“A mente do intuitivo flui serena e silenciosa, deliciosamente, como fonte cristalina de resplandecente beleza, entre o augusto trovejar do pensamento”.
Samael Aun Weor
AS TRÊS MENTES
As personalidades “kalkianas” são desrespeitosas, irreverentes. Esse tipo de personalidade das escolas pseudo-esotéricas e pseudo-ocultistas perdeu não só o sentido da autêntica devoção e da verdadeira religiosidade, mas também o da veneração aos Patriarcas antigos.
Desse modo, a humanidade, podendo ser dirigida por religiões verdadeiramente sábias, degenerou em suas sabichonices ridículas, formando-se assim a personalidade kalkiana. É conveniente saber confrontar uma personalidade kalkiana com uma personalidade autenticamente esoterista. Qual é a diferença?
A personalidade kalkiana está cheia de sabichonices, engarrafada no dogma da Evolução, mal informada sobre a constituição interna do homem; desconhece os mistérios tântricos, teme o desenvolvimento da Serpente Ígnea na espinha dorsal e, além do mais, o fato de estar abarrotada de teorias produz nela uma sensação de autossuficiência.
Sem dúvida, a personalidade kalkiana é vítima do autoengano. Crê haver conseguido tudo quando nada conseguiu, e o pior é que perdeu o sentido da veneração, esqueceu-se da verdadeira e autêntica religiosidade, e perdeu também a humildade diante do Logos Criador. Esta é a personalidade kalkiana.
A Revolução da Dialética
Existem por toda parte muitos velhacos do intelecto, sem orientação positiva e envenenados pelo asqueroso ceticismo. Certamente, o veneno repugnante do ceticismo contagiou as mentes humanas de forma alarmante a partir do século XVIII.
Antes daquele século, a famosa ilha Nontrabada, ou Encoberta, situada frente à costa da Espanha, se fazia visível e tangível constantemente. Não há dúvida de que tal ilha se encontra situada dentro da “Quarta Vertical”.
Muitas são as histórias relacionadas com essa ilha misteriosa. Depois do século XVIII, a citada ilha perdeu-se na Eternidade, e ninguém mais sabe nada sobre ela. Na época do Rei Artur e dos cavaleiros da Távola Redonda, os elementais da natureza se manifestavam por toda parte, penetrando profundamente em nossa atmosfera física.
São muitos os relatos sobre duendes, gênios e fadas, que ainda abundam na verde Erim, a Irlanda. Infelizmente, todas essas coisas inocentes, toda essa beleza da Alma do Mundo, já não são percebidas pela humanidade, devido às sabichonices dos velhacos do intelecto e ao desenvolvimento desmesurado do ego animal.
Hoje em dia, os sabichões riem de todas estas coisas; não as aceitam, ainda que no fundo nem remotamente tenham alcançado a felicidade. Se as pessoas entendessem que temos três mentes, “outro galo cantaria”; possivelmente até se interessariam mais por estes estudos.
Infelizmente, os “ignorantes ilustrados”, metidos nos meandros de suas difíceis erudições, nem sequer têm tempo para ocupar-se de nossos estudos seriamente. Essas pobres pessoas são autossuficientes, estão envaidecidas com o vão intelectualismo.
Pensam que vão pelo caminho certo, e nem remotamente suspeitam que se encontram metidas num beco sem saída. Em nome da verdade, devemos dizer que, em síntese, temos três mentes.
A primeira, podemos e devemos chamá-la de Mente Sensorial; a segunda, batizaremos com o nome de Mente Intermediária; a terceira chamaremos de Mente Interior. Vamos agora estudar cada uma destas três mentes separadamente e de forma criteriosa.
Inquestionavelmente, a Mente Sensorial elabora seus conceitos de conteúdo mediante as percepções sensoriais externas. Nestas condições, a mente sensorial é terrivelmente grosseira e materialista, e não pode aceitar nada que não tenha sido demonstrado fisicamente.
Como os conceitos de conteúdo da Mente Sensorial têm por fundamento os dados sensoriais externos, é óbvio que essa nada pode saber sobre o Real, sobre a Verdade, sobre os mistérios da vida e da morte, sobre a Alma e o Espírito, etc., etc., etc.
Para os velhacos do intelecto, aprisionados totalmente pelos sentidos externos e engarrafados nos conceitos de conteúdo da Mente Sensorial, nossos estudos esotéricos parecem loucura. Dentro da razão sem razão, no mundo da insensatez, eles têm razão, devido a que estão condicionados pelo mundo sensorial externo.
Como poderia a Mente Sensorial aceitar algo que não seja sensorial? Se os dados dos sentidos servem de base secreta para todos os processos de funcionamento da Mente Sensorial, é óbvio que só podem originar conceitos sensoriais. Vou narrar, para tornar mais compreensíveis estas palavras, algo muito interessante.
Houve certa vez um grande congresso na Babilônia, na época do esplendor egípcio. Veio muita gente da Assíria, do Egito, da Fenícia, etc. O tema era interessante: queria-se saber, por meio de puras discussões analíticas, se o ser humano tinha ou não Alma.
É óbvio que os cinco sentidos já se haviam degenerado bastante; só assim se explica porque essas pessoas escolheram este tema para o Congresso. Em outros tempos, um congresso assim teria sido ridículo; nunca teria ocorrido aos Lemurianos celebrar um congresso desse tipo; as pessoas do Continente “Mu” só precisavam sair de seu corpo físico para saber se tinham ou não tinham Alma, e faziam isso com uma facilidade tremenda. Houve muitas discussões, tanto a favor como contra.
Finalmente, subiu à Tribuna da Eloquência um grande sábio assírio, educado nos Mistérios do Egito, e falou energicamente, dizendo: “A razão nada pode saber sobre o Real, sobre a Alma imortal; a razão tanto pode servir para sustentar uma teoria espiritualista como uma materialista; poderia elaborar uma tese espiritualista com uma lógica formidável, e também poderia estruturar, por oposição, uma tese materialista com uma lógica similar...
De modo que a razão subjetiva, sensorial, nutrida com os dados trazidos pelos cinco sentidos, serve para tudo; pode fabricar teses espiritualistas ou materialistas; portanto, não é uma coisa em que se possa confiar... Existe um sentido diferente, que é o da Percepção Instintiva Das Verdades Cósmicas (é uma faculdade do Ser).
Mas a Razão Subjetiva não pode, por si mesma, dar-nos verdadeiramente nenhum dado sobre a Verdade, sobre o Real; a razão sensorial nada pode saber sobre os mistérios da vida e da morte... Vocês, com seus raciocínios, nada podem saber sobre a Verdade, sobre a Alma, sobre o Espírito; a mente racionalista não pode saber nada sobre isso...”
Aquele homem falou com muita eloquência e em seguida se retirou, afastando-se definitivamente de todo escolasticismo; preferiu deixar de lado o racionalismo subjetivo e desenvolver em si mesmo aquela faculdade já citada por ele, e que se conhece pelo nome de “Percepção Instintiva das Verdades Cósmicas”, faculdade que a Humanidade em geral tivera outrora, mas que se atrofiou à medida que o “Eu Psicológico”, o “Mim Mesmo”, o “Si Mesmo” foi se desenvolvendo.
Dizem que aquele sábio assírio, egresso do Egito, afastado de qualquer escola, foi cultivar a terra e confiar exclusivamente nessa prodigiosa faculdade do Ser. Indo um pouco mais longe, encontraremos, como já informamos ao paciente leitor, que existe uma Mente diferente da Mente Sensual: nos referimos à Mente Intermediária.
A Mente Intermediária é diferente, mas tampouco pode saber qualquer coisa de forma direta sobre o Real; limita-se a crer, e isso é tudo. Na Mente Intermediária estão as crenças religiosas, os dogmas inquebrantáveis, etc.
Os dados trazidos por todas as escolas religiosas vão elaborando um molde espiritual dogmático e antiquado na débil mente humana. Essa forma de pensar, chamemo-la “crente”, é a base da Mente Intermediária. Além desta Mente, além do crer ou não crer, se encontra a Mente Interior.
A Mente interior é fundamental para a experiência direta da Verdade. Indubitavelmente, a Mente Interior elabora seus conceitos de conteúdo com os dados proporcionados pela Consciência Superlativa do Ser.
Inquestionavelmente, a Consciência pode vivenciar e experimentar o Real. Não há dúvida de que a Consciência conhece a Verdade. Contudo, para sua manifestação, a Consciência necessita de um mediador, de um instrumento de ação, e este é a Mente Interior.
A Consciência conhece diretamente a realidade de cada fenômeno natural, e pode manifestá-la mediante a Mente Interior A fim de sair do mundo das dúvidas e da ignorância, o indicado seria abrir a Mente Interior. Jesus, o Grande Kabir, adverte seus discípulos, dizendo-lhes: “Cuidai-vos da levedura dos saduceus e da levedura dos fariseus”.
É evidente que Jesus, o Cristo, se referia, com esta advertência, às doutrinas dos materialistas saduceus e dos hipócritas fariseus. A Mente Sensual, com todas as suas teorias, é conhecida nos Evangelhos como a “levedura dos saduceus”, quer dizer, das doutrinas materialistas, ateístas, como por exemplo a dialética marxista.
Estas são doutrinas dos sentidos. A “levedura dos fariseus” corresponde à Mente Intermediária. E quem são os “fariseus”? São os que comparecem a seus Templos, suas Escolas, Religiões e Seitas para que todos os vejam. Escutam a palavra, mas não a realizam em si mesmos.
São como o homem que se olha no espelho e se vai; assistem aos ritos unicamente para que os outros o vejam, mas nunca trabalham sobre si mesmos; isto é gravíssimo. Contentam-se com as simples crenças, não lhes interessa a transformação íntima.
O resultado é que perdem seu tempo miseravelmente e fracassam. Immanuel Kant, o filósofo, faz uma distinção entre a “Crítica da Razão Subjetiva” e a “Crítica da Razão Pura”; não há dúvida de que a Razão Subjetiva, racionalista, jamais poderia trazer-nos nada que não pertencesse ao mundo dos cinco sentidos.
O intelecto é, em si mesmo, racionalista e subjetivo; sempre que ouve sobre o tema reencarnação, ou sobre Karma, exige provas, demonstrações; mas as verdades que só podem ser percebidas pela Mente Interior não poderiam ser demonstradas às pessoas sensuais.
Exigir provas disso no mundo sensorial externo equivale a exigir a um bacteriólogo que estude os micróbios com um telescópio, ou exigir de um astrônomo que estude as estrelas com o microscópio...
É certo que as pessoas exigem provas, mas essas provas não podem ser dadas à Razão Subjetiva, porque esta não tem nada que ver com o que não pertence ao mundo dos cinco sentidos. Temas como a reencarnação, Karma, vida após a morte, etc., são de fato exclusividade da Mente Interior, jamais da Mente Sensual.
Amigo leitor, se a Razão é um instrumento de cognição pobre, será que a solução está na Mente Intermediária? Claro que não! Nas crenças só se encontra dogmatismo, fanatismo e suprema ignorância. Não há dúvida de que a fé é uma coisa diferente. Distinga-se entre fé e crença.
As crenças estão depositadas na Mente Intermediária; a fé é característica da Mente Interior. A fé é percepção direta do Real, sabedoria fundamental, vivência disso que está além do corpo, das emoções e da mente. Infelizmente, existe sempre a tendência geral a confundir a crença com a fé.
Ainda que pareça paradoxal, enfatizaremos o seguinte: “QUEM TEM FÉ VERDADEIRA NÃO PRECISA CRER”. É que a fé autêntica é sapiência vivida, cognição exata, experiência direta. Acontece que, durante muitos séculos, confundiu-se a fé com a crença, e agora custa muito trabalho fazer com que as pessoas compreendam que a fé é sabedoria verdadeira, e nunca crenças vãs.
A atividade sábia da Mente Interior tem, como recursos íntimos, todos esses dados formidáveis da sabedoria contida na Consciência.
Quem abriu a Mente Interior recorda suas vidas anteriores, conhece os mistérios da vida e da morte, não pelo que tenha lido ou deixado de ler; não pelo que alguém tenha dito ou deixado de dizer; não pelo que tenha acreditado ou deixado de acreditar, mas pela experiência direta, vívida, terrivelmente real.
Isto que estamos dizendo não agrada à Mente Sensorial, não pode aceitá-lo porque sai de seus domínios; nada tem a ver com as percepções sensoriais externas; é algo alheio a seus conceitos de conteúdo, ao que lhe ensinaram na escola, ao que aprendeu em diferentes livros, etc., etc.
Isto que estamos dizendo tampouco é aceito pela Mente Intermediária, porque de fato contraria suas crenças, desvirtua o que seus preceptores religiosos a fizeram aprender de memória, etc. Compreendamos com tudo isto que nem a Mente Sensual nem a Mente Intermediária podem servir-nos para conhecer a Verdade.
Afastemo-nos, como dizia Jesus, o Cristo, da “levedura dos saduceus e dos fariseus”, e pensemos em abrir a “Mente Interior”. Como fazê-lo? Não seria possível abrir a mente interior se não aprendêssemos a pensar psicologicamente. Inquestionavelmente, quando alguém começa a observar-se a si mesmo é sinal de que começou a pensar psicologicamente.
Enquanto não admitamos a realidade de nossa própria psicologia e a possibilidade de mudá-la fundamentalmente, indubitavelmente não sentiremos a necessidade da auto-observação psicológica.
Quando alguém aceita a Doutrina dos Muitos e compreende a necessidade de eliminar os diversos “eus” que carrega em sua psique com o propósito de liberar a Consciência, a Essência, indubitavelmente inicia, de fato e por direito próprio, a auto-observação psicológica.
Obviamente, a eliminação dos elementos indesejáveis que trazemos em nossa psique origina a abertura da Mente Interior. Tudo isto significa que a citada abertura é algo que se realiza de forma gradativa, à medida em que vamos aniquilando os elementos indesejáveis que temos em nossa psique.
Quem tenha eliminado cem por cento dos elementos indesejáveis de seu interior, obviamente também terá aberto sua Mente Interior cem por cento. Uma pessoa assim possuirá a fé absoluta.
Agora vocês compreenderão as palavras do Cristo, quando disse: “Se tivésseis fé como um grão de mostarda, poderíeis mover montanhas.”
A ORGANIZAÇÃO DA PSIQUE
Quando falo de organizar a psique, deve-se saber entender. Temos que manejar energias, sabê-las utilizar, não nos identificar, para não malgastar nossas energias estupidamente, não nos esquecer de nós mesmos.
Quando alguém se esquece de si mesmo e se identifica, então não pode dar forma à psique, não pode fazer com que se estruture inteligentemente em si mesma, porque malgasta estupidamente suas energias. É urgente que entendam isto, meus queridos irmãos...
Assim, um homem verdadeiro é um homem que economizou suas energias e que, mediante as mesmas, pôde criar os Corpos Existenciais Superiores do Ser. Um Homem verdadeiro é aquele que recebeu seus princípios anímicos e espirituais.
Um HOMEM PERFEITO é aquele que desintegrou, diríamos, todos os elementos psíquicos infra-humanos e que, em lugar desses elementos indesejáveis, deu forma ao HOMEM INTERIOR.
El Quinto Evangelio: “El Poder Intuicional del Hombre Psicológico”.
Uma alma vem ao mundo e, sem esforço algum, recebe um corpo físico, um corpo maravilhoso, com aproximadamente bilhões de neurônios à sua disposição. Conforme a criança vai crescendo, a Mente Sensual vai se abrindo pouco a pouco, e vai se informando mediante as percepções sensoriais externas.
É precisamente com os dados fornecidos por tais percepções que, como já afirmamos, a Mente Sensual elabora sempre seus conceitos de conteúdo, motivo pelo qual jamais pode saber coisa alguma sobre o REAL; seus processos racionais são subjetivos, movem-se dentro de um círculo vicioso: o das percepções sensoriais externas...
Agora vocês compreenderão um pouco melhor o que é a Razão Subjetiva em si mesma. Mas deve-se fazer uma plena diferenciação entre Razão Subjetiva e Razão Objetiva. É óbvio que a criança tem que passar pelos processos educacionais; jardim de infância, curso primário e secundário, preparatório e universidade.
A Razão Subjetiva se nutre com todos os dados que as diversas instituições acadêmicas lhe fornecem, mas é verdade que nenhum instituto docente poderia dar ao menino, ao jovem ou adolescente dados exatos sobre ISSO que não é do tempo, sobre ISSO que é o REAL.
Em verdade, amigos, as especulações da Razão Subjetiva acabam conduzindo o intelectual ao terreno absurdo da utopia ou, no melhor dos casos, ao das simples opiniões subjetivas, mas nunca à experiência verdadeira d’ISSO que não é do tempo, ISSO que é a VERDADE. Em troca, a Razão Objetiva (que infelizmente não recebe instrução alguma e para a qual não há escolas), permanece sempre abandonada.
Os processos de raciocínio da Razão Objetiva nos conduzem a postulados exatos e perfeitos; mas a criança, de um lugar a outro, é educada subjetivamente, não existe para ela nenhuma forma de instrução superior.
Os dados que os sentidos fornecem à Mente subjetiva do adolescente (à Mente Sensual, diríamos), todas as questões de escola, de família, etc., são meramente empíricas e subjetivas, e isso é lamentável.
De início, a criança não perdeu ainda a capacidade de assombro. Ela se assombra diante de qualquer fenômeno; um belo brinquedo desperta nela o assombro, e a criança se diverte com seus brinquedos.
Mas, conforme vai crescendo, conforme sua Mente Sensual vai recebendo dados da escola, do colégio, a CAPACIDADE DE ASSOMBRO vai desaparecendo, e por fim chega o instante em que a criança se converte em jovem, em um jovem que perdeu completamente esta capacidade.
Infelizmente, os dados que alguém recebe nos colégios, nas escolas, nos centros educacionais, nas academias, nas universidades, etc., só servem para nutrir a Mente Sensual e nada mais. Desta forma, e com os sistemas de educação atuais, a única coisa que conseguimos é forjar uma PERSONALIDADE ARTIFICIAL.
Em nome da verdade, temos de dizer que as matérias que se estudam atualmente nas escolas não têm relação alguma com as diferentes partes do Ser. Por isso é que só servem para falsear os cinco cilindros da máquina orgânica, tirar-nos a CAPACIDADE DE ASSOMBRO, desenvolver a Mente Sensual e forjar em nós uma personalidade falsa, e isso é tudo.
Convém entender que a Mente Sensual, por muito culta que pareça, nunca poderia tirar alguém do automatismo e da mecanicidade em que se encontram todas as pessoas, todo o mundo. Além disso, se acrescentamos a esta questão os dogmas de fé, as conjecturas espirituais, as hipóteses religiosas da Mente Intermediária, é óbvio que o ser humano se encontra atualmente em um beco sem saída, onde não pode haver uma transformação radical.
Uma coisa é o homem meramente animal, isto é, o “animal intelectual”, e outra coisa (em verdade muito diferente) é o verdadeiro HOMEM PSICOLÓGICO. Ao citar a palavra “homem”, incluo também, naturalmente, a mulher.
Nascemos com um corpo físico maravilhoso, mas, na realidade e de verdade, precisamos fazer mais alguma coisa... Formar o corpo físico não é difícil (nós o herdamos), mas formar o HOMEM PSICOLÓGICO, sim, é difícil.
Para formar o corpo físico não necessitamos trabalhar sobre nós mesmos, mas para formar o HOMEM PSICOLÓGICO devemos realmente trabalhar sobre nós mesmos. Trata-se de ORGANIZAR A PSIQUE para criar o HOMEM PSICOLÓGICO, que é o verdadeiro Homem, no sentido mais completo da palavra.
Distinga-se, pois, entre o “animal intelectual” e o verdadeiro e autêntico HOMEM PSICOLÓGICO. Necessitamos trabalhar sobre nós mesmos, se é que queremos criar tal Homem. Contudo, existe uma luta em nós: a Mente Sensual e a Mente Intermediária são inimigas declaradas da Mente Interior.
A Mente Sensual, por exemplo, se identifica com qualquer circunstância. Se de repente nos encontramos em um opíparo banquete, nos identificamos tanto com a comida que nos convertemos em glutões.
Quando nos oferecem um copo, nos identificamos tanto com a bebida que terminamos embriagados. Se encontramos em nosso caminho uma pessoa do sexo oposto, fascinante, interessante, nos identificamos tanto com ela que terminamos em fornicações e convertidos simplesmente em adúlteros.
Nestas circunstâncias, deste modo, não é possível criar o HOMEM PSICOLÓGICO. Se temos que iniciar o trabalho de criar o HOMEM PSICOLÓGICO por alguma parte, será trabalhado sobre nós mesmos, não nos identificando jamais com nenhuma circunstância e nos auto-observando de instante em instante, de momento em momento.
Há quem erre o caminho. Existem Sociedades, Ordens, Lojas, Religiões, Seitas, que pretendem organizar a psique humana mediante certas máximas “de ouro”; comunidades que pretendem, mediante tal ou qual máxima, comportar-se em todas as circunstâncias da vida, a fim de conseguir o que eles chamariam de “purificação”, “santidade”, etc. É urgente analisar tudo isto...
É óbvio que uma máxima qualquer, ética ou religiosa, nunca poderia servir de padrão para os diversos acontecimentos da vida. Uma máxima, ainda que estruturada com a LÓGICA SUPERIOR de um Ouspenski, por exemplo, jamais poderia criar um novo Cosmos ou uma nova Natureza.
Subordinarmo-nos estritamente a uma máxima com o propósito de organizar nossa psique seria absurdo. Isto significaria converter-nos em escravos... De modo que convém refletirmos sobre muitos códigos éticos e morais com suas “máximas de ouro”.
Todas essas regras ou máximas jamais podem transformar ninguém. Além disso, existem fatores que devem ser analisados antes que alguém possa entrar no trabalho de organizar a psique. Sem dúvida que um enunciado demonstrativo, por exemplo, por muito bonito e perfeito que fosse, poderia ser falso, e, o que é pior, intencionalmente falso.
Assim, ao tentarmos uma transformação de nós mesmos, temos que tornar-nos um pouco mais individualizados (não quero dizer “egoístas”). Que se entenda isso como APRENDER A PENSAR MELHOR e de uma forma independente e perfeita.
Muitas sentenças sagradas (“máximas de ouro”, aforismos que todo o mundo considera perfeitos), não poderiam realmente servir de padrão de medida para conseguir uma transformação autêntica e uma organização da psique dentro de nós.
Trata-se de ORGANIZAR A PSIQUE INTERNA, e temos que sair de tanto raciocínio subjetivo e ir aos fatos; enfrentar nossos próprios erros como são, não querer nunca os justificar, não tratar de fugir deles, não tentar desculpá-los.
É necessário que nos tornemos mais sérios na ANÁLISE; temos que ser, diríamos, mais criteriosos, mais compreensivos. Se realmente não buscamos escapatórias, então podemos verdadeiramente trabalhar sobre nós mesmos para conseguirmos a organização do HOMEM PSICOLÓGICO e deixarmos de ser meros “animais intelectuais”, como somos até agora. A auto-observação psicológica é básica.
É necessário, na verdade, que nos auto-observemos de instante em instante, de segundo em segundo. Com que objetivo? Com um objetivo! Qual? Descobrir nossos defeitos psicológicos, mas descobri-los no terreno dos fatos, observá-los diretamente, judiciosamente, sem evasivas, sem desculpas, sem escapatórias de nenhuma espécie.
Uma vez que um defeito tenha sido devidamente descoberto, então, e só então, poderemos compreendê-lo. Muitos, quando tentam compreender um erro, justificam-no, fogem dele, ou o escondem de si mesmos, e isso é absurdo.
Há também os que, ao descobrir tal ou qual defeito em si mesmos, começam a fazer especulações com sua Mente (diríamos teórica), e isso é gravíssimo, porque, como já disse, as especulações da Mente (meramente subjetivas) vão desembocar forçosamente no terreno do utopismo...
Assim, se queremos entender um erro, as especulações meramente subjetivas devem ser eliminadas, e, para que sejam eliminadas, é necessário haver observado o erro diretamente. Só assim, mediante uma observação correta, é possível corrigir a tendência à especulação.
Uma vez que alguém tenha compreendido integralmente qualquer defeito psicológico, em todos os níveis da Mente, então pode dar-se ao luxo de despedaçá-lo, de desintegrá-lo, de reduzi-lo a cinzas, a poeira cósmica.
A Mente, por si mesma, pode rotular qualquer defeito com distintos nomes, pode passá-lo de um nível a outro, escondê-lo de si mesma, escondê-lo dos outros, mas nunca o desintegrar.
Já disse muitas vezes anteriormente: necessitamos de um poder que seja superior à Mente, de um poder que possa realmente reduzir a cinzas qualquer defeito psicológico. Felizmente, esse poder existe no fundo de nossa psique. Refiro-me claramente a Stella Maris, a Virgem do Mar, que é uma variante de nosso próprio Ser, mas derivada.
Se nos concentramos nessa FORÇA VARIANTE que existe em nosso interior (e que os egípcios denominaram “ÍSIS”, os aztecas “TONANTZIN”, os romanos “DIANA”, etc.), seremos ajudados. Então o defeito em questão será reduzido a poeira cósmica. Qualquer “agregado psíquico”, viva personificação de tal ou qual erro, uma vez desintegrado, libera uma porcentagem disso que se chama “Essência”.
É claro que dentro de qualquer dessas “garrafas” conhecidas como “agregados psíquicos” existe ESSÊNCIA ou CONSCIÊNCIA ANÍMICA enfrascada. Ao destruir-se este ou aquele erro, a porcentagem de Essência ali depositada é liberada.
Cada vez que uma porcentagem de Essência Búdica é liberada, aumenta de fato e por direito próprio a porcentagem de Consciência. Assim, conforme vamos abatendo os “agregados psíquicos”, a porcentagem de Consciência desperta irá se multiplicando. E, quando a totalidade dos “agregados psíquicos” tiver sido reduzida a cinzas, a Consciência também terá despertado totalmente.
Se destruímos apenas cinquenta por cento de “elementos indesejáveis”, é óbvio que possuiremos cinquenta por cento de Consciência Objetiva, desperta. Mas, se conseguimos eliminar cem por cento dos “agregados psíquicos indesejáveis”, conseguimos, de fato e por direito próprio, cem por cento de Consciência Objetiva.
Assim, à base de multiplicações incessantes, nossa Consciência irá resplandecendo cada vez mais, isso é óbvio... Conseguir o despertar absoluto é o que queremos nestes estudos. Necessitamos uma transformação radical.
Necessitamos uma completa Revolução da Dialética para entrar sem qualquer teoria nesse Caminho estreito, apertado e difícil que nos conduz à liberação final...
IMAGINAÇÃO, INSPIRAÇÃO E INTUIÇÃO
Na altura do entrecenho [espaço entre as sobrancelhas] existe outro centro magnético formidável; quero referir-me claramente à Igreja de Filadélfia. Quem desperta esse centro se torna Clarividente; poderá ver, por si mesmo e de forma direta, a quarta, a quinta, a sexta e a sétima dimensões, e então terá conceitos diferentes.
Além do centro da Clarividência, tão indispensável para conhecer por nós mesmos e de forma direta o que acontece quando alguém morre, ou quando alguém nasce, o que são os mistérios da vida e da morte, etc., existe ainda outro centro extraordinário; refiro-me agora ao centro da glândula pineal, ao centro que no Apocalipse é chamado de Igreja de Laodiceia.
Quem consiga despertar esse centro tão maravilhoso se tornará intuitivo em alto grau. Mas há que saber distinguir entre os processos racionais e os processos intuitivos. A razão se fundamenta no processo da opção; o intuitivo não necessita raciocinar, sabe tudo porque sabe, sem o processo deprimente da opção.
Estou falando de poderes psíquicos, de psicologia experimental revolucionária e transcendente. Esta noite vim para isso, para conversar com vocês, porque quero que se elevem ao estado do Super-Homem.
Chegou a hora de lutar de verdade por uma transformação radical. Dentro de nós existem, em estado latente, poderes formidáveis, mas é necessário despertá-los, sair desse estado de debilidade em que nos encontramos...
Assim como estamos somos vítimas das circunstâncias, não sabemos dirigir circunstâncias, somos vítimas e nada mais que isso: vítimas!
El Quinto Evangelio: “Poderes Secretos Del Verdadero Adepto”.
Agora convém que nos aprofundemos um pouco mais nesta questão das faculdades. O intelecto, em si mesmo, é uma das faculdades mais toscas em relação aos Níveis do Ser; se quisermos entender tudo com o intelecto, jamais chegaremos à apreensão das verdades cósmicas.
Não há dúvida de que, além do intelecto, existe outra faculdade de cognição; quero referir-me à IMAGINAÇÃO. Esta faculdade tem sido muito subestimada. Alguns até a denominam, depreciativamente, “a louca da casa” (título injusto, porque, se não fosse a Imaginação, não existiriam o gravador, o automóvel, o trem, etc.).
O sábio, ao criar um invento, tem primeiro que imaginá-lo, e depois colocar essa imagem no papel. O arquiteto que quer fazer uma casa tem primeiro que imaginá-la e depois poderá traçar a planta. Não podemos negar que existem dois tipos de Imaginação.
A primeira poderíamos chamar de “IMAGINAÇÃO MECÂNICA”; este tipo de imaginação é a mesma FANTASIA, constituída pelos resíduos da memória e que chega a ser prejudicial. Mas existe na verdade outro tipo de Imaginação; é a “IMAGINAÇÃO INTENCIONAL”, ou seja, a “IMAGINAÇÃO CONSCIENTE” ...
É óbvio que a própria Natureza possui imaginação. Se não fosse pela Imaginação, todas as criaturas da Natureza seriam cegas. Mas, graças a essa poderosa faculdade, existe a percepção, se formam as imagens no CENTRO PERCEPTIVO DO SER, ou CENTRO PERCEPTIVO DAS SENSAÇÕES.
A Imaginação Criadora da Natureza deu origem às múltiplas formas existentes em tudo o que existe. Nos tempos dos “Hiperbóreos” e dos “Lemurianos”, não se usava o intelecto, usava-se a Imaginação; então o ser humano era inocente, e o maravilhoso espetáculo do Cosmos se refletia como em um lago cristalino em sua Imaginação. Era outro tipo de Humanidade.
Hoje causa dor ver como as pessoas perderam até mesmo a Imaginação; quer dizer, essa faculdade degenerou espantosamente. É possível desenvolver a Imaginação, e isto nos levaria além da Mente Sensual, isto nos levaria a PENSAR PSICOLOGICAMENTE.
Só o Pensamento Psicológico pode abrir-nos as portas da Mente Interior. Se desenvolvemos a Imaginação, podemos aprender a pensar psicologicamente, IMAGINAÇÃO, INSPIRAÇÃO E INTUIÇÃO são os três caminhos obrigatórios da Iniciação, mas, se ficarmos “engarrafados” exclusivamente nos processos sensoriais do aparelho intelectual, não nos será possível subir pelos degraus da Imaginação, da Inspiração e da Intuição...
Não quero dizer que o intelecto não sirva para nada, estou longe de fazer tamanha afirmação. Toda faculdade é útil dentro de sua órbita; um planeta qualquer é útil dentro de sua órbita, mas fora dela seria inútil e catastrófico. A mesma coisa se passa com as faculdades do ser humano; têm sua órbita.
Querer tirar a razão de sua órbita é absurdo, porque então caímos no ceticismo materialista... Por que muitas pessoas, estudantes do pseudo esoterismo e do pseudo ocultismo, tão em voga atualmente, estão sempre lutando contra as dúvidas? Por que muitos vivem “borboleteando” de escola em escola e por fim ficam velhos sem haver realizado nada?
Através da experiência pude observar que aqueles que ficam engarrafados nos raciocínios, aqueles que querem comprovar a Verdade com o intelecto, fracassam, porque cometem o erro de querer estudar astronomia (falando de forma simbólica) com o microscópio, ou querer estudar bacteriologia com o telescópio.
Se queremos que cada faculdade esteja em seu lugar, em sua órbita, é claro que devemos rejeitar imediatamente as doutrinas dos “Saduceus” e dos “Fariseus” e aprender a pensar psicologicamente. Necessitamos subir pela escada da Imaginação, posteriormente passar ao segundo nível, que é o da Inspiração, e por fim chegar à verdadeira Intuição...
Como se desenvolve a Imaginação? Pode-se realizar exercícios científicos. Para benefício de nossos leitores, vejamos um deles: Coloca-se um copo de vidro à nossa frente. No fundo do copo, põe-se um pequeno espelho, e se acrescenta água e algumas gotas de mercúrio [nota: o mercúrio é tóxico e deve ser manipulado com cuidado].
A concentração é feita no meio, sobre a água, de forma que a visão atravesse o vidro. Trataremos de ver nessa água a Luz Astral, fazendo um grande esforço para vê-la. É óbvio que no princípio não se verá nada, porém, depois de algum tempo de exercício, começa-se a ver a água colorida, começa-se a perceber a Luz Astral; o sentido da auto-observação psicológica entra em atividade.
Bem mais tarde, se passar um carro pela rua, por exemplo, uma faixa de luz será vista na água; a faixa de luz é a rua, e se verá o carro andando por ela. Isso estará indicando que já se começa a perceber com a faculdade transcendental da Imaginação.
Por fim, chegará o dia em que não mais se precisará do copo com água para ver, porque se estará vendo o ar com diferentes cores, se estará vendo a “aura” das pessoas. Bem sabemos que cada pessoa carrega uma aura de luz ao seu redor, que adquire diversas tonalidades.
O azul, por exemplo, indica espiritualidade. Uma aura verde forte indica desconfiança ou ciúmes. O verde brilhante, ceticismo; o cinza, tristeza, melancolia; o cinza-chumbo, egoísmo; o vermelho cintilante, ira ou mentira; o negro, o ódio; o amarelo, a inteligência; o alaranjado, orgulho; o vermelho sujo, a luxúria e a fornicação; o violeta, a mística transcendental, etc.
É claro que, para se ver assim a aura das pessoas, há que se trabalhar muito com este exercício. Deverá ser praticado todos os dias, um mínimo de dez minutos. É evidente que, se alguém puder praticar durante meia hora, avançará mais rapidamente.
O interessante deste exercício é praticá-lo durante pelo menos uns três anos seguidos, dez minutos diários, sem deixar de fazê-lo um único dia. Pode-se praticar de dia ou de noite, não importa a hora, o importante é praticar. Se a pessoa viaja, terá que praticá-lo onde estiver, num hotel ou onde puder, mas não deixar passar um só dia sem o exercício.
Se alguém tivesse na vida essa tenacidade para não faltar um só dia, adquiriria a IMAGINAÇÃO OBJETIVA ou CLARIVIDÊNCIA, que é apenas outro termo que se aplica à Imaginação. Porém, este não seria o único exercício para se desenvolver esta faculdade.
Precisa-se de algo mais, precisa-se de meditação. Sentados em uma cômoda poltrona, com o corpo bem relaxado, ou deitados na cama com a cabeça para o norte, devemos imaginar, por exemplo, a semente de uma roseira.
Imaginemos que ela foi semeada cuidadosamente em uma terra negra e fértil e que agora a regamos com a água pura da vida. Visualizemos o processo de crescimento, como brotam espigas do talo e por fim os ramos e as folhas. Imaginemos como, por sua vez, aqueles raminhos cobrem-se completamente de folhas e aparece um botão que se abre deliciosamente; é a rosa.
No estado de “MANTÉIA”, como diriam os Iniciados de Elêusis, devemos chegar a sentir o próprio aroma que se escapa dentre as pétalas vermelhas ou brancas da preciosa rosa. A segunda parte do trabalho imaginativo consistirá em visualizar o processo do morrer de todas as coisas.
Imaginemos como aquelas perfumadas pétalas vão caindo, como pouco a pouco vão murchando, como aqueles ramos outrora tão fortes convertem-se depois de algum tempo em um monte de gravetos. Por fim chega o vendaval, o vento, e arrasta todas as folhas e todos os gravetos. A meditação profunda sobre o processo do nascer e do morrer de todas as coisas é um exercício que deve ser praticado de forma assídua, diariamente.
É claro que, com o tempo, nos dará a percepção interior profunda daquilo que poderíamos denominar MUNDO ASTRAL. É bom advertir todo aspirante que qualquer exercício esotérico, incluindo este, requer continuidade de propósitos. Se praticamos hoje e amanhã não, estamos enganando a nós mesmos e perdendo o tempo miseravelmente.
Havendo aplicação de verdade no trabalho esotérico, o desenvolvimento dessa preciosa faculdade da Imaginação torna-se possível. Quando, durante a meditação, surgir em nossa imaginação algo novo, algo diferente da rosa, será sinal evidente de que estamos progredindo.
No princípio as imagens carecem de colorido, mas, conforme formos trabalhando, elas irão se revestindo de múltiplos encantos e cores. Progredindo no desenvolvimento interior profundo, avançando um pouco mais nesta questão, chegaremos à recordação de nossas vidas anteriores.
Inquestionavelmente, quem tiver desenvolvido em si mesmo a faculdade imaginativa poderá tentar capturar ou apreender o último instante de sua passada existência. Neste espelho translúcido da Imaginação se refletiria seu leito de moribundo.
Alguém poderá ter morrido num campo de batalha ou num acidente, e seria interessante ver o que nos aconteceu nos últimos instantes da existência passada. Continuando com este processo tão maravilhoso relacionado com a Imaginação, poder-se-ia tentar conhecer agora não só o último instante da vida anterior, mas o penúltimo, o antepenúltimo, os últimos anos, os penúltimos, a juventude, a adolescência, a infância, etc.
Assim se recapitularia toda uma vida passada... Levado mais longe, isso permitiria também que capturássemos cada uma de nossas vidas anteriores. Assim, chegaríamos, por experiência direta, a verificar a Lei do Eterno Retorno de todas as coisas.
Não é exatamente o intelecto que pode verificar esta lei e comprovar se já vivemos antes; com o intelecto podemos talvez discutir, afirmar ou negar, porém isso não significa verificar. Assim, os convido à compreensão. A Imaginação ou Clarividência abrirá as portas dos “Paraísos Elementais da Natureza”. Com a Imaginação tratamos de perceber uma árvore; se meditamos sobre a mesma, veremos que é composta de uma multidão de pequenas folhas, etc.
Mas se conseguimos nos aprofundar um pouco mais e ver sua vida íntima, perceberemos sem dúvida alguma isso que poderíamos denominar seu “Elemental” ou “Alma”. Quando alguém está em estado de êxtase, percebe a consciência do vegetal.
É óbvio que então vê, com perfeita clareza, que é uma “CRIATURA ELEMENTAL”, uma criatura que tem uma vida não perceptível para os cinco sentidos, não perceptível para a capacidade intelectual, totalmente excluída do processo sensorial. É interessante saber que, em etapas posteriores, pode-se chegar a conversar com os “ELEMENTAIS” (é óbvio que na Quarta Vertical existem surpresas insólitas).
A “Terra Prometida” de que nos fala a Bíblia é a mesma Quarta Dimensão, a Quarta Vertical da Natureza, o Paraíso Terrestre, a Terra Prometida, onde os rios da água pura da vida manam leite e mel... A Imaginação Criadora é, sem dúvida, o espelho da Alma; desenvolvendo-a mediante regras esotéricas exatas, trará a verificação do que estamos afirmando aqui.
Convido vocês à análise psicológica, convido-os a desenvolver essa faculdade cognitiva conhecida desde sempre como Imaginação... A Imaginação nos permite saber por nós mesmos que a Terra é um organismo vivo. Dizia uma afirmação neoplatônica que “a Alma do Mundo está crucificada na Terra” ...
Essa “Alma do Mundo” é um conjunto de almas, um conjunto de vidas que palpitam e têm realidade. Para os Hiperbóreos, os vulcões, os mares, os metais, as gargantas profundas das montanhas, o vento e o furacão, o fogo que flameja, as pedras rugidoras, as árvores, não eram senão os corpos dos Deuses.
Aqueles Hiperbóreos não viam a Terra como algo morto; para eles o mundo tinha vida, e a tinha em abundância. Naquela época se falava no “Orto Puríssimo da Divina Língua”, que “como um rio de ouro corre sob a selva espessa do Sol” ...
Então se sabia tocar a Lira e dela se extraíam as mais exóticas sinfonias. A Lira de Orfeu ainda não havia caído feita em pedaços sobre o piso do Templo. Estes eram outros tempos, esta era a época da “Antiga Arcádia”, quando se rendia culto aos Deuses da Aurora e quando se festejava todo nascimento com festas místicas transcendentais...
Se vocês desenvolvessem eficientemente a faculdade da Imaginação, não somente poderiam recordar suas existências anteriores como também comprovar, de forma específica, o que estou expressando aqui didaticamente.
Mas a Imaginação, por si mesma, não é mais que o primeiro escalão da Iniciação. Um segundo escalão, mais elevado, nos leva à Inspiração. A faculdade da Inspiração nos permite conversar cara a cara com toda partícula de vida elemental, a faculdade da Inspiração nos permite sentir em nós mesmos o palpitar de cada coração...
Imaginemos por um momento, novamente, o exercício da roseira. Depois de tudo, concluída a meditação no processo de nascimento e morte, depois que desapareceram o lenho e as folhas, se queremos saber mais alguma coisa, necessitamos da Inspiração... A planta nasceu, deu frutos, morreu; e depois?...
Necessitamos da Inspiração para saber qual é o significado desse nascer e morrer de todas as coisas. A faculdade da Inspiração é ainda mais transcendental. Trata-se de deixar de lado o simbolismo sobre o qual meditamos, trata-se de capturar seu significado interior, e para isso necessitamos da emoção, do Centro Emocional. Esse Centro vem valorizar o trabalho esotérico da Meditação.
O Centro Emocional nos permite sentir-nos inspirados e, depois de inspirados, conhecemos o significado do nascer e morrer de todas as coisas... Com a Imaginação podemos verificar a realidade da existência anterior; com a Inspiração podemos capturar o significado da existência anterior; seu motivo, sua causa, seu porquê...
A Inspiração está, portanto, um passo à frente da faculdade da Imaginação Criadora. Com a Imaginação podemos verificar a realidade da Quarta Vertical, mas a Inspiração nos permite capturar seu profundo significado... Por último, além da Imaginação e da Inspiração, temos que chegar às alturas da INTUIÇÃO.
Desta forma, Imaginação, Inspiração e Intuição se convertem nas três escalas da Iniciação. A Intuição é uma coisa diferente. Voltemos à roseira de nosso exemplo. Com a Imaginação a vimos nascer, crescer e, por último, morrer; a Inspiração nos permitiu conhecer o significado de tudo isto, mas a Intuição nos levará à realidade espiritual deste processo.
Então penetraremos, com essa preciosa faculdade superlativa, num mundo de uma espiritualidade singular, e nos encontraremos face a face com o elemental visto com a Imaginação, o elemental da roseira; e ainda nos encontraremos com a chispa virginal, com a Mônada divina, com a suprema partícula ígnea da roseira.
Entraremos num mundo onde encontraremos os Elohim criadores citados na Bíblia hebraica ou mosaica. Veremos todas as hostes criadoras do Exército da Palavra, isto é, teremos encontrado o Demiurgo Criador do Universo.
É a Intuição que nos permite conversar frente a frente com os Elohim, com os Tronos, os quais já não serão para nós mera especulação ou crença, mas uma realidade palpável, evidente. A Intuição permitirá nosso acesso às seções superiores do Universo e do Cosmos. O Mundo da Intuição é o Mundo das Matemáticas (do exato e verdadeiro).
O estudante que queira elevar-se ao Mundo da Intuição deve ser matemático, ou pelo menos ter noções de aritmética. AS FÓRMULAS MATEMÁTICAS CONFEREM O CONHECIMENTO INTUITIVO.
O estudante deve concentrar-se em uma fórmula matemática e meditar profundamente nela; depois, esvaziar a mente de qualquer pensamento que possa causar distração e aguardar que o Ser Interno lhe revele o conceito de conteúdo encerrado na fórmula matemática.
Por exemplo, antes de que Kepler enunciasse publicamente seu famoso princípio de que “os quadrados dos tempos das revoluções dos planetas ao redor do Sol estão entre si como o cubo de suas distâncias”, a fórmula já existia, estava contida no Sistema Solar, mesmo quando os sábios ainda não a conheciam.
O estudante deve concentrar-se mentalmente nesta fórmula, esvaziar a mente, adormecer com a mente quieta e em silêncio e aguardar que seu próprio Ser Interno lhe revele os segredos maravilhosos contidos na fórmula de Kepler.
A fórmula de Newton sobre a gravitação universal também pode servir para exercitar-nos na Intuição. Esta fórmula é a seguinte: “Os corpos se atraem na razão direta de suas massas e na razão inversa do quadrado de suas distâncias”.
Se o estudante pratica com tenacidade e suprema paciência, seu próprio Ser Interno lhe ensinará e o instruirá na Obra. Então estudará aos pés do Mestre, se elevará ao Conhecimento Intuitivo. Através da Intuição, poderemos estudar diretamente a Cosmogênese, a Antropogênese, etc.
A Intuição permitirá que entremos nos templos da Fraternidade Universal Branca onde estão os Elohim, Kumaras ou Tronos. Ela permitirá que conheçamos a gênese de nosso mundo, e poderemos até assistir à própria aurora da Criação; saber, não porque alguém tenha dito, mas por via direta, como surgiu este mundo que habitamos, de que forma foi criado, de que maneira fez sua aparição no concerto dos mundos.
A Intuição permitirá que saibamos, de forma específica e direta, aquilo que os brilhantes intelectuais da nossa época não sabem. Há muitas teorias a respeito do mundo, do universo e do cosmos, as quais passam constantemente de moda como os remédios da farmácia, como a moda das senhoras e dos homens.
A uma teoria segue outra e outra e, por fim, o intelecto não consegue senão fantasiar lindamente e especular, sem poder jamais experimentar o Real. Quão grandioso é poder assistir ao espetáculo da Criação: sentir-se por um momento fora da Criação e olhar o mundo como se ele fosse um teatro e nós os espectadores; perceber como um cometa sai do caos, como o Real Ser dá origem a qualquer unidade cósmica.
É a Intuição que nos permite saber que a Terra existe devido ao Karma dos Deuses; se não fosse por isto, não existiria. É a Intuição que permite a alguém verificar o cru realismo desse Karma.
Certamente, aqueles Elohim, cujo conjunto vem a constituir o Divino, atuaram num passado ciclo de manifestação, muito antes de a Terra e o Sistema Solar terem vindo à existência. Vejamos um caso bastante simpático. Muito se discute sobre a Lua.
Muita gente pensa que ela é um pedaço da Terra que foi lançado ao espaço pela força centrífuga do universo, algo assim como o disparo de um foguete atômico. A Intuição permite que se vislumbre que as coisas aconteceram de forma completamente diferente.
Através da Intuição vimos a saber que a Lua é muito mais antiga que a Terra. Por isso, nossos antepassados de Anahuac diziam: “a avó Lua”. Ela é obviamente nossa avó, pois, se é a mãe da Terra e a Terra é nossa mãe... Nossa avó, conceitos sábios de Anahuac...
A Terra surgiu realmente muito mais tarde no decorrer dos séculos. A Lua foi um mundo rico no passado; teve vida mineral, vegetal, animal e humana, mares profundos, vulcões em erupção, etc. Os próprios cientistas atuais tiveram de se render diante da evidência concreta de que a Lua é mais antiga do que a Terra.
Aqueles Iniciados que cometeram o erro de afirmar que a Lua era um pedaço que se desprendeu da Terra agora ficaram mal, já que se verificou no estudo com aparelhos especiais dos metais trazidos da Lua que esta é mais antiga que a Terra. Teve vida abundante, foi um mundo rico. Por que a Lua se converteu em cadáver? A Intuição nos permite compreender que tudo que nasce tem de morrer.
Com o tempo, todos os mundos do espaço estrelado convertem-se em novas Luas. Quando nosso satélite exalou seu último alento, sua “anima mundi” se submergiu no seio do “ETERNO PAI CÓSMICO COMUM”, e, quando chegou de novo um “dia de atividade” [N.T.: Mahanvantara ou Dia Cósmico], a “anima mundi” da Lua tomou um novo corpo, se reencarnou nesta Terra.
Todas as criaturas que no passado existiram na Lua morreram, mas as sementes da vida vegetal, animal e humana não morreram. Esses germens ou almas, projetados pelos “Raios Cósmicos”, ficaram depositados aqui neste novo planeta...
Quem faz uma afirmação dessas diante de um grupo de gente instruída, entre aqueles que estão acostumados a fazer malabarismos com a mente, os fanáticos dos silogismos, com as premissas e conclusões do raciocínio subjetivo, é claro que se expõe ao sarcasmo, à sátira, ao vexame, à ironia, porque uma afirmação dessas jamais poderia ser admitida pelo racionalismo subjetivo do intelecto.
Uma afirmação dessas só é acessível à Intuição. Se você, amigo investigador, quer de verdade chegar algum dia à Iluminação, à percepção do Real, ao conhecimento completo dos Mistérios da Vida e da Morte, precisará subir, sem dúvida alguma, pelos degraus maravilhosos da Imaginação, da Inspiração e da Intuição.
O mero raciocínio jamais poderia nos levar até lá, até essas experiências íntimas. De modo algum estamos nos pronunciando contra o intelecto; o que queremos é especificar funções, e isso não é um delito.
O intelecto é útil dentro de sua órbita; fora dela, repito, torna-se inútil. Se nos fanatizamos com o intelecto e nos negamos por princípio a PENSAR PSICOLOGICAMENTE, ficaremos aprisionados exclusivamente no físico e sensorial e podemos até nos converter em fanáticos da dialética marxista...
Só o PENSAMENTO PSICOLÓGICO abrirá a Mente Interior, que nos fará subir pelos três degraus da Iniciação. A Mente Interior é a mesma Razão Objetiva especificada por um Gurdjieff, ou por um Ouspensky, ou por um Nicoll. Possuir a Razão Objetiva é haver aberto a Mente Interior.
A Mente Interior funciona exclusivamente com as “intuições”, com os dados do Ser, da Consciência, do Superlativo, d’Aquilo que é transcendental e transcendente em nós...