07 - A Transcendência dos Sonhos


Nessa monografia se fala muito dos Sonhos nos dias atuais e na antiguidade, das revelações contidas nos mesmos e sua relação com o auto-conhecimento. Se narra alguns casos interessantes sobre Sonhos proféticos e reveladores. Bons estudos!


“As imagens dos Mundos Suprassensíveis são totalmente simbólicas. Mesmo os sonhos aparentemente mais absurdos, se interpretados sabiamente, encerram as maiores revelações”. 

Samael Aun Weor


Uma Resposta Definitiva aos Sonhos
Importância Histórica dos Sonhos
O Auto-Conhecimento Através dos Sonhos
Tipos de Sonhos

Uma Resposta Definitiva aos Sonhos


"Cada um de nós é um ponto matemático no espaço que serve de veículo a determinadas somas de valores, bons ou maus. A morte é uma subtração de frações; terminada a operação matemática, a única coisa que sobra são os valores (brancos ou negros). De acordo com a Lei do Eterno Retorno, é evidente que os valores retornam, se reincorporam. Se um homem começa a ocupar-se mais conscientemente do pequeno ciclo dos acontecimentos recorrentes de sua vida pessoal, poderá então verificar por si mesmo, mediante experiência mística direta, que, no sono diário, se repete sempre a mesma operação matemática da morte. 

Na ausência do corpo físico, durante o sono normal, os “valores”, submergidos na “Luz Astral”, se atraem e repelem de acordo com as leis da imantação universal. A volta ao estado de vigília implica, de fato e por direito próprio, o retorno dos valores ao interior do corpo físico.

A Doutrina Secreta de Anahuac"

De vez que os sonhos constituem uma função inerente à natureza humana, da qual, queira ou não queira, o próprio homem não pode se desligar, é facilmente compreensível que sejam muitos os que têm questionado, alguma vez em sua vida, o que são, de onde vêm e qual o sentido que podem ter os sonhos.

Se juntamos a isto a explicação incipiente que a ciência de hoje deu para este interessante fenômeno, não é de estranhar que, em pleno século XX, o mistério dos sonhos continue ainda intrigando grandemente a consciência da espécie humana. 

Se o amigo leitor acredita que um dicionário dará resposta a estes enigmas, bastará que consulte um para que se desengane por si mesmo. Dizer que “um sonho é simplesmente a representação da fantasia de diferentes acontecimentos” é certamente uma explicação pobre, que continua deixando-nos cravado o espinho da dúvida. 

Sigmund Freud, o ilustre médico austríaco criador da Psicanálise, estudou o fenômeno onírico utilizando-o como instrumento terapêutico, já que dizia que todo sonho é a visão de um desejo quase sempre escondido nas dobras do subconsciente humano. Vejamos o que disse o autor em seu livro “A interpretação dos sonhos”: 

“Ao tratar das relações do sonho com a vida cotidiana desperta e a origem do material onírico, vemos que tanto os investigadores mais antigos como os mais modernos opinaram que o homem sonha com aquilo de que se ocupa durante o dia e que lhe interessa em sua vida desperta. Este interesse, que da vida desperta passa ao estado de repouso – os estímulos presentes durante o mesmo – deveria bastar para explicar a origem de todas as imagens oníricas.”

Além disto, Freud chegou inclusive a afirmar que esses interesses ou desejos subconscientes muitas vezes se disfarçavam sob a forma de imagens confusas e estranhas visões para ocultar, na verdade, os instintos sexuais reprimidos desde a infância.

Estas conclusões são contraditórias, certamente, com os múltiplos testemunhos que a história recolhe e que demonstram que esse enigmático mundo dos sonhos, além de ser o produto do afloramento dos desejos ocultos que existem em nossa psique, sejam ou não de caráter sexual, e da repetição mecânica dos acontecimentos da “vida cotidiana desperta”, são, ou podem ser também, o fruto de uma Inteligência Superior, uma Inteligência Divina que existe em toda a criação.

Essa Inteligência Divina, ou Princípios Inteligentes que existem tanto no infinitamente grande como no infinitamente pequeno, é o que mencionava freqüentemente o célebre Platão quando dizia, tratando de definir o enigma onírico, que os sonhos são, antes de tudo, advertências a respeito do futuro enviadas pelos deuses.

Não ouviu falar nosso querido leitor de sonhos que se cumprem? Talvez seja uma dessas pessoas que, depois de haver sonhado algo, após um tempo vê isto realizado. Muitos são os que, de uma maneira mais simples, ficam atônitos pela sensação de haver vivido anteriormente um acontecimento, familiar, em muitos casos, por havê-lo sonhado antes.

Não obstante, a maior parte da sociedade tem ainda essa imagem equivocada sobre os sonhos. A crença popular de que o cachorro sonha com a presa de caça, o porco com as bolotas, o ganso com o milho e em geral todos os seres com seu mundo de desejos não é mais que a extensão dessa limitada e estreita visão que tinha Freud do vasto universo dos sonhos.

Esta foi a razão pela qual um de seus melhores discípulos, Carl Gustav Jung, se separou de seu mestre e se acercou da fonte das antigas tradições esotéricas para nela beber. Jung, além de afirmar que através dos sonhos se pode conhecer a verdadeira personalidade do ser humano, reconheceu nos sonhos a possibilidade de receber mensagens sobre o futuro.

Em seu livro “ Memórias, Sonhos, Reflexões “, narra como certa vez sonhou que um gélido vento ártico arrasava os campos da Europa e os cobria de gelo; toda a região ficou desabitada e sem vegetação. Isto ocorreu em junho de 1914: justamente dois meses antes do início da Primeira Guerra Mundial.

Mas que mundo extraordinário é este que permite perceber acontecimentos inclusive de nosso próprio futuro? 

Para podermos dar uma explicação coerente ao porquê de todos estes enigmas teríamos que apelar, sem sombra de dúvida, aos ensinamentos de um grande homem e sábio que revolucionou as ciências deste século XX: Albert Einstein.

Einstein, pai da Teoria da Relatividade, demonstrou que, pondo-se em vibração a estrutura atômica de qualquer objeto material ao quadrado da velocidade da luz (300.000 km/s), deixa o plano físico para penetrar no plano energético. Ou seja, existe uma ponte entre estes dois mundos (matéria e energia) determinada simplesmente pela velocidade ou vibração interna dos corpos.

Para fazer tudo isto mais acessível ao entendimento humano, o diremos de outra forma: acima e abaixo desta região física e material em que vivemos existem outras regiões ou mundos de manifestação que, não sendo físicos, são tão reais como este.

Um destes mundos não é outro que aquele ao qual vamos todas as noites enquanto o corpo dorme em sua cama. Nosso material anímico, quer dizer, nossa Consciência aprisionada neste conjunto de elementos indesejáveis que constituem o Ego, o Mim Mesmo, escapa de dentro do corpo nestes momentos, e, livre da forma, vive em regiões paralelas a esta dimensão física e tridimensional na qual nos atuamos durante o dia. 

Isto que estamos afirmando aqui já o conheciam perfeitamente muitos estudiosos das ciências herméticas no Oriente. Eles sabiam que, além deste corpo de carne e osso, temos um corpo energético (o denominado material anímico), e que esse corpo está prisioneiro durante as horas do dia dentro do organismo físico. Além disso, sabiam perfeitamente que, quando este último se entrega ao sono, essa energia começa a volatilizar-se, a desprender-se das conexões com o organismo físico tridimensional para entrar em outras dimensões paralelas a esta.

O triste e lamentável é que este desprendimento se faz inconscientemente: a pessoa não se dá conta dos mecanismos que operam no processo que nos translada ao mundo dos sonhos, conhecido também, nestes estudos, como mundo astral. Nosso leitor deve saber que essa região é a mesma à qual vão os defuntos quando desencarnam. Por isso, talvez agora muitos compreendam a razão pela qual algumas vezes viram em sonhos pessoas já falecidas e até conversaram com elas, como se estivessem vivas, com uma naturalidade espantosa.

Este astral é a “Quarta Dimensão” da ciência moderna (veja a monografia que leva esse mesmo nome), onde o “Tempo” deixa de comportar-se segundo os critérios que agora utilizamos: o passado e o futuro se fraternizam num eterno presente, o ontem e o amanhã se mesclam no mesmo hoje… motivo este, está claro, pelo qual o famoso Platão afirmara que é possível ver em nossos sonhos cenas de nosso próprio futuro…

Os sonhos, realmente, podem chegar a ser, dependendo da nossa maneira de pensar, sentir e agir, um mecanismo formidável que há de aproximar-nos mais da solução final deste mistério que nossa própria vida encerra. 

Em vista do exposto, é necessário que comecemos a revisar nossa forma antiquada de pensar sobre este importante tema. Se de verdade queremos mudar as circunstâncias de nossa vida, não podemos continuar pensando caduca e equivocadamente. A Gnose é um vinho novo, e “o vinho novo necessita odres novos” ...


Importância Histórica dos Sonhos


"Nos mundos internos se fala muito em Cabala. Há que saber somar em números Cabalísticos; se perguntamos a um Mestre: “Quanto tempo vou viver ?”, ele responderia em números. 

O objetivo de estudar a Cabala é nos capacitarmos nos Mundos Superiores. Por exemplo: um Iniciado pediu, numa certa ocasião, a Clarividência; internamente lhe responderam, “isto se fará em 8 dias”. Aquele que não sabe regressa ao corpo físico e crê que, dentro de 8 dias - se hoje, por exemplo, é quarta-feira, na outra quarta-feira - será um clarividente. Na realidade, “8” é o número de Jó, e lhe indicavam para ter Paciência. Aquele que desconhece fica confuso nos mundos internos; a Cabala é básica para entender a linguagem destes mundos. 

É óbvio que os estudos Cabalísticos devem ser acompanhados do trabalho sobre Si Mesmo; tem-se que fazer consciência de tais estudos, porque, se permanecem no intelecto, ao falecer se perdem, e, se fazemos Consciência deles, se manifestam desde a infância.

Tarot e Cabala"

De acordo com tudo o que expusemos, não é de se estranhar que, ao revisar as páginas da História, encontremos, nas diversas formas de manifestação da cultura humana, um conceito sobre os sonhos mais profundo, mais completo e, portanto, mais transcendente.

Como muitas pessoas não conhecem os princípios básicos desta questão, convém citar diversos personagens célebres, com o único propósito de ilustrar e dar testemunho fiel de nossas afirmações…

Comecemos com Buddha. A tradição afirma que este santo homem foi concebido quando a rainha Maya, sua bendita mãe, sonhou com um elefante branco que descia do céu. Foi também o próprio Buddha quem, ainda jovem, descobriu sua vocação através de outro sonho.

A Bíblia cita numerosos episódios oníricos. Entre eles aparece a imagem de José, humilde homem a quem o destino quis premiar magnificamente por ser habilidoso na interpretação dos sonhos. 

“Aconteceu que, passados dois anos, o Faraó teve um sonho. Parecia que estava perto do rio, e que do rio subiam sete vacas, lindas à vista e bastante gordas, e pastavam no prado. Atrás delas subiam do rio outras sete vacas de aspecto feio e descarnadas, e pararam próximo às vacas formosas à margem do rio; e que as vacas feias e descarnadas devoravam as sete vacas formosas e gordas. E o Faraó despertou.” 

“Adormeceu novamente, e sonhou uma segunda vez, que sete espigas cheias e belas cresciam de um só talo, e que depois delas saíam outras sete espigas miúdas e abatidas pelo vento do Oriente; e as sete espigas miúdas devoravam as setes espigas gordas e cheias. O Faraó despertou, e eis que era sonho.”

“Sucedeu que pela manhã seu espírito estava agitado, e foi chamar todos os magos do Egito, e todos os seus sábios; o Faraó lhes contou seus sonhos, mas não havia quem os pudesse interpretar. Então o chefe dos copeiros disse ao Faraó: “Hoje me recordo de minhas faltas. Quando o Faraó se aborreceu contra seus servos, nos meteu a mim e ao chefe dos padeiros na prisão da casa do capitão da guarda. E ele e eu tivemos um sonho naquela mesma noite, e cada sonho tinha seu próprio significado. Estava ali conosco um jovem hebreu, servo do capitão da guarda; e lhe contamos, e ele nos interpretou nossos sonhos, e declarou a cada um conforme cada sonho. E aconteceu como ele nos havia interpretado, assim foi: eu fui restabelecido em meu posto e o outro foi enforcado.” 

“Então o Faraó mandou chamar José. Tiraram-no apressadamente da prisão, barbeou-se e mudou sua vestimenta, e veio até o Faraó. Este disse a José: “Eu tive um sonho, e não existe ninguém que o interprete; mas ouvi falar de ti que ouves sonhos para interpretá-los. “

“ Respondeu José ao Faraó, dizendo: “Não está em mim; Deus será quem dará a resposta propícia ao Faraó”. Então o Faraó disse a José: “Em meu sonho parecia que estava à margem do rio; e que do rio subiam sete vacas, gordas e de bela aparência, que pastavam no prado. E que outras sete vacas subiam depois delas, magras e de aspecto muito feio, tão extenuadas como jamais vi outras de semelhante feiura em toda a terra do Egito. E as vacas magras e feias devoravam as sete primeiras vacas gordas; e estas entravam por suas entranhas, mas não parecia que haviam entrado, porque a aparência das vacas magras continuava ruim, como no início. E despertei.”

“Vi também, em sonho, que sete espigas cresciam em um mesmo talo, cheias e belas. E sete espigas miúdas, murchas, abatidas pelo vento do Oriente, cresciam depois delas; e as espigas miúdas devoravam as sete bonitas; e já os contei aos magos, mas não há quem os interprete.” 

“Então respondeu José ao Faraó: “O sonho do Faraó é um só; Deus mostrou ao Faraó o que vai fazer. As sete vacas belas são sete anos; e as espigas belas são sete anos: o sonho é um só. Também as sete vacas magras e feias que seguiam atrás delas são sete anos; e as sete espigas miúdas e murchas pelo vento do Oriente serão sete anos de fome. Isto é o que respondo ao Faraó. O que Deus vai fazer, mostrou ao Faraó.”

“Vêm por aqui sete anos de grande abundância em toda a terra do Egito. E após eles seguirão sete anos de fome, e toda a abundância será esquecida na terra do Egito, e a fome consumirá a terra. E aquela abundância será esquecida por causa da fome seguinte, a qual será gravíssima.”

“E, ao ocorrer o sonho duas vezes ao Faraó, significa que a coisa é segura da parte de Deus, e que Deus se apressa a fazê-la. Portanto, nomeie agora o Faraó um varão prudente e sábio, e dê-lhe poder sobre a terra do Egito. Faça isto o Faraó, e coloque governadores pelo país, e separe um quinto da produção da terra do Egito nestes sete anos de abundância. E juntem toda a provisão destes bons anos que vêm, e recolham o trigo aos cuidados do Faraó para o sustento das cidades; e guardem-no. E deixe-se aquela provisão guardada para o país, para os sete anos de fome que haverá na terra do Egito; e o país não morrerá de fome.”

“Isto pareceu correto ao Faraó e seus servos, e disse aquele a estes últimos: “Acaso encontraremos outro homem como este, no qual está o espírito de Deus?” E o Faraó disse a José: “Pois se Deus te fez saber de tudo isto, não há inteligência como a tua nem sábio como tu. Tu terás poder sobre minha casa, pela tua palavra meu povo será governado; somente no trono serei eu maior que tu…”

“Disse ainda o Faraó a José: “Eis que eu te dei poder sobre toda a terra do Egito”. Então o Faraó tirou o anel de sua mão, e o colocou na mão de José, e o fez vestir roupas de linho finíssimo, e colocou um colar de ouro em seu pescoço; e o fez subir em seu segundo carro, e anunciaram diante dele: “Ajoelhem-se! …

Assim se cumpriram os sete anos de abundância que teve a terra do Egito. E começaram a vir os sete anos de fome, como José havia dito; e houve fome em todos os países mas, por toda a terra do Egito, havia pão…”

Gênesis 41

Prosseguindo nesta temática místico-científica, não é demais citar também Daniel, aquele ilustre varão que se livrou de uma morte certa ao explicar a seu monarca não só o significado do sonho que o havia perturbado mas ainda o que este último de forma extraordinária lhe ordenava: que lhe narrasse também o que havia sonhado.

“Respondeu o rei e disse a Daniel, a quem chamavam Baltasar: “Poderias tu fazer-me conhecer o sonho que vi, e sua interpretação?” Daniel respondeu diante do rei, dizendo: “O mistério que o rei exige, nem sábios, nem astrólogos, nem magos, nem adivinhos podem revelar ao rei. Mas há um Deus nos céus, o qual revela os mistérios, e Ele colocou o rei Nabucodonosor a par do que há de acontecer nos próximos dias.” 

“Eis aqui teu sonho, e as visões que tiveste em tua cama: Estando tu, ó rei, em sua cama, começou a pensar sobre o que havia de ser no futuro; e Aquele que revela os mistérios te mostrou o que há de ser. E a mim me foi revelado este mistério, não porque em mim haja mais sabedoria que em todas as criaturas, mas para que o rei conheça a interpretação, e para que entendas os pensamentos de teu coração.”

“Tu, ó Rei, vias, e eis aqui uma grande imagem, que era muito grande, e cuja glória era muito sublime; estava de pé diante de ti, e seu aspecto era terrível. A cabeça desta imagem era de ouro fino; seu peito e seus braços, de prata; seu ventre e suas coxas, de bronze; suas pernas, de ferro; seus pés, parte de ferro e parte de barro cozido. Estavas olhando, até que uma pedra foi cortada, não com a mão, e feriu a imagem em seus pés de ferro e de barro cozido, e os despedaçou. Então foram esmigalhados também o ferro, o barro, o bronze, a prata e o ouro, como sementes na época do verão, e o vento os levou, sem deixar rastro de nenhum deles. Mas a pedra que feriu a imagem tornou-se um grande monte, que encheu toda a terra.”

“Este é o sonho; daremos também a interpretação dele na presença do rei. Tu, ó rei, és rei de reis, porque o Deus do céu lhe deu reino, poder, força e majestade. E, onde quer que habitem filhos de homens, bestas do campo e aves do céu, Ele os entregou em tua mão, e te deu domínio sobre tudo; tu és aquela cabeça de ouro. E depois de ti se levantará outro reino inferior ao teu; e depois um terceiro reino de bronze, o qual dominará sobre toda a terra. E o quarto reino será forte como ferro; e como o ferro esmigalha e rompe todas as coisas, esmigalhará e quebrantará tudo.”

“O que viste dos pés e dos dedos, parte de barro cozido de oleiro e parte de ferro, será um reino dividido; mas haverá nele um pouco da força do ferro, como viste ferro misturado com barro. E, por serem os dedos dos pés parte de ferro e parte de barro, o reino será em parte forte e em parte frágil. Assim como viste o ferro misturado com o barro, se misturarão as alianças humanas; mas não se unirão um com o outro, assim como o ferro não se mistura com o barro.”

“E, nos dias destes reis, o Deus do céu erguerá um reino que não será jamais destruído, nem será o reino deixado a outro povo; esmigalhará e consumirá todos estes reinos, mas ele permanecerá para sempre, da mesma maneira que viste que do monte foi cortada uma pedra, não com a mão, a qual esmigalhou o ferro, o bronze, o barro, a prata e o ouro.”

“O grande Deus mostrou ao rei o que há de acontecer no futuro; e o sonho é verdadeiro e sua interpretação é fiel”. Então o rei Nabucodonosor se prostrou sobre seu rosto e se humilhou perante Daniel, e mandou que lhe oferecessem presentes e incenso. Então o rei enalteceu Daniel, e lhe concedeu muitas honras e grandes títulos e o fez governador de toda a província da Babilônia, e chefe supremo de todos os sábios da Babilônia…”

Daniel 2

Não é demais afirmar que todas as religiões, em sua gloriosa grandeza original, nunca esqueceram que o Divino que o homem leva dentro de si pode orientar, com muita sabedoria, a vida deste último. Por isso, não surpreenderá a ninguém hoje em dia que o Talmude, livro sagrado entre os judeus, e, com certeza, igual à Bíblia cristã, que está cheia também de um grande número de observações oníricas, chegue a afirmar com grande solenidade que “um sonho incompreendido é como uma carta sem abrir” …

Assim tem sido, de tal modo que, entre os povos antigos, como babilônios e assírios, qualquer homem, antes de tomar uma decisão importante, se aconselhava com seu oniromante (intérprete de sonhos).

Para os egípcios, por exemplo, interpretar sonhos foi uma arte terrivelmente sagrada, religiosa e científica. No Museu Britânico, para ser mais precisos, ainda se conserva um extenso papiro sobre sonhos, ao qual se atribui uma antiguidade de 4.000 anos.

Quem não se lembra ainda daqueles nobres cidadãos da Grécia clássica, procurando mensagens em seus sonhos? Sabe-se que quando um deles sofria uma enfermidade física ou espiritual era enviado a um dos numerosos Templos de Incubação, como o famoso Templo de Epidauro, dirigido pelo médico Esculápio, onde jejuava, fazia oferendas e escutava as instruções dos sacerdotes antes de dormir, para esperar que no sonho lhe fosse indicado o remédio.

Artemidoro de Éfeso, o mais célebre oniromante da época de Marco Aurélio, consagrou sua vida ao estudo deste tema, e os livros de sonhos deste sábio grego, como reconhecem até os amantes do “deus-matéria”, estiveram em uso sob uma ou outra forma durante mais de mil anos, ainda que os racionalistas zombassem da ideia de que os sonhos poderiam ter algum significado.

A história nos conta, por exemplo, como os Deuses gregos, tão inclinados a participar da vida cotidiana dos mortais, enviavam mensagens em sonhos, que deviam ser decifrados mediante uma análise dos símbolos contidos naquelas vivências oníricas…

Homero, o grande poeta dos gregos antigos, conta-nos na ilíada como Zeus enviou uma mensagem ao rei Agamenon, interpretada equivocadamente por seu oniromante, que pensou haver no sonho uma revelação do êxito do rei na conquista de Troia…

Creso, rei da Lídia, segundo nos relata oportunamente o historiador Heródoto, recebeu um aviso em sonhos de que seu amado filho, chamado Átis, morreria atravessado por uma lança. Creso, explica Heródoto, preocupado pelo futuro de seu filho, que era considerado um dos guerreiros mais valentes e inteligentes de seu tempo, ordenou-lhe que se retirasse da vida militar e que vivesse numa restrição absoluta. Perto do jovem príncipe não devia haver armas de nenhum tipo, nem objetos pontiagudos. Átis, como é lógico, se sentiu frustrado e rebaixado com sua vida monótona e anônima. Um dia, oprimido pelo cativeiro da jaula de ouro do palácio de Creso, seu amado pai, solicitou a este que lhe permitisse participar de uma caçada. Nos disse o historiador que o jovem Átis tanto insistiu que o rei da Lídia lhe deu permissão, mas com uma condição: deveria ir à caça do javali escoltado por fiéis servidores e sob a tutela do mais experiente soldado do reino. Este soldado era o fiel Adrasto. Mas, prossegue Heródoto dizendo, ocorreu um acidente fatal: os javalis cercaram de repente, e de surpresa, o jovem Átis e seu tutor Adrasto. O soldado disparou sua lança sobre um dos animais que se atirava sobre eles mas, desgraçadamente, a lança javalina rebateu e foi ferir mortalmente o jovem Átis. Assim se cumpria o sonho do rei Creso.

E, se fizemos este relato histórico, não faz falta que o abandonemos para seguir com esta longa lista, que ilustra plenamente o que estamos dizendo.

Como não gostamos de nos enfeitar com plumas alheias, deixemos que o seguinte relato o faça diretamente Samael Aun Weor, um homem cuja consciência lhe permitiu aprofundar-se nesse umbral escuro, confuso e cheio de hipóteses para o homem moderno chamado História. Vejamos:

"Voltar às maldades de Roma e topar com Bruto, marcado com uma faca pela mão de Deus, remeter-se a estes originais, saborear o caramelo venenoso, certamente não é nada agradável, mas é urgente sacar do poço dos séculos certas recordações dolorosas. Traspassado de angústia, sem vanglória alguma, em estado de “alerta -novidade”, conservo com energia a viva lembrança daquela minha reencarnação romana conhecida com o nome de Júlio César.

Então, tive que sacrificar-me pela humanidade, estabelecendo o cenário para a quarta sub-raça desta nossa quinta raça-raiz. Valham-me Deus e Santa Maria! Se cometi algum erro muito grave naquela antiga idade, foi o de haver-me filiado à Ordem da Jarreteira, mas é óbvio que os Deuses quiseram me perdoar…

Ascender até as nuvens por meio de suas amizades não é nada fácil, e, no entanto, é evidente que o consegui, surpreendendo a aristocracia romana. Ao relatar isto não me sinto envaidecido, pois sei que só o Eu gosta de subir, trepar ao topo da escada, chamar a atenção, etc. Cumpro com o dever de narrar, e isso é tudo. Quando saí para as Gálias pedi à minha bela esposa Calpúrnia que, ao regressar, enviasse a meu encontro nossos dois filhos. Bruto morria de inveja recordando minha entrada triunfal na Cidade Eterna; porém, parecia esquecer de propósito meus espantosos sofrimentos nos campos de batalha. O direito de governar aquele império certamente não me foi dado de presente; bem sabem os divinos e os humanos o muito que sofri. em teria podido salvar-me da pérfida conjura, se tivesse sabido escutar o velho astrólogo que visitava minha mansão.

Infelizmente, o demônio dos ciúmes torturava meu coração; aquele ancião era muito amigo de Calpúrnia, e disto eu não gostava muito…

Na manhã daquele trágico dia, ao levantar-me do leito nupcial com a cabeça coroada de louros, Calpúrnia contou-me seu sonho; havia tido uma visão de uma estrela caindo à noite dos céus à Terra, e me advertiu implorando-me que não fosse ao Senado…

Foram inúteis as súplicas de minha esposa. Hoje irei ao Senado, respondi de forma imperativa…

-Lembre-se de que hoje fomos convidados por uma família a almoçar nos arredores de Roma; você aceitou o convite», replicou Calpúrnia…

Não posso comparecer a esse banquete, retruquei. «Vais então deixar essa família aguardando?»” “ Tenho que ir ao Senado…

Horas mais tarde, em companhia de um auriga [cocheiro], dirigia-me em um carro de guerra rumo ao Capitólio da águia romana…

Bem rápido cheguei ali, entre tremendos aplausos da multidão excitada …

"Salve, César!”, me gritavam…

Alguns notáveis da cidade me rodearam no pátio do Capitólio; respondi perguntas, esclareci alguns pontos, etc. Rapidamente, de forma inusitada, aparece diante de mim o velho astrólogo, aquele que antes me havia advertido sobre os “Idos de Março” e os terríveis perigos; me entrega em sigilo um pergaminho no qual estavam anotados os nomes dos conjurados… 

O pobre velho quis salvar-me, mas tudo foi inútil, não lhe fiz caso; além do mais, estava muito ocupado atendendo a tantos ilustres romanos…

Depois, sentindo-me invencível e invulnerável, com aquela atitude cesárea que me caracterizava, avancei rumo ao Senado entre as colunas olímpicas do Capitólio. Mas, ai de mim! Os conjurados me espreitavam detrás daquelas heroicas colunas; a afiada lâmina do punhal assassino dilacerou minhas costas…

Acostumado a tantas batalhas, instintivamente tratei de empunhar minha espada, mas sinto que desmaio; vejo Bruto e exclamo: Tu também, filho meu!? Logo… a terrível Parca leva minha alma…“

Retornar à velha Roma dos Césares através da pena deste sábio contemporâneo é, como comprovará nosso querido leitor, um gozo para a Alma e uma aula superior para nossas Consciências.

Ninguém pode negar que os grandes conquistadores sempre deram muita importância a tudo que sonhavam. Alexandre, o Grande, apesar de haver sido educado cientificamente por Aristóteles, atuava de acordo com as mensagens recebidas nas horas noturnas: quando estava decidido a abandonar a cidade de Tiro, persistiu e a conquistou por causa de um sonho.

A lenda conta também que Aníbal previu em sonhos uma de suas vitórias. Em troca, o rei inglês Ricardo III, como reconhecem os historiadores, foi assaltado por “ horríveis imagens” antes de sua derrota e morte em Bosworth Field.

Diz-se que Napoleão sonhou com um gato preto que corria de um exército para outro e com a derrota de suas tropas às vésperas da batalha de Waterloo.

O assassinato do Arquiduque Francisco Ferdinando, da Áustria-Hungria, que motivou a Primeira Guerra Mundial, foi também previsto em um sonho. O bispo Joseph Lanyi, tutor do arquiduque, sonhou que o matavam a tiros enquanto andava de carro por Sarajevo. O alarmado Lanyi, contam os livros, anotou os detalhes do sonho e tentou prevenir o Arquiduque, mas não teve tempo: nesse mesmo dia recebeu um telegrama com a notícia do assassinato tal como havia visto. 

De Adolf Hitler se conta que, sendo cabo na frente Bávara, foi despertado por um sonho onde se via enterrado sob montes de terra e ferro fundido. Ele mesmo contou, tempos depois, que abandonou o lugar onde dormia e se arrastou, penetrando na “terra-de-ninguém”. Imediatamente ocorreu uma explosão a poucos metros, e, quando voltou correndo a esconder-se, viu uma cratera enorme no lugar que acabara de abandonar. Os homens que dormiam junto a ele estavam enterrados sob a massa de terra.

O próprio Abraham Lincoln (muitos terão ouvido falar das enormes coincidências entre sua vida e a de outro dos presidentes dos EUA, John F. Kennedy) sonhou com sua morte poucos dias antes de ser assassinado por John Wilkes Booth. Segundo contou sua mulher, ia passeando pelos corredores da Casa Branca quando escutou choro. Ao chegar ao salão, viu um cadáver que jazia em um velório, acompanhado pelos parentes e uma guarda militar. Quando perguntou a um dos soldados quem era, a resposta foi: “O Presidente. Foi assassinado.”

E, se nosso querido leitor ainda tem paciência, podemos narrar-lhe como até a ciência moderna foi levada pelo destino a uma aliança com os sonhos. Friedrich August Kekulé, célebre químico alemão, do qual com certeza se recordam os jovens estudantes desta matéria, não conseguia sucesso em seus esforços para compreender a estrutura molecular do benzeno (benzina). Uma noite sonhou que umas moléculas desse composto bailavam, adotando a forma de uma serpente mordendo a cauda. Então se deu conta, como “fulminado por um raio”, da propriedade singular que lhe faltava para descobrir na benzina: sua estrutura em forma de anel.

Dimitri Ivanovich Mendeleiev sonhou em 1869 que os elementos químicos se ordenavam, bailando, até se colocarem de uma forma determinada. O cientista russo não tardou a perceber que seguiam uma ordem crescente de acordo com seus pesos atômicos. Este ordenamento é nada menos que o que hoje conhecemos como a Tabela Periódica dos Elementos. 

O assiriólogo americano Hermann Volrath Hilprecht, prosseguindo com nossa lista, teve uma revelação parecida enquanto dormia. Incapaz de identificar duas antigas ágatas com curiosas inscrições, sonhou que falava com um sacerdote da Babilônia, que lhe dava a resposta: “Ambas são fragmentos de uma mesma inscrição.” Hilprecht as uniu e, graças a isso, pôde alegremente decifrá-las. 

Elias Howe, a quem a moda tanto deve, havia passado anos idealizando uma máquina de costura, mas não conseguia sucesso. Uma noite, como depois confessou, sonhou que uns selvagens o atacavam e lhe davam um ultimato: “ Ou inventas esta máquina ou morrerás” ; os selvagens agitavam suas lanças, e nas pontas destas havia alguns buracos. Aí estava a solução que havia estado procurando: agulhas com orifícios nas pontas! 

Albert Szent-Györyi, aquele ilustre bioquímico húngaro descobridor da vitamina C e Prêmio Nobel de Medicina, assegurou com justa razão: “Meu trabalho não termina quando me levanto da cadeira. Continuo refletindo sobre meus problemas e, até quando durmo, meu cérebro segue pensando neles, porque desperto com as soluções para os problemas que estavam me intrigando.” 

E, se nosso leitor está assombrado com estes relatos, espere para ver alguns outros que demonstram a importância que o mundo dos sonhos teve, inclusive no mundo da arte.

O grande poeta inglês Samuel Taylor Coleridge, sem ir mais além, se dispôs uma tarde a tirar uma soneca. As últimas palavras que leu antes de dormir, como informou depois o poeta, foram: “O Kublai Khan mandou que construíssem ali um palácio.”Três horas mais tarde, despertava, com centenas de versos na cabeça. As imagens poéticas se apresentavam a ele - escreveu - como “coisas sem a menor sensação de esforço”. Rapidamente rascunhou os majestosos versos iniciais de “Kublai Khan”: 

“Em Xanadu, Kublai Khan mandou que levantassem sua cúpula solitária: ali onde corre Alfa, o rio sagrado, por cavernas que nunca o homem sondou, até um mar que o sol nunca alcança…”

O escritor Robert Louis Stevenson, a quem muitos devemos os bons momentos passados com “A Ilha do Tesouro”, atribuía muitos de seus trabalhos literários à colaboração de suas duas mentes, a desperta e a adormecida. O célebre autor assegurava poder sonhar histórias à vontade quando precisava vender com urgência mais folhetins, retomando inclusive um enredo onde o havia deixado na noite anterior.

Seu grande relato “O Estranho Caso do Dr. Jekyll e Mr. Hyde” foi o resultado de um destes sonhos tão oportunos. Segundo contou mais tarde, já há muito tempo vinha querendo produzir uma obra que refletisse “essa forte sensação da dupla personalidade do homem… quando me vi numa dessas baixas financeiras”. Foi então quando viu, nesse fantástico mundo dos sonhos, todas aquelas cenas depois recolhidas por sua pena, inclusive aquela em que Hyde ingere alguns pós e se transforma diante de seus perseguidores.

E, para continuar com esta lista de casos que chegaram até nós, citaremos agora o compositor italiano do século XVIII Giuseppe Tartini, que sonhou que, depois de assinar um pacto com o diabo, colocava nas mãos deste seu violino. 

“Quão grande não foi meu espanto - escreveu - ao ouvi-lo tocar com consumada habilidade uma sonata de tão extraordinária beleza que excedia os vôos mais atrevidos de minha imaginação.” Ao despertar, “tratei de recordar os sons que havia escutado. Mas foi em vão. Contudo, a peça que então compus, a ‘Sonata do Diabo’ (também chamada ‘O Assobio do Diabo’), é a melhor que já escrevi, ainda que esteja muito abaixo daquela que ouvi em sonhos!”

E, para terminar, diremos a nosso caro leitor que, se relatamos todas essas histórias é porque, como diz o refrão, “é dos bem-nascidos serem agradecidos”. Foi o que quisemos fazer neste capítulo, com o maltratado e às vezes menosprezado mundo dos sonhos. Seja-nos permitido agora concluir fazendo eco às palavras de Havelock Ellis, que afirmou: “Os sonhos são reais enquanto duram. Será que podemos dizer mais da vida?”


O Auto-Conhecimento Através dos Sonhos


"Durante o sono, o Ego escapa do corpo físico. Esta saída do Ego é necessária para que o corpo vital possa reparar o corpo físico.

Podemos assegurar que o Ego leva seus sonhos aos mundos internos. Nos mundos internos o Ego se ocupa das mesmas coisas que o mantêm fascinado no físico. Assim, vemos o carpinteiro durante o sonho em sua carpintaria, o policial cuidando das ruas, o barbeiro na barbearia, o serralheiro na serralheria, o bêbado no bar ou no botequim, a prostituta na casa de prazeres entregue à luxúria, etc. Todas essas pessoas vivem nos mundos internos como se estivessem no mundo físico.

Ninguém se lembra de perguntar a si mesmo durante o sonho se está no mundo físico ou no astral. Os que se fizeram tal pergunta durante o sonho despertaram nos mundos internos. Então, com assombro, puderam estudar todas as maravilhas dos mundos superiores. Só acostumando-nos a fazer essa pergunta a nós mesmos, de instante em instante, durante o chamado estado de vigília, podemos chegar a fazer-nos a mesma pergunta nos mundos superiores, durante as horas do sono.

É claro que durante o sono repetimos tudo o que fazemos durante o dia. Se durante o dia nos acostumamos a fazer-nos esta pergunta, durante o sono noturno, estando fora do corpo, repetiremos a mesma pergunta a nós mesmos. O resultado será o despertar da Consciência.

O Matrimônio Perfeito"

Mesmo rodeados por tribos belicosas que habitam as espessas selvas da Malásia, no espaço de duzentos ou trezentos anos não se registraram entre os Senoi, como admitem os entendidos no assunto, crimes violentos nem conflitos comunitários. São gente pacífica, de comportamento doce; suas relações interpessoais chegaram a tal grau de superação que os povos que os rodeiam chegam a interpretá-lo como produto de uma magia especial. Os Senoi se riem interiormente de tais crenças, mas não fazem nada para desmentí-las, pois lhes são muito úteis para manter a paz, tanto com os de fora como dentro da comunidade.

O que os Senoi têm, na realidade, é um profundo conhecimento dos sonhos, aos quais atribuem valor decisivo. São os sonhos que ditam o momento e o modo de levar a cabo cada acontecimento importante da vida; por isso sua interpretação constitui a principal ocupação da tribo. O resultado, segundo os estudos efetuados por alguns investigadores, é uma sociedade na qual praticamente não existe agressão ou violência.

Desde a mais tenra idade se ensina às crianças a contar seus sonhos, instruindo-as sobre o método de controlá-los. Muitos afirmam que os Senoi devem a isso sua estabilidade psíquica e social.

Ainda que estejamos aqui no Ocidente, é importante que também comecemos a entender a importância que os sonhos podem chegar a ter para melhorar nossa relação social com as outras pessoas e até conosco mesmos.

Devemos começar, paulatinamente, a adquirir uma disciplina para não esquecer as situações e acontecimentos que vivemos fora do corpo, enquanto este dorme.

Com isto não estamos afirmando que todos os sonhos possam chegar a ser transcendentes para nossa vida, pois já dissemos que muitos deles são o produto desse mundo de desejos que se oculta no subconsciente humano, como dissera Freud. Não devemos esquecer que o mamífero racional que povoa hoje os cinco continentes é, em 97%, material egóico ou, em outras palavras, que a lucidez e o discernimento dados pela Consciência estão só uns 3% livres;o restante está condicionado terrivelmente por esse conjunto de elementos indesejáveis que temos dentro de nós: ira, cobiça, luxúria, inveja, orgulho, preguiça, gula, etc., etc., etc.

Os sonhos relacionados com este subconsciente freudiano são os que se encontram vinculados, por exemplo, ao centro Instintivo-Motor, isto é, são o eco de coisas vistas no dia, de simples sensações e movimentos, mera repetição astral do que vivemos diariamente...

Também algumas experiências emocionais, como o medo, que tanto mal faz à humanidade, costumam ocorrer nestes sonhos caóticos do Centro Instintivo-Motor.

Existem então sonhos intelectuais, emocionais, motores, instintivos e sexuais: sonhos que se relacionam com os cinco centros inferiores da máquina humana.

Contudo, não é demais recordar que todo sonho, por absurdo ou incoerente que seja, tem algum significado, pois nos indica não só o centro psíquico ao qual se acha associado mas também o estado psicológico de tal centro.

A própria História nos conta, ao longo dos milênios, como os grandes malvados e tiranos eram assaltados por sonhos maus. Popularmente se diz que os bons e piedosos dormem “o sono dos justos”. Recordemos, por um instante, os tormentos que a mulher de Pôncio Pilatos sofreu em sonhos na noite antes que o procurador romano condenasse Jesus Cristo à morte (Mateus 27, 19).

Assim diz o refrão popular: “A consciência tranquila é o melhor travesseiro”.

Realmente, todo aquele que queira conhecer integramente suas profundezas psicológicas deve converter-se em espião de seus próprios sonhos.

Quais são as atividades mentais durante o sonho? Que emoções nos agitam e comovem? Quais são nossas atividades fora do corpo físico? Que sensações instintivas predominam? Já reparamos nos estados sexuais que temos durante os sonhos?

Devemos ser sinceros conosco mesmos. Com justa razão disse Platão: “Conhece-se o homem por seus sonhos”.

Muitos penitentes que se presumiam castos foram submetidos a provas nos mundos internos; falharam no centro sexual e caíram em poluções noturnas.

“Por tudo quereis ser responsáveis, exceto por vossos sonhos. Que miserável debilidade, que falta de coragem e de lógica. Nada é mais propriedade vossa que vossos sonhos”, chegou a afirmar em tom enfático o grande filósofo alemão Friedrich Nietzsche.

Inquestionavelmente, no Adepto perfeito, os cinco centros psíquicos - intelectual, emocional, motor, instintivo e sexual - funcionam em plena harmonia com o Infinito.

A questão do funcionamento equivocado dos centros é um tema que exige estudo por toda a vida, através do exame de si mesmo em ação e do estudo rigoroso dos sonhos.

Não é possível chegar imediatamente a compreender os centros e seu trabalho correto ou equivocado; necessitamos infinita paciência...

Toda a vida se desenvolve em função dos centros e é controlada por estes.

Nossos pensamentos, sentimentos, idéias, esperanças, temores, amores, ódios, ações, sensações, prazeres, satisfações, frustrações, etc., encontram-se nos centros.

O descobrimento de algum elemento inumano em qualquer dos centros deve ser motivo mais que suficiente para o trabalho esotérico.

Todo defeito psicológico deve ser previamente compreendido, mediante a técnica da meditação, antes de se proceder a sua eliminação.

Extirpar, erradicar, eliminar qualquer elemento indesejável só é possível invocando o auxílio de “TONANTZIN”, a Divina Mãe KUNDALINI, uma variante de nosso próprio Ser, o FOHAT particular de cada um de nós.

Assim é como vamos morrendo de instante em instante; só com a morte advém o novo...


Tipos de Sonhos


"Enquanto o corpo dorme, o Ego vive nos mundos internos e se transporta a diversos lugares. Nos mundos internos somos provados muitas vezes. Nos templos internos recebemos a Iniciação. É necessário recordar o que fazemos fora do corpo físico.

Com as instruções dadas neste livro, todo ser humano poderá despertar a Consciência e recordar suas experiências internas. É doloroso saber que existem muitos Iniciados que trabalham nos Grandes Templos da Loja Branca enquanto seu corpo físico dorme, e contudo não se recordam de nada porque sua memória se encontra atrofiada.

O Matrimônio Perfeito"

Com tudo o que afirmamos em capítulos anteriores, o leitor já terá vislumbrado, com inteira clareza, que existem diversos tipos de sonhos.

Efetivamente, por um lado encontramos esses sonhos mecânicos, essas vivências relacionadas, como já indicamos, com os cinco centros inferiores de nossa máquina humana.

Esses sonhos já são um elemento básico para o neófito que quer transitar pela senda do auto-conhecimento perfeito.

Se qualquer um de nós leva uma vida repleta de diversas atividades, “estressada”, cheia de preocupações, etc., é normal que os sonhos estejam relacionados com esse matiz que se está vivendo.

Imaginemos um pacífico cidadão de qualquer cidade com um angustiante trabalho de escritório, todo o dia escrevendo à máquina, apresentando relatórios, preenchendo impressos... E corre para lá e para cá, sem parar, totalmente identificado com o que faz, sem lembrar-se nem por um momento de si mesmo, em um estado permanente de nervosismo e preocupação porque vê seu trabalho se acumulando, etc. Então, durante a noite, não é de se estranhar que, enquanto seu corpo dorme docemente na cama, comece a sonhar com seu trabalho, com aquelas folhas e relatórios que tem que apresentar, e é até possível que os temores que abriga em seu subconsciente lhe façam ver coisas fantásticas: a máquina de escrever, por exemplo, aparece com olhos e patas e começa a persegui-lo pelos corredores e ele, desesperado com a situação, corre, grita e, com um sobressalto, empapado de suor, acorda no meio da noite...

Indubitavelmente, nem todos os sonhos estão relacionados com os cinco centros inferiores desta nossa máquina orgânica. Nossos estudantes não devem esquecer que temos mais dois centros, o intelectual superior e o emocional superior.

Certamente, os sonhos relacionados com os dois centros superiores são muito interessantes; caracterizam-se sempre pelo que se poderia chamar de uma formulação dramática...

Se pensamos no Raio da Criação, nos centros superiores e inferiores e nas influências que descem pelo citado Raio Cósmico, devemos admitir que se apresentam em nós vibrações luminosas que tentam curar-nos, que tratam de informar-nos sobre o estado em que nos encontramos, etc. 

É útil receber mensagens e estar em contato com os Adeptos astecas, maias, toltecas, egípcios, gregos, etc.

É também maravilhoso conversar com as diversas partes mais elevadas de nosso Ser (o Divino que temos dentro de nós).

Efetivamente, diversas manifestações dessa “Unidade Múltipla Perfeita”, conhecida como Deus ou Deuses, em realidade seres auto-conscientes que escapam ao nosso entendimento, Adeptos e Iniciados de todas as culturas solares que existiram neste planeta, etc., podem, com grande facilidade, fazer-nos chegar uma mensagem que dê solução à encruzilhada em que nos encontramos e assim influir positivamente no destino de nossa própria vida.

Quando os centros superiores estão plenamente desenvolvidos em nós, é mais fácil receber esse tipo de mensagens superiores que devemos aprender a captar conscientemente. 

Aquelas pessoas muito seletas que já tiveram momentos de “lembrança de si” na vida, nos quais viram uma coisa ou uma pessoa qualquer de um modo completamente novo, não se surpreenderão se dissermos neste capítulo que tais momentos têm a mesma qualidade ou “sabor” interior que esses raros e estranhos sonhos relacionados com os dois centros, emocional e mental superior.

Indubitavelmente, o significado de tais sonhos transcendentais pertence à mesma ordem que a realização em si do Raio da Criação e, em particular, da Oitava Lateral do Sol.

Quando alguém começa a dar-se conta do profundo significado deste tipo específico de sonhos, é sinal de que certas forças lutam por despertar-nos ou curar-nos.

Se nosso amável leitor compreendeu esta questão, entenderá facilmente agora que, fazendo um estudo rigoroso deste tipo superior de sonhos, podemos encontrar os famosos sonhos proféticos ou premonitórios e os sonhos simbólicos.

Que se entende por sonho profético? Ilustremos esta questão com um exemplo: imaginemos, por um momento, que um amável cidadão vê, durante o sonho, que ele e sua família estão em uma bela estação de inverno, desfrutando da neve branca e gelada. Instantes depois observa, nessas visões, que acontece uma avalancha e sepulta vários dos esquiadores que estavam nas proximidades...

O mais provável é que ao despertar, não encontre um sentido, como talvez também não encontrasse o próprio Fuhrer (Hitler) no caso que contamos anteriormente. Mas é possível que, tempos depois, em uma estação de inverno qualquer, sem recordar-se exatamente da tal experiência, de repente dissesse: “Eu já sonhei com isso, acontece uma avalancha e morre gente inocente”... E, quando esses pensamentos passam por sua mente, acontece a tragédia anunciada.

O outro tipo de sonho relacionado com os dois centros superiores é o sonho simbólico. Devemos saber que a linguagem que empregamos para comunicar-nos uns com os outros, essa diversidade de línguas que caracterizam os povos, não é a única linguagem existente.

Aqueles que dissolveram em si mesmos o conjunto de agregados psicológicos e desfrutam de sua Consciência plenamente desperta têm acesso a uma linguagem superior, uma linguagem mágica, poderosa; a linguagem que antigamente falava a humanidade, antes de degenerar em vícios e perversões, uma linguagem que como um rio de ouro corre sob os raios do sol...

São essas Inteligências Solares precisamente as que utilizam, para orientar-nos, um terceiro tipo de linguagem, a linguagem simbólica, similar à que utilizamos para sinais de tráfego, por exemplo. Uma linguagem universal, que pode ser entendida por um oriental ou um ocidental; uma linguagem atemporal, que não variou em sua expressão com o passar do tempo.

Artemidoro de Éfeso, o mais célebre oniromante da época de Marco Aurélio, prova com sua obra que os homens de dois mil anos atrás conheciam os mesmos símbolos que conhecemos hoje. Os etnólogos atestam a mesma coisa com relação às tribos primitivas atuais, apesar de estas não terem tido contato até agora com nossa civilização...

A linguagem simbólica é uma linguagem rápida, precisa, concreta. Com razão diz o refrão: “Uma imagem vale mais que mil palavras”...

Esta é a linguagem dos sonhos do Faraó do Egito, que José interpretou sabiamente. É uma linguagem comparável à das parábolas de Jesus.

Aqueles que interpretam tudo literalmente pensam que o semeador do Evangelho Crístico saiu para semear e que a semente caiu no pedregal, etc., mas não entendem o sentido da parábola porque ela, em si mesma, pertence à linguagem simbólica do centro emocional superior.

Alguém te mencionou certo número em um sonho? Sonhaste que te caía um dente? Uma árvore se tornava viva e falava contigo? Subias em uma montanha e encontravas moedas preciosas? Estavas em casa arrumando umas malas? Esperando a chegada de um trem e quando ele vinha subias nele? São símbolos que transcendem uma mera formulação intelectual, mensagens que vão diretamente à Consciência do ser humano.

Devemos preparar-nos para compreender esta linguagem. Só a intuição e a Consciência desperta nos permitirão desvelar o sentido oculto dos símbolos.

A Consciência desperta é formidável, maravilhosa... Com ela, além do mais, toda possibilidade de esquecimento fica anulada...

Muitos equivocados sinceros acham que não sonham. O que realmente acontece é que não nos lembramos dos sonhos. Quantas vezes já não nos aconteceu que, estando certos de não haver sonhado nada durante a noite, no curso do dia nos lembramos de repente de um sonho esquecido?

Com o tratamento psicanalítico, pacientes que acreditavam não ha ver sonhado nada começam a contar suas experiências oníricas. 

O estado inconsciente em que vivemos, com demasiada carga egoica, não nos permite tomar conhecimento das vivências que temos em corpo astral e trazê-las ao mundo físico. 

Necessitamos, portanto, compreender a necessidade urgente de despertar nossa Consciência. É demasiado importante esta carta que nos entregam nos sonhos, para que a recebamos e, como diz com acerto o Talmude, a deixemos de lado e não a abramos jamais...