos.

Os devotos que, devido às circunstâncias, levam vida sedentária, realmente nada perdem e muito ganharão se, antes de se deitarem, derem um breve passeio a passos rápidos e ao ar fresco. Esse passeio relaxará seus músculos. Entretanto, convém esclarecer que jamais devemos abusar dos exercícios físicos; precisamos viver harmoniosamente. A ceia, jantar ou refeição final do dia deve ser leve, sem alimentos pesados ou estimulantes, evitando-se cuidadosamente a ingestão de comidas ou bebidas que possam nos tirar o sono. A forma mais elevada de pensar é não pensar; quando a mente está tranquila e em silêncio, livre das preocupações do dia e das ansiedades mundanas, encontra-se então em um estado cem por cento favorável para a prática da Yoga do Sonho.

Quando o Centro Emocional Superior trabalha realmente, acaba, ainda que só por breve tempo, o processo do pensar. É evidente que o referido Centro entra em atividade com a embriaguez dionisíaca. Esse arrebatamento é possível ao se escutar com infinita devoção as sinfonias deliciosas de Wagner, Mozart, Chopin e outros.A música de Beethoven, muito especialmente, é extraordinária para fazer vibrar intensamente o Centro Emocional Superior.

O Gnóstico sincero encontra nela um imenso campo de exploração mística, porque não é música de formas mas de idéias arquetípicas inefáveis; cada nota tem seu significado; cada silêncio, uma emoção superior. Beethoven, ao sentir tão cruelmente os rigores e provas da “noite espiritual”, ao invés de fracassar, como muitos aspirantes, foi abrindo os olhos de sua intuição ao Supernaturalismo misterioso, à parte espiritual da Natureza, a essa região onde vivem os Reis Angélicos desta grande Criação Universal: Tlaloc, Ehecatl, Huehueteotl, etc.

Vejam o “Músico-Filósofo” ao longo de sua vida exemplar: sobre sua mesa de trabalho tem constantemente à vista sua Divina Mãe Kundalini, a inefável Neith, a Tonantzin de Anahuac, a Suprema Ísis egípcia. Disseram-nos que esse Grande Mestre havia colocado aos pés daquela imagem adorável uma inscrição redigida pelo próprio punho, que dizia misteriosa:

“Eu sou a que foi, é e será, e nenhum mortal levantou meu véu”.

O progresso íntimo revolucionário torna-se impossível sem o auxílio imediato de nossa Divina Mãe Tonantzin. Todo filho agradecido deve amar sua Mãe; Beethoven amava profundamente a sua. Fora do Corpo Físico, nas horas do sono, a alma pode conversar com sua Divina Mãe; mas é evidente que devemos começar com a disciplina da Yoga do Sonho.

Precisamos dedicar atenção ao quarto em que vamos dormir; a decoração deve ser agradável; as cores mais desejáveis para os fins que se perseguem - a despeito do que outros autores aconselham - são precisamente as três tonalidades primárias: azul, amarelo e vermelho. Indubitavelmente, as três cores básicas correspondem sempre às três forças primárias da natureza (o Santo Triamazikamno), isto é, o Santo Afirmar, o Santo Negar e o Santo Conciliar. É bom lembrar que as três formas originais desta grande Criação cristalizam-se sempre de forma positiva, negativa e neutra.

A “Causa Causorum” do Santo Triamazikamno encontra-se oculta no elemento ativo Okidanokh; este, em si mesmo, é tão só a emanação do Sagrado Absoluto Solar. É óbvio que a repulsa às três cores primárias, depois da exposição de todas essas razões, equivale, por simples dedução lógica, a cair em um despropósito, em um desatino. A Yoga do Sonho é extraordinária, maravilhosa, formidável; entretanto, é muito exigente.

O quarto deve estar sempre bem perfumado e arejado, mas não se deve deixar nele penetrar o sereno frio da noite. O Gnóstico, depois de uma revisão detalhada de si mesmo e do quarto em que irá dormir, deve examinar sua cama. Se observamos qualquer bússola, podemos verificar por nós mesmos que a agulha aponta para o Norte. É claro que podemos aproveitar conscientemente essa corrente magnética do mundo, que flui sempre de Sul a Norte. Orientemos a cama de forma tal que a cabeceira fique sempre voltada para o Norte; assim, poderemos usar inteligentemente a corrente magnética indicada pela agulha.

O colchão não deve ser nem muito duro nem muito macio; quer dizer, deve ter uma flexibilidade tal que não afete de modo algum os processos psíquicos de quem dorme. Os chiados das molas ou uma cabeceira que range ao menor movimento do corpo constituem um sério obstáculo para essas práticas. Coloca-se sob o travesseiro um caderno ou um bloco de anotações e um lápis, para que possam ser facilmente encontrados no escuro. As roupas de cama devem ser frescas e muito limpas, e deve-se perfumar a fronha com a fragrância preferida.

Depois de cumprir todos esses requisitos, o asceta Gnóstico dará o segundo passo desta disciplina esotérica. Deitar-se-á e, tendo apagado a luz, se colocará em decúbito dorsal (de barriga para cima), com os olhos fechados e as mãos sobre o plexo solar.

Ficará completamente quieto durante alguns instantes e, depois de estar relaxado totalmente, tanto física como mentalmente, concentrar-se-á em Morfeu, o Deus do Sono e dos Sonhos. É inquestionável que cada uma das partes isoladas do nosso Ser Real exerce determinadas funções, e é justamente Morfeu (não confundir com Orfeu) o encarregado de nos educar nos Mistérios do Sonho. Seria totalmente impossível traçar um esquema do Ser; mas todas as diversas partes espiritualizadas de nossa “presença comum” desejam a perfeição absoluta de suas funções. Quando nos concentramos em Morfeu, este se alegra pela brilhante oportunidade que lhe oferecemos.

É indispensável ter Fé e saber suplicar; devemos pedir a Morfeu que nos esclareça e nos desperte nos Mundos Supra-sensíveis. A esta altura, uma sonolência bastante especial começa a apoderar-se do Gnóstico esoterista, e ele então adota a Postura do Leão.

“Deitado sobre seu lado direito, com a cabeça dirigida para o Norte, puxa as pernas para cima lentamente até que os joelhos fiquem dobrados. Nesta posição, a perna esquerda apoia-se sobre a direita; a seguir, coloca a face direita sobre a palma da mão direita e deixa o braço esquerdo descansar sobre a perna do mesmo lado”.

Quando despertamos do sono normal, não devemos nos mexer, porque, com tal movimento, é claro que nossos “valores” se agitam e perdem-se as lembranças. O exercício retrospectivo torna-se, sem dúvida, necessário nesses instantes, quando desejamos recordar com total precisão todos e cada um de nossos sonhos. O Gnóstico deve anotar metodicamente os detalhes do sonho ou sonhos no caderno ou no bloco colocado sob o travesseiro para este fim. Assim poderá ter um registro minucioso sobre seu progresso interno na Yoga do Sonho.

Ainda que restem na memória apenas vagos fragmentos do sonho ou sonhos, estes devem ser cuidadosamente registrados. Quando nada permaneceu na memória, devemos iniciar o exercício de retrospecção com base no primeiro pensamento que tivemos no instante exato em que acordamos; obviamente, aquele pensamento está intimamente associado ao último sonho. Precisamos esclarecer solenemente que o exercício de retrospecção principia antes de havermos retornado completamente ao estado de vigília, quando ainda nos encontramos no estado de sonolência, cuidando de seguir conscientemente a seqüência do sonho.

A prática do exercício se inicia sempre com a última imagem que tivermos percebido instantes antes de voltar ao estado de vigília. Terminamos este capítulo afirmando solenemente que não é possível ir além desta parte relacionada com a disciplina da Yoga do Sonho, a menos que tenhamos conseguido a memória perfeita de nossas experiências oníricas.


 O Sonho Tântrico


"Enquanto o corpo dorme, o Ego vive nos mundos internos e se transporta a diferentes lugares. Nos mundos internos somos provados muitas vezes. Nos templos internos recebemos a Iniciação. É necessário recordar o que fazemos fora do corpo. Com as instruções dadas neste livro, todo ser humano poderá despertar a Consciência e recordar suas experiências internas. É doloroso saber que muitos Iniciados trabalham nos Grandes Templos da Loja Branca enquanto seu corpo físico dorme, mas no entanto não se recordam de nada, porque sua memória está atrofiada.


Indubitavelmente, é urgente examinar mensalmente nosso caderno ou bloco de anotações, com o objetivo de verificarmos, por nós mesmos, o avanço progressivo da memória onírica. Qualquer possibilidade de esquecimento deve ser eliminada; não devemos continuar com as práticas subseqüentes enquanto não obtivermos a memória perfeita. São particularmente interessantes aqueles dramas que parecem sair de outros séculos, ou que se desenrolam em meios ou ambientes que nada têm a ver com a existência de vigília do sonhador. Há que se estar em estado de “percepção alerta”, de “alerta novidade”, e dar atenção bastante especial ao estudo dos detalhes que incluem questões específicas, práticas, reuniões, templos, atividades inusitadas em relação a outras pessoas, etc.

Conseguido o desenvolvimento completo da memória onírica, eliminada já qualquer possibilidade de esquecimento, o processo de interpretação simbólica abrirá o caminho da revelação. Devemos buscar a ciência básica da interpretação dos sonhos na Lei das Analogias Filosóficas, na Lei das Analogias dos Contrários, na Lei das Correspondências e na Numerologia. As imagens astrais refletidas no espelho mágico da imaginação jamais devem ser traduzidas literalmente, pois são apenas representações das ideias arquetípicas, devendo ser utilizadas da mesma maneira que o matemático usa os símbolos algébricos.

Cumpre afirmar que as ideias desse tipo descem do Mundo do Espírito Puro. Como é natural, as ideias arquetípicas que descem do Ser são maravilhosas, informando-nos sobre o estado psicológico desse ou daquele centro da máquina, sobre assuntos esotéricos muito íntimos, sobre possíveis êxitos ou perigos, etc., sempre envoltas na roupagem do simbolismo. Abrir tal ou qual símbolo astral, cena ou figura, com o propósito de extrair a ideia essencial, somente é possível através “da meditação lógica e comparativa do Ser”. Ao chegarmos a esta etapa da disciplina da Yoga do Sonho, torna-se indispensável entrarmos no aspecto tântrico da questão.

A Sabedoria Antiga ensina que Tonantzin (Devi Kundalini), nossa Divina Mãe Cósmica particular (pois cada pessoa tem a sua), pode adotar qualquer forma, pois é a origem de todas as formas; portanto, convém que o Gnóstico medite sobre ela antes de adormecer.

O aspirante deverá entrar diariamente no processo do sono repetindo, com muita fé, a seguinte oração:

“Tonantzin, Teteoinan, Oh! minha Mãe, vinde a mim, vinde a mim”.

Segundo a Ciência Tântrica, se o Gnóstico insistir nesta prática, mais cedo ou mais tarde haverá de surgir como que por encanto, dentre as expressões cambiantes e amorfas de seus sonhos, um elemento iniciador. Enquanto não for completamente identificado esse iniciador, é indispensável continuar registrando seus sonhos no caderno ou bloco. O estudo e a análise profunda de cada sonho anotado é inadiável na disciplina esotérica do sonho tântrico.

É evidente que o progresso didático haverá de nos conduzir à descoberta do iniciador ou elemento unificador do sonho. Indubitavelmente, o Gnóstico sincero que chega a esse estágio da disciplina tântrica encontra-se, justamente por este motivo, pronto para dar o passo seguinte, que será o tema do nosso próximo capítulo.


Prática do Retorno


"A mente subconsciente cria sonhos fantásticos no país dos sonhos. A qualidade dos sonhos depende das crenças do sonhador. Quando alguém crê que somos bons, sonha conosco vendo-nos como anjos. Quando crê que somos maus, sonha conosco vendo-nos com aparência de diabos. O subconsciente é uma tela sobre a qual são projetados muitos filmes internos. O subconsciente muitas vezes atua como “cameraman”, outras como diretor e também como o operador que projeta as imagens sobre o fundo mental.

É evidente que o subconsciente que projeta costuma cometer muitos erros. Ninguém ignora que na tela da mente surgem pensamentos errôneos, receios sem fundamento e também sonhos falsos. Necessitamos transformar o subconsciente em consciente, deixar de sonhar, despertar a Consciência.


Quando o aspirante já realizou com pleno sucesso todos os exercícios Gnósticos relacionados com o esoterismo do sonho, é claro que se encontra intimamente preparado para a “Prática do Retorno”. No capítulo anterior dissemos algo sobre o elemento iniciador que surge como por encanto dentre as cambiantes e amorfas expressões de seus sonhos. Certas pessoas muito psíquicas, sensíveis e impressionáveis sempre possuíram em si mesmas o elemento iniciador.

Essas pessoas caracterizam-se pela repetição contínua de um mesmo sonho; revivem periodicamente essa ou aquela cena, ou vêem constantemente em suas experiências oníricas essa ou aquela criatura ou símbolo. Toda vez que o elemento iniciador - seja este um símbolo, som, cor, pessoa, etc. - é lembrado no despertar do sono normal, o aspirante, ainda com os olhos fechados, deve continuar visualizando a imagem-chave familiar e, imediatamente, de maneira intencional, tratará de dormir de novo, prosseguindo com o mesmo sonho. Diremos, em outras palavras, que o aspirante se propõe a tornar-se consciente de seu próprio sonho e, por isso, continua intencionalmente com o mesmo, mas trazendo-o para o estado de vigília, com plena lucidez e auto-controle.

Converte-se assim em espectador e ator do sonho, com a vantagem, por certo nada desprezível, de poder abandonar a cena à vontade, para mover-se livremente no mundo astral. O aspirante, liberto então de todas as travas da carne, fora de seu corpo físico, acha-se desprendido do seu velho e familiar ambiente, penetrando em um universo regido por leis diferentes. A Disciplina do Estado de Sonho dos tântricos budistas conduz didaticamente ao Despertar da Consciência. O Gnóstico só pode despertar o Estado Verdadeiro de Iluminação compreendendo e desintegrando sonhos. As Sagradas Escrituras da Índia afirmam formalmente que o Mundo inteiro é o Sonho de Brahma. A partir deste postulado hindu, afirmaremos categoricamente o seguinte: “Quando Brahma desperta, o Sonho acaba...”

Mas, enquanto o aspirante não conseguir a dissolução radical, não só dos sonhos em si mesmos, como também dos motivos psicológicos que os provocam, o Despertar Absoluto ser-lhe-á impossível. O despertar definitivo da Consciência só é possível mediante uma transformação radical. Os Quatro Evangelhos crísticos insistem na necessidade do despertar; lamentavelmente, as pessoas continuam adormecidas. Quetzalcoatl, o Cristo Mexicano, foi certamente um homem cem por cento desperto.

A multiplicidade de suas funções também nos indica com absoluta precisão a grande antigüidade de seu culto e a profunda veneração que lhe era dedicada em toda a América Central. Os Deuses Santos de Anahuac são Homens Perfeitos no sentido mais completo da palavra; criaturas absolutamente despertas; Seres que erradicaram de sua Psique toda possibilidade de sonhar. Tlaloc, “o que faz brotar”, Deus das chuvas e do raio, sendo um Deus, também é um homem desperto, alguém que teve de eliminar de sua Psique não só seus sonhos, como também toda possibilidade de sonhar.

Ele é o principal Indivíduo Sagrado da antiquíssima cultura Olmeca, e aparece sempre com a máscara do Tigre-Serpente nos machados colossais e nas diversas figuras de jade. Texcatlipoca e Huitzilipochtli, Criaturas do Fogo, vivas representações da noite e do dia, também são homens despertos, seres que conseguiram passar além dos sonhos...

Fora do corpo físico, o homem desperto pode invocar os Deuses Santos dos astecas, maias, zapotecas, toltecas e outros. Os Deuses dos códices Bórgia, Borbônico e outros vêm ao chamado do homem desperto. Mediante o auxílio dos Deuses Santos, o homem desperto pode estudar, na Luz Astral, a Doutrina Secreta de Anahuac.


As Quatro Bem-Aventuranças


"Pergunta: Por que sempre que sonho com meus parentes já mortos converso com eles e me afirmam que não estão mortos e se encontram em perfeito estado de saúde?

Resposta: Sua pergunta me agrada e com o maior prazer lhe respondo. Antes de tudo, quero que entenda o que é o processo do sono. Inquestionavelmente, o sono é uma “pequena morte”, como reza o ditado popular. Durante as horas em que nosso corpo jaz adormecido no leito, a Alma perambula fora dele, vai a diversos lugares, se encontra com os falecidos e até se dá ao luxo de conversar com eles.

É claro que os mortos jamais acham que estão mortos, porque, durante a vida, jamais se preocuparam em despertar consciência; eles sempre pensam de si mesmos que estão vivos. Agora fica explicado o motivo pelo qual as almas de seus entes queridos lhe fazem essas afirmações”.


No capítulo anterior, falamos bastante sobre o elemento iniciador do sonho, e é óbvio que só nos resta agora aprender a usá-lo. Quando o Gnóstico tem um registro de seus sonhos, descobre, sem dúvida, o sonho que se repete sempre. Este, entre outros, é certamente um motivo mais do que suficiente para anotar todos os sonhos no caderno ou no bloco.

A experiência onírica sempre repetida é, inquestionavelmente, o elemento iniciador que, utilizado com inteligência, nos conduz ao despertar da Consciência. Toda vez que o Místico, deitado em sua cama, adormece intencionalmente, meditando no elemento iniciador, o resultado nunca se faz esperar muito: em geral, o anacoreta revive conscientemente tal sonho, podendo separar-se da cena à vontade para viajar pelos Mundos Supra-sensíveis.

Qualquer outro sonho pode também ser usado com esse propósito, quando conhecemos realmente a técnica. Quem desperta de um sonho, se for seu desejo, pode prosseguir com ele mesmo intencionalmente; neste caso, deve adormecer outra vez, revivendo sua experiência onírica com a imaginação. Não se trata de imaginar que estamos imaginando; o fundamental consiste em reviver o sonho anterior com todo o seu cru realismo. Repetir intencionalmente o sonho é o primeiro passo em direção ao despertar da Consciência; separar-se à vontade do sonho e em pleno drama é o segundo passo. Alguns aspirantes conseguem dar o primeiro passo, mas falta-lhes força para dar o segundo...

Essas pessoas podem e devem ajudar-se por meio da técnica da meditação. Tomando decisões muito sérias, esses devotos praticarão a meditação antes de se entregarem ao sono. Neste caso, seu problema íntimo será o tema de concentração e auto-reflexão evidente na meditação interior profunda. Durante esta prática, o místico angustiado, cheio de emoção sincera, invoca sua Divina Mãe Tonantzin... (Devi Kundalini).

Derramando lágrimas de dor, o asceta Gnóstico lamenta-se do estado de inconsciência em que se encontra e implora ajuda, rogando à sua Mãe que lhe dê forças interiores para desprender-se de qualquer sonho à vontade.

A finalidade de toda esta disciplina do sonho tântrico é preparar o discípulo para reconhecer claramente as quatro bem-aventuranças que se apresentam na experiência onírica. Esta disciplina esotérica é somente para pessoas muito sérias, pois exige infinita paciência e enormes super-esforços íntimos. Muito se fala no mundo oriental sobre as Quatro Luzes do Sonho, e nós devemos estudar esta questão. A primeira delas é chamada “A Luz da Revelação”, e está escrito com letras de ouro no Livro da Vida que ela é percebida justamente antes ou durante as primeiras horas do sono. Cumpre dizer enfaticamente e sem muita prosopopéia que a indesejável mistura de impressões residuais e a corrente habitual de pensamentos discriminatórios felizmente vão se dissolvendo lentamente à medida que o sonho se torna mais profundo.

Nesse estágio do sonho, insinua-se progressivamente a Segunda Iluminação, que se conhece na Ásia com o nome maravilhoso de “Luz do Aumento”. Evidentemente, o asceta Gnóstico, mediante a extraordinária disciplina do Sonho Tântrico, consegue passar muito além desta etapa até captar ou apreender completamente as duas luzes restantes. Vivenciar claramente o cru realismo da vida prática nos Mundos Superiores de Consciência Cósmica significa ter atingido a Terceira Luz, a da “Realização Imediata”.

A Quarta Luz é a da “Iluminação Interior Profunda”, e nos advém, como por encanto, em plena experiência mística. Um tratado tibetano declara: “Aqui, no Quarto Grau do Vazio, mora o Filho da Mãe Clara Luz”. Falando franca e diretamente, declaro o seguinte: “a disciplina do sonho tântrico é, na realidade, uma preparação esotérica para esse sonho final que chamamos Morte”.

Tendo morrido muitas vezes durante a noite, o anacoreta Gnóstico que tenha apreendido conscientemente as Quatro Bem-Aventuranças que se apresentam na experiência onírica passa, no momento da desencarnação, ao estado “post-mortem” com a mesma facilidade com que entra voluntariamente no Mundo do Sonho. Fora do Corpo Físico, o Gnóstico consciente pode verificar por si mesmo o destino que está reservado às Almas além da Morte. Se toda noite, mediante a Disciplina Tântrica do Sonho, o esoterista pode morrer conscientemente e penetrar no Mundo dos Mortos, é claro que pode também, por este motivo, “estudar o Ritual da Vida e da Morte enquanto chega o Oficiante”.

Hermes, depois de ter visitado os “Mundos Infernos”, onde vira com horror o destino das Almas Perdidas, conheceu coisas insólitas. Disse Osíris a Hermes: “Olhe deste lado. Vês aquele enxame de Almas que busca elevar-se à região lunar? Umas são devolvidas à terra, como torvelinhos de pássaros sob os golpes da tempestade. Outras alcançam com grandes adejos a esfera superior, que as arrasta em sua rotação. Uma vez ali chegadas, recobram a visão das coisas Divinas”.

Os astecas colocavam no túmulo um galho seco quando enterravam os que haviam sido escolhidos por Tlaloc, o Deus da chuva. Dizia-se que, quando o bem-aventurado chegava ao “Campo de Delícias”, que é o Tlalocan, o galho seco reverdecia, indicando com isso o regresso a uma nova vida, o retorno. Aqueles que não foram escolhidos pelo Sol ou por Tlaloc vão fatalmente ao Mictlan, situado ao Norte, região onde as Almas sofrem uma série de provas mágicas ao passarem pelos “Mundos Infernos”.

São nove os lugares onde as Almas sofrem espantosamente antes de alcançarem o descanso definitivo. Isto nos faz lembrar os “Nove Círculos Infernais” da Divina Comédia de Dante Alighieri. São muitos os Deuses e Deusas que povoam os Nove Círculos Dantescos do Inferno asteca. Não é demais lembrar o espantoso “Mictlantecuhtli” e a tenebrosa “Mictecacihuatl”, o Senhor e a Senhora do Inferno, habitantes do nono ou mais profundo dos lugares subterrâneos. As Almas que passam pelas provas do “Inferno Asteca”, depois da Segunda Morte, entram felizes nos Paraísos Elementais da Natureza.

É inegável que as Almas que, depois da Morte, não descem aos “Mundos Infernos” nem tampouco ascendem ao “Reino da Luz Dourada”, nem ao “Paraíso de Tlaloc” ou ao “Reino da Eterna Concentração”, etc., regressam ou retornam de modo mediato ou imediato a um novo corpo físico. As Almas eleitas pelo Sol ou por Tlaloc gozam de muita felicidade nos Mundos Superiores antes de retornarem ao Vale de Samsara. Os anacoretas Gnósticos, depois de haverem capturado as Quatro Luzes do Sonho, podem visitar toda noite, conscientemente, o “Tlalocan”, ou descer ao “Mictlan”, ou entrar em contato com as Almas que, antes de retornarem, vivem na região lunar.


O Anjo da Guarda


"Durante o sono, o Ego escapa do corpo físico. Esta saída do Ego é necessária para que o corpo vital possa recuperar o corpo físico. Nos mundos internos, podemos comprovar que o Ego leva consigo seus sonhos. Ali, o Ego se ocupa das mesmas coisas que o mantêm fascinado no mundo físico. Assim, vemos o carpinteiro durante o sonho em sua carpintaria, o policial cuidando das ruas, o barbeiro na barbearia, o ferreiro na sua ferraria, o bêbado no bar ou na cantina, a prostituta na casa de prazeres entregue à luxúria, etc., etc. Todas essas pessoas vivem nos mundos internos como se estivessem no físico.

Ninguém se lembra de perguntar a si mesmo durante o sonho se está no mundo físico ou no astral. Os que se fizeram tal pergunta durante o sonho despertaram nos mundos internos. Então, com assombro, puderam estudar todas as maravilhas dos Mundos Superiores. Só acostumando-nos a fazer semelhante pergunta a nós mesmos de instante em instante durante o chamado estado de vigília poderemos chegar a fazer-nos a mesma pergunta nos mundos superiores durante as horas do sono.

É claro que durante o sonho repetimos o que fazemos durante o dia. Se durante o dia nos acostumamos a fazer essa pergunta a nós mesmos, estando fora do corpo repetiremos a mesma pergunta. O resultado será o despertar da Consciência.

O Matrimônio Perfeito"


Iniciaremos este capítulo com a seguinte frase: o primeiro educador de todo Grande iniciado converte-se, de fato e por direito próprio, na causa fundamental de todas as partes espiritualizadas de sua genuína “presença comum”. Qualquer Guru agradecido prosterna-se humildemente diante do primeiro criador de seu verdadeiro Ser.

Quando, após muitos trabalhos conscientes e padecimentos voluntários, revela-se, ante nossos olhos cheios de lágrimas, a absoluta perfeição alcançada no funcionamento de todas as partes espiritualizadas, isoladas, de nossa “presença comum”, surge em nós o impulso do Ser de gratidão para com o primeiro educador. É evidente que a perfeição absoluta de todas e de cada uma das partes isoladas do Ser só é possível quando morremos radicalmente em nós mesmos, aqui e agora. Existem diversos estágios de “Auto-Realização Íntima”; alguns Iniciados conseguiram a perfeição de determinadas partes isoladas do Ser, mas ainda têm de trabalhar muito para atingir a perfeição absoluta de todas as partes.

De modo algum seria possível retratar o Ser; parece um exército de crianças inocentes... cada uma delas exerce determinadas funções; obter a integração total é o maior anseio de todo Iniciado. Quando se alcança a Auto-Realização Íntima da parte mais elevada do Ser, recebe-se, por isso, o Grau de “Ishmesch”. Nosso Senhor Quetzalcoatl, o Cristo Mexicano, desenvolveu sem dúvida a parte mais elevada de seu próprio Ser.

Cabe lembrar aqui, de forma oportuna, que Xolotl, o Lúcifer nahuatl, é também outra das partes isoladas de nosso próprio Ser. Os Deuses Elementais da Natureza, tais como Huehueteotl, Tlaloc, Ehecatl, Chalchiuhtlicue, a Guinevere de Tlaloc, Xochiquetzal, a Deusa das Flores, etc., ajudam o Iniciado em suas operações de Magia Elemental, sob a condição de uma conduta reta.

Porém, jamais devemos esquecer nosso “Intercessor Elemental”, o Mago Elemental em nós, que pode invocar os Deuses Elementais da Natureza e realizar prodígios, e que é, sem dúvida, outra das partes isoladas de nosso próprio Ser. Três Deusas, que na realidade são apenas aspectos de uma mesma Divindade, representam nossa Divina Mãe (variante ou derivação de nosso próprio Ser): Tonantzin, Coatlicue, Tlazolteotl. São muitas as partes isoladas de nosso próprio Ser. Alguém pode encher-se de assombro ao lembrar o Leão da Lei, os dois Gênios que anotam nossas boas e más ações, o Policial do Karma, parte também de nosso Ser, o Misericordioso, o Compassivo, os nossos Pai-Mãe unidos, o Anjo da Guarda etc., etc.

Os Poderes Flamígeros do “Anjo da Guarda” são extraordinários, maravilhosos, terrivelmente divinos. De fontes totalmente Gnósticas, conservadas em segredo nos Mosteiros Iniciáticos e que diferem enormemente do Pseudo-Cristianismo e do Pseudo-Ocultismo comuns e correntes, conheci realmente o que é o “Anjo da Guarda”.

Chegando ao campo misteriosíssimo da história e da vida dos Jinas, descobrimos não só o “Templo de Chapultepec” no México e os povos da Quarta Vertical, como também -e isto é assombroso- os poderes do “Anjo da Guarda” em relação a isso tudo. Convém jamais esquecer que o Padre Prado e Bernal Díaz del Castillo se entretinham vendo os Sacerdotes de Anahuac em estado de Jinas. Aqueles Anacoretas flutuavam deliciosamente quando se transportavam pelos ares de Cholula até o Templo Maior; isto ocorria diariamente no crepúsculo.

Nem os Discípulos de Saís no Delta do Nilo, nem os que nas mesetas da Pérsia seguiram Zaratustra, nem os contempladores da Torre de Bel na Babilônia jamais tiveram em seus passeios noturnos horizontes mais augustos do que os que sempre tiveram aqueles que se submetem seriamente à disciplina do Sonho Tântrico. Fora do Corpo Físico, o anacoreta Gnóstico consciente pode, se assim o desejar, invocar certa parte isolada de seu próprio Ser, definida em esoterismo prático pelo nome de “Anjo da Guarda”; com certeza, o inefável virá a seu chamado.

Uma serenidade diáfana, uma tranquilidade sem limites, uma felicidade extática como a que a Alma experimenta ao romper os laços com a matéria e com o mundo, é o que sentimos naqueles momentos de deleite. O resto, querido leitor, podes deduzir; podemos sempre pedir serviços Mágicos a Lohengrin (o “Anjo da Guarda”). Se, nesses momentos de arrebatamento, pedirmos ao “Anjo da Guarda” o favor de tirar o corpo adormecido da cama, onde o deixamos repousando, e trazê-lo à nossa presença, o fenômeno mágico se realizará com pleno êxito.

Pressentimos quando o corpo físico já se encontra a caminho, trazido pelo Anjo da Guarda, quando sentimos em nossos ombros anímicos ou astrais uma estranha pressão. Se assumirmos uma atitude receptiva, aberta, sutil, o corpo físico penetrará em nosso interior. O Tantrista Gnóstico consciente, em vez de voltar a seu corpo físico, espera que este venha a ele para viajar com o mesmo pela Terra Prometida, na Quarta Coordenada. Depois, com o auxílio do Anjo da Guarda, o Asceta Gnóstico volta para sua casa e sua cama sem o menor perigo.

Os Veneráveis Mestres da “Fraternidade Oculta” viajam com seu corpo físico pela quarta vertical, podendo deixá-lo no lugar em que desejarem. Isto significa que os Mestres Ressurrectos da “Ordem Superior” podem dar-se ao luxo - certamente nada desprezível - de renunciar a todos os sistemas modernos de transporte: navios, aviões, automóveis, etc. O alto valor iniciático contido nos procedimentos crítico-analógicos e simbólicos que nos tempos antigos foram a essência viva daquela escola alexandrina dos Filaléteos ou “Amantes da Verdade”, academia sintética do século IV, fundada por Ammonio Saccas, o Grande Eclético autodidata, e por Plotino, o continuador de Platão através dos séculos, com princípios doutrinários do Egito, México, Peru, China, Tibet, Pérsia, Índia, etc., permitiu a muitos Iniciados orientarem-se na Senda do Fio da Navalha.

Merece menção muito especial a “Androgilia” de Ammonio Saccas, livro de ouro por excelência. Não há dúvida de que o erro de muitos pseudo-esoteristas e pseudo-ocultistas modernos radica no amor próprio; gostam muito de si mesmos; desejam a evolução da miséria que carregam dentro de si. Desejam continuar, anseiam a perfeição daquilo que de modo algum merece perfeição nem continuação. Essas pessoas de Psique subjetiva acreditam-se ricas, poderosas e iluminadas, e cobiçam, ainda, uma magnífica posição no “Além”, mas, na realidade, nada sabem sobre si mesmas, desconhecem lamentavelmente sua própria impotência, nulidade, despudor, infelicidade, miséria psicológica e nudez.

Nós, Gnósticos, não aspiramos ser nem melhores nem piores; só queremos morrer em nós mesmos, aqui e agora. Quando estabelecemos o “Dogma da Evolução” como fundamento de nossas melhores aspirações, partimos de uma base falsa. A nós, penitentes da pedregosa senda que conduz à libertação final, não interessa jamais a evolução. Sabemos que somos uns coitados e miseráveis... e a evolução de nada nos serviria; preferimos a morte suprema; só com a morte vem o novo.

Por que haveríamos de lutar pela evolução e progresso de nossa própria desventura? Melhor é a morte. Se a semente não morre, a planta não nasce. Quando a morte é absoluta, o que irá nascer é também absoluto. A aniquilação total do “Mim Mesmo”, a dissolução radical do mais caro que trazemos dentro de nós, a desintegração final de nossos melhores desejos, pensamentos, paixões, ressentimentos, dores, emoções, anseios, ódios, amores, ciúmes, vinganças, cóleras, afetos, apegos, carinhos, luxúria, etc., é urgente, inadiável, impostergável, a fim de que surja a chama do Ser, que não é do tempo, que é sempre novo. A idéia que cada um de nós tem do Ser jamais é o Ser; o conceito intelectual que tenhamos elaborado sobre o Ser não é o Ser; a opinião sobre o Ser não é o Ser... O Ser é o Ser, e a razão de ser do Ser é o próprio Ser. O temor à morte absoluta é empecilho, obstáculo, inconveniente para a obtenção da mudança radical.

Cada um de nós traz em seu interior uma criação equivocada; é indispensável destruir o falso para que surja, de verdade, uma criação nova. Jamais tentaríamos promover a evolução do falso; preferimos a aniquilação absoluta.

Da negra e pavorosa fossa sepulcral do abismo surgem as diversas partes flamígeras do Ser; o “Anjo da Guarda” é uma dessas tantas partes isoladas. Aqueles que conhecem realmente os Mistérios do Templo, reflexo maravilhoso dos Mistérios Báquicos, Eleusinos e Pitagóricos, jamais desejariam continuar com sua miséria interior. Temos que regressar ao ponto de partida original, temos que voltar às trevas primitivas do “Não-Ser” e ao “Caos”, para que nasça a luz e surja em nosso interior uma nova criação. Em lugar de temer a aniquilação total, melhor é saber amar e cair nos braços de nossa Bendita Deusa Mãe-Morte.