10 - A Transformação das Impressões


Nessa monografia temos o ensinamento precioso da transformação das impressões. Da observação dos eventos que nos sucedem diariamente de instante a instante. Esse é um dos ensinamentos chave da Gnosis moderna pois através da não alimentação de nossos vícios evitamos de criar novos aprisionamentos e novos condicionamentos para a mente, além de aprendermos a nos liberar dos eventos do Karma no momento que os mesmos se apresentam a nós. Bons Estudos!


“As piores circunstâncias da vida, as situações mais críticas, os fatos mais difíceis, são sempre maravilhosos para o auto-descobrimento íntimo”.

Samael Aun Weor


A Importância da Transformação
Consequências da não-Transformação
O que Fazer para Transformar uma Impressão
O Primeiro Choque Consciente

A Importância da Transformação


O animal intelectual quer deixar de sofrer, mas não faz nada para mudar, não luta para passar a um nível superior do Ser; então, como pode mudar?

Todos os fenômenos são descontínuos; o dogma da Evolução não serve para nada, a não ser para estancar-nos. Conheço muitos pseudo-eso­teristas, gente sincera e de bom coração, que estão engarrafados no dogma da Evolução; aguardam que o tempo os aperfeiçoe, passam milhões de anos e nunca se aperfeiçoam. Por que? Porque tais pessoas não fazem nada para mudar os níveis do Ser, permanecem sempre no mesmo degrau. Então, ne­cessitamos passar além da Evolução e meter-nos pelo caminho revolucioná­rio, pelo caminho da Revolução da Consciência ou da Dialética.

A Revolução da Dialética


Necessitamos compreender que o importante para nós é conse­guir a transformação da vida; isto é possível se alguém se propõe profun­damente fazê-lo...

“Transformação” significa que uma coisa muda em outra diferen­te. É lógico que tudo está submetido a mudanças.

Existem transformações muito conhecidas da matéria; ninguém poderia negar, por exemplo, que o açúcar se transforma em álcool, que o álcool, por sua vez, se converte em vinagre por ação dos fermentos (transformação de uma substância molecular em outra ). Sabe-se, pela nova química dos átomos e elementos, que o rádio, por exemplo, se transforma lentamente em chumbo.

Os alquimistas da Idade Média falavam da “transmutação do chumbo em ouro”. No entanto, nem sempre se referiam à questão metá­lica, meramente física. Normalmente queriam indicar a transmutação do “chumbo da personalidade”, no “ouro do espírito”.

Nos Evangelhos, a ideia do “Homem terreno”, comparado a uma semente capaz de crescimento, tem o mesmo significado. É obvio que, se o grão não morre, a planta não nasce. Em toda transformação existe MORTE e NASCIMENTO, ou MORTE e RESSURREIÇÃO.

O homem é uma máquina capaz de transformar certos alimentos que chegam até ele para seguir existindo.

Os alimentos que penetram em nosso organismo se dividem em três categorias. Ao primeiro tipo de alimento podemos denominar “co­mida”. Inquestionavelmente, para os alimentos que entram pela boca e a boca em si, há um meio que permite transformar estes princípios vitais. Refiro-me ao estômago. Se não fosse pelo estômago, não seria possível a transformação do primeiro tipo de alimentos.

No entanto, o alimento que entra pela boca não é o mais impor­tante. Bem sabemos como se transformam os alimentos mediante a di­gestão; não há dúvida de que, em última síntese, os princípios vitais fi­cam depositados no sangue e este os dirige a todos os órgãos do corpo. No entanto, alguém pode permanecer algum tempo sem comer. O Mahat­ma Gandhi podia permanecer até quarenta dias sem comer, e ainda mais, chegou a ficar até dois ou três meses sem comer. Não é, pois, o alimento o mais importante.

O segundo tipo de alimento é o “prana’, que entra com o oxigênio dentro de nosso corpo físico; é aquele que penetra pelas portas da respi­ração, e, inquestionavelmente, existe um órgão ou órgãos especiais para a transformação do alimento que entra pelo nariz. Assim , o ar, mediante os pulmões, se transforma em oxigênio, e este oxigênio (o prana) se de­posita, posteriormente, em toda a corrente sanguínea.

A respiração é mais importante que o alimento que entra pela boca e vai até o estômago, pois, como já disse, poderíamos ficar até cerca de um mês sem comer, mas não poderíamos permanecer muito tempo sem respirar.

Normalmente se pode ficar sem respirar um minuto ou dois, alguns chegam até a três. Alguém poderia chegar a permanecer sem respiração durante mais de quatro minutos (por treinamento), porém, inquestio­navelmente, além desse pequeno tempo limitado, morreríamos se não respirássemos. Então, em realidade e de verdade, a respiração é mais im­portante que a comida física.

Por último, existe um terceiro tipo de alimento, que de fato é ainda mais importante. Refiro-me, de forma enfática, às IMPRESSÕES. Inquestionavelmente, não poderíamos existir nem um segundo se não fossem as impressões. Não poderíamos viver um segundo sequer sem receber impressões.

O que é uma “impressão”? Tudo o que possamos perceber, qual­quer imagem, som, odor, sensação, sabor, estímulo, etc., é uma “impres­são”. Percebemos todo esse mundo exterior que nos rodeia através das diversas “impressões” que penetram pelos sentidos.

Nosso organismo se nutre, muito especialmente, com as impres­sões. Se o ar não deixasse impressões em nossos pulmões e em nosso sangue, não viveríamos; se a comida não chegasse a impressionar o estô­mago e as vias intestinais, tampouco poderíamos viver.

Assim, as impressões são fundamentais. Infelizmente, ao contrá­rio do que ocorre com a comida e o ar que respiramos, não temos um órgão capaz de TRANSFORMAR as impressões, não há um órgão para a digestão e transformação das impressões.

Quando comemos o alimento, tão necessário para nossa subsis­tência, este é transformado em todos esse elementos vitais tão indis­pensáveis à nossa vida. Se um alimento, por exemplo, passasse pelo es­tômago e não se transformasse, o organismo não poderia assimilar seus princípios, suas vitaminas, suas proteínas; seria, simplesmente, uma in­digestão.

Se o ar, como existe ao redor de nós, não sofresse uma trans­formação antes de chegar ao sangue, o que aconteceria? Morreríamos. Assim, como compreenderão, tudo necessita passar por uma TRANSFOR­MAÇÃO.

É claro que os alimentos físicos se transformam, mas, por que não existe também uma transformação das impressões? Para os propósi­tos da Natureza, não há necessidade alguma de que o “animal intelectu­al” transforme suas impressões. No entanto, se queremos deixar de ser, simplesmente, “animais intelectuais” e converter-nos em verdadeiros “homens”, devemos aprender como transformar as impressões, e isto é possível se possuímos o conhecimento esotérico de fundo e compreende­mos o porquê dessa necessidade.

A maioria das pessoas, no terreno da vida prática, crê que este mundo físico lhes dará o que almejam, e aí está, meus estimados amigos, um tremendo equívoco. A vida, em si mesma, carece de sentido transcen­dente, e necessitamos transformá-la em algo superior. Entretanto, uma pessoa não poderia realmente transformar sua vida se não transforma as impressões.

Não existe realmente isto da “vida externa”. Isto que estamos dizendo é muito revolucionário, pois todo o mundo crê que o físico é o real; porém , se vamos um pouquinho mais ao fundo, o que realmente estamos percebendo, a cada instante, são meramente impressões.

A vida é uma SUCESSÃO DE IMPRESSÕES, e não, como creem mui­tos “ignorantes ilustrados”, uma coisa sólida, física, exclusivamente ma­terial. A realidade da vida para nós são suas impressões.

A ideia que estamos exprimindo é certamente difícil de captar. É possível que vocês tenham a certeza de que a vida que têm existe como tal, e não como suas impressões. Estamos tão sugestionados pelo mundo físico que as pessoas obviamente pensam assim.

A pessoa que vemos sentada, por exemplo, em uma cadeira, aquele que nos sorri mais além, o menino que brinca com sua bicicleta, o pássaro que canta alegre sobre a rama, etc., são para nós algo real, não é verdade? Mas, se meditamos profundamente em tudo o que vemos, chegamos à conclusão de que o real são as impressões. Estas, como já disse, chegam à mente através das janelas dos cinco sentidos. Se não tivéssemos, por exemplo, olhos para ver, nem ouvidos para ouvir, tato para tocar ou olfato para cheirar, ou sequer paladar para saborear os alimentos que entram em nosso organismo, existiria para nós isto que se chama “mundo físico”? Claro que não!

Todos os acontecimentos da vida chegam à mente sob a forma de impressões, todos os eventos chegam ao cérebro sob a forma de im­pressões. A alegria, a tristeza, a esperança, o desespero, os problemas, as preocupações, etc., chegam à mente como impressões. Qualquer cir­cunstância, qualquer acontecimento, por insignificante que seja, sempre chega à mente sob a forma de impressões.


Consequências da não-Transformação


"As pessoas se tornaram maliciosas, receosas, desconfiadas, astutas, perversas; ninguém acredita mais em ninguém; inventam-se diariamente novas condições, certificados de todo tipo, documentos, credenciais, etc., e de todas as maneiras tudo isto de nada serve: os espertos se riem de todas essas tontices; não pagam, se esquivam da lei, ainda que tenham que ir para a cadeia.

Nenhum emprego traz felicidade, o sentido do verdadeiro amor se perdeu e as pessoas se casam hoje e se divorciam amanhã.

A unidade dos lares se perdeu lamentavelmente, a “vergonha orgâ­nica” já não existe, o lesbianismo e o homossexualismo se tornaram mais comuns que lavar as mãos.

Saber algo sobre tudo isto, tratar de conhecer a causa de tanta po­dridão, inquirir, buscar, é certamente o que nos propomos neste livro."

A Grande Rebelião 


Como, infelizmente, não contamos com um órgão capaz de “trans­formar” ou “digerir” impressões, estas se convertem em “agregados psí­quicos”, quer dizer, em “eus”. Se não “transformamos” a má impressão que recebemos, por exemplo, de um insultador, então essa impressão se converte, dentro de nós, em um “eu” de vingança. Se não “transfor­mamos” a impressão que nos provoca um copo de bebida, obviamente tal impressão se converte em um “eu” da embriaguez. Se não “trans­formamos” a impressão que nos provoca uma pessoa do sexo oposto, inquestionavelmente esta se converterá em um “eu” de luxúria. Se não “transformamos” a impressão que chega à mente relacionada com uma fortuna, obviamente tal impressão pode se converter em um “eu” de co­biça.

Suponhamos que um indivíduo, por exemplo, vê uma mulher pro­vocante e não transforma suas impressões. O resultado será que as mes­mas geram nele um desejo de possuí-la. Tal desejo vem a ser o resultado mecânico da impressão recebida, e se plasma em nossa psique em forma de “elemento inumano”, em um novo “eu” luxurioso, que vem agregar-se à soma já existente de “elementos inumanos” que, em sua totalidade, constituem o EGO, o “Mim mesmo”, o “Si Mesmo”.

Em nós existe ira, cobiça, luxúria, inveja, orgulho, preguiça e gula.

Ira, por que? Porque muitas impressões chegaram a nós, a nosso interior, e nunca as transformamos. O resultado mecânico de tais impres­sões foi a ira, foram os “eus” que vivem em nossa psique e que constan­temente nos fazem sentir coragem.

Cobiça? Indubitavelmente muitas coisas despertaram em nós a cobiça: o dinheiro, as joias, as coisas materiais de todo tipo, etc. Esses objetos chegaram a nós sob a forma de impressões. Nós cometemos o erro de não haver transformado essas impressões em uma coisa diferen­te: em uma admiração pela beleza, ou em altruísmo, ou em alegria pelo bem alheio, etc... Naturalmente, tais impressões não-transformadas se converteram em “eus” de cobiça que agora levamos em nosso interior.

E quanto à luxúria, ao longo de nossa vida tem chegado sob a forma de impressões, produzindo no interior de nossa mente reações luxuriosas. Como não transformamos essas ondas luxuriosas, essas vi­brações mórbidas, esse erotismo malsão (não bem entendido, porque, bem entendido, o erotismo é sadio), o resultado não se faz esperar: vão nascendo novos “eus” dentro de nossa psique, com traços mórbidos, é claro.

Assim, hoje em dia temos que trabalhar sobre as impressões que temos em nosso interior e sobre seus resultados mecânicos. Dentro de nós temos impressões de ira, de luxúria, de inveja, de orgulho, de pregui­ça, de gula e outras tantas “ervas daninhas”. Também temos dentro de nós os resultados mecânicos de tais impressões: feixes de “eus” bader­neiros e gritões que agora necessitamos compreender e eliminar.

Todo o trabalho sobre nossa vida trata de saber transformar as impressões e saber eliminar os resultados mecânicos que estas produzi­ram no passado.


O que Fazer para Transformar uma Impressão


Se uma pessoa está desesperada por algum problema sentimental, econômico ou político, obviamente se esqueceu de si mesma...

Se tal pessoa se detém por um instante, se observa a situação, trata de recordar-se de si mesma e logo se esforça para compreender o sentido de sua atitude; se reflete um pouco, se pensa em que tudo passa e que a vida é ilusória, fugaz, e que a morte reduz a cinzas todas as vaidades do mun­do...

Se compreende que seu problema, no fundo, não é mais que um fogo fátuo que logo se apaga, verá de imediato, com surpresa, que tudo mudou...

Transformar reações mecânicas é possível mediante a confrontação lógica e a auto-reflexão íntima do Ser...

Psicologia Revolucionária


Como vimos, não transformar as impressões equivale a criar “eus”. Não temos somente os “eus” que possuímos, esses que trazemos de existências anteriores, mas, o que é pior, estamos criando todos os dias novos “eus”, e isso é lamentável.

Deixar de criar “eus” é indispensável. Isso é possível unicamente “digerindo”, “transformando” as impressões. E como “digeri-las”? De que maneira? Como transformá-las em algo diferente? Seria possível isso? Sim, é possível! Como? Mediante a Consciência. Se interpusermos entre as impressões e a mente isso que se chama “Consciência”, as im­pressões se “transformam”.

Normalmente, as impressões ferem a mente e a mente, então, reage contra o impacto proveniente do mundo exterior: se nos batem, batemos; se nos insultam, insultamos; se nos incitam a beber, bebemos, etc.; a mente sempre reage contra os impactos provenientes do mundo exterior. Devemos evitar tal reação, e isso só seria possível interpondo a Consciência entre a mente e as impressões.

Haveria alguma forma, alguma técnica, alguma prática que per­mitisse utilizar a Consciência para interpor-se entre as impressões e a mente? Existe alguma chave que nos permita usar a Consciência dessa maneira, que seja a Consciência quem receba as impressões e não a men­te? Porque, quando a Consciência recebe as impressões, as “digere”, e inevitavelmente as transforma em algo distinto; porém, quando não é a Consciência quem recebe as impressões, mas a mente, então ocorre que a mente, e todos os “eus” que há nela, reagem contra os impactos prove­nientes do mundo exterior, reagem violentamente, de forma mecânica.

Como usar, pois, a Consciência? Como utilizá-la, de que modo, a fim de que seja ela, e nada mais que ela, que receba as impressões e as transforme? Vou dizer a vocês a chave, muito simples: JAMAIS ESQUE­CER-NOS DE NÓS MESMOS, DE NOSSO PRÓPRIO SER. Porque se alguém se esquece de seu próprio Ser Interior na presença de um insultador, termi­na insultando; se se esquece de si mesmo, de seu próprio Ser, na presença de um copo de bebida, termina bêbado; se se esquece de si mesmo, de seu próprio Ser, na presença de uma pessoa do sexo oposto, termina for­nicando.

Quando alguém aprende a viver em estado de PERCEPÇÃO ALER­TA, de “alerta novidade”; quando alguém se recorda de si mesmo de ins­tante em instante, de momento em momento; quando alguém jamais se esquece de si mesmo, indubitavelmente vai se tornando consciente. Se alguém não se esquece de si mesmo na presença de um insultador, se não se esquece de seu próprio Ser, então transforma essas impressões perversas em uma força diferente.

Se alguém não se esquece de se mesmo na presença de um copo de bebida, transforma essa impressão, essa “energia” chamada hidrogê­nio-48, em algo mais sutil, em um hidrogênio-24. Se alguém não se es­quece de si mesmo na presença de uma grande soma de dinheiro, trans­forma essa impressão, sucessivamente, em hidrogênio-24, 12 e 6.

Assim, NÃO ESQUECER-SE DE SI MESMO é a chave que nos per­mite manejar inteligentemente a Consciência. Quando alguém não se esquece de si mesmo interpõe, entre a mente e as impressões, isso que se chama “Consciência”.

O maravilhoso é que seja a Consciência que receba as impressões que vêm do mundo exterior, porque a Consciência pode transformá-las em algo diferente: em elementos criadores, em elementos superlativos do Ser, em forças diamantinas que servem para o desenvolvimento dos “chacras”, em múltiplas forças que servem para o desenvolvimento de certos poderes que existem em nossa constituição interna.

É necessário, pois, saber que todos os “eus” que atualmente te­mos são o resultado de impressões não-digeridas, não-transformadas, e isto é lamentável.

Infelizmente, as pessoas jamais se recordam de si mesmas; por isso é que as impressões chegam a nossa mente e permanecem assim, sem nenhuma transformação, dando origem (como é natural) aos “agre­gados psíquicos”, aos “eus”. Alguém poderia dar-se ao luxo de dissolver todos os “eus”, porém, se se esquece de si mesmo, volta a criar novos “eus” (eis aí o grave).

A recordação de si mesmo é algo interessante. Quando alguém se recorda de si mesmo, origina forças diferentes das de seus semelhan­tes: forças distintas, forças que o tornam completamente diferente dos demais. É interessante saber, pois, que aqueles que criam tais forças são distintos, até suas “potências de vida” são distintas. Se colocássemos dois sujeitos em um lugar inóspito, com má alimentação, mau ambiente, etc., um dos quais jamais se recorda de si mesmo, vive uma vida me­canicista, e outro que sempre se recorda de si mesmo de momento em momento, que nunca se esquece de seu próprio Ser Íntimo, vocês podem estar absolutamente seguros de que o primeiro morreria prontamente e o segundo viveria, apesar do ambiente inóspito , porque está rodeado de forças distintas das dos demais...

Todo o problema da liberação se fundamenta na transformação, e a transformação tem por base o sacrifício. Se observamos, por exemplo, um ovo ( o de uma serpente ou o de um pássaro), vemos ali possibili­dades latentes, susceptíveis de desenvolvimento. Tais possibilidades se tornam um fato mediante a transformação. O fogo das lareiras, esse que nos aquece durante os dias de inverno, é o resultado da transformação.

A digestão, em nós, é todo um processo de transformação me­diante o qual nos é possível existir. A transformação do ar dentro dos pulmões é outro processo de transformação, e, se queremos transformar-nos psicologicamente, necessitamos transformar também as impressões, quer dizer, transformar o terceiro tipo de alimentos.

Repito: todos os acontecimentos da vida que chegam à mente vêm sob a forma de impressões. Estes parágrafos que vocês estão lendo pacientemente, como lhes estão chegando? É óbvio que como impres­sões. E que deverão fazer para transformá-las corretamente? Não devem esquecer-se de si mesmos; não se esqueçam de seu próprio Ser; assim fortalecerão o anseio de chegar a Ele.

Aquele que escuta a palavra e não a cumpre, é semelhante ao homem que se olha no espelho e logo vira as costas e se retira. Não basta escutar a palavra; há que transformá-la; isso é o fundamental.

Observe, leitor, o quanto é importante isso que se chama “im­pressões”! Não podemos viver nem um segundo sem as impressões, nem um milésimo de segundo.

Assim, vale a pena transformá-las em algo diferente: em poderes, em luz, em fogo, em harmonia, em beleza... Mas, se não as transforma­mos, repito, se convertem, simplesmente, em novos “agregados psíqui­cos”, em novos “eus”...

É necessário sermos mais reflexivos. O que somos, em realidade? Assim como nos encontramos, sem “transformar” impressões, criando novos “eus” de segundo em segundo, de instante em instante, não somos mais que simples máquinas, controladas pelos “agregados psíquicos”.

Vivemos em um mundo de grande atividade, onde todos creem que FAZEM e NINGUÉM FAZ NADA: tudo nos ACONTECE, como quando chove, como quando troveja. Por que? Simplesmente porque não temos o Ser encarnado. Só o Ser pode fazer; Ele FAZ, e o verdadeiro homem é o Ser; porém, se a máquina atua, atua algo que não é o Ser: está atuando um robô programado com um computador maravilhoso que se chama “cére­bro”, está atuando mecanicamente. NÃO ESTÁ FAZENDO, ESTÁ FUNCIO­NANDO (uma coisa é FAZER, e outra é FUNCIONAR). Qualquer máquina funciona, se move, anda, desempenha suas funções, porque é máquina e está programada para desempenhá-las; porém, FAZER é algo diferente: só o Homem pode fazer, e o Homem verdadeiro é o Ser. Distinga-se entre o Homem verdadeiro, que é o Ser, e a máquina (a máquina não é o Ser).

O “animal intelectual” é um robô programado, e seu cérebro é um computador maravilhoso, um computador que sustenta a si mesmo, um computador que calcula matematicamente, com exatidão precisa; um computador que registra as ondas visuais e as ondas sonoras, que regis­tra o exterior e o interior, que abastece a si mesmo. É um computador “de primeira qualidade”, maravilhoso, porém, é isso e nada mais que isso: um computador.

Depois desse computador vem o organismo físico, e o compu­tador o utiliza para ir e vir, etc. Tal computador está nas mãos do Ego, não do Ser, e o Ego é o resultado de muitas impressões “não-digeridas”. Então, o que atua aqui, neste mundo doloroso em que vivemos, é uma máquina provida de um grande computador. Aqui não está atuando o Ser, mas a máquina. Podemos dizer que a máquina é máquina, e o Ser é o Ser.

O que é, em realidade e de verdade, isso que chamamos de “vida”? Certamente, é como um filme. Sim, e, quando chega a hora da morte, regressamos ao ponto de partida desse filme e o levamos para a Eterni­dade. Ao retornar, ao regressar com este Ego, uma pessoa o faz com seu filme. Ao reestruturar-se com um novo organismo, projeta novamente seu filme na tela da existência. E o que se projeta? Sua vida. Qual? A de sempre, a mesma que teve na existência anterior; quer dizer, repete a mesma coisa que fez na existência passada e nas existências passadas. Tudo isso que a pessoa projeta de fato está programado, desde o nasci­mento, no cérebro.

De maneira que somos ROBÔS PROGRAMADOS; o Ser não inter­vém para nada em toda essa tragédia, ele não se mete nestes assuntos. O Ser de cada um de nós se move livremente na “Via Láctea”.

Existem e vivem aqui, neste “Vale” doloroso da vida, um montão de sombras providas de organismos físicos. E o que FAZEM estes organis­mos? Nada! Se movem mecanicamente, de acordo com o programa que foi depositado no cérebro (não digo somente no cérebro físico, mas nos três cérebros: Intelectual, Emocional e Motor). E o Ser, o que faz enquanto estamos aqui sofrendo, chorando, trabalhando para conseguir pagar o aluguel, comprar um terno, etc.? Vive feliz na “Via Láctea”, se move li­vremente na “Via Láctea”. Então, o que é esta dolorosa existência que le­vamos? Pura ilusão, algo vão! Com justa razão dizem os hindus que este mundo é só “MAYA”, que este mundo é ilusório, que não tem nenhum valor.

Necessitamos ter existência real, pois ainda não a temos. Talvez o amado leitor se vanglorie de ter existência real? Para tê-la necessitamos deixar de ser robôs, e podemos deixar de sê-lo eliminando todos os “agre­gados psíquicos”, isso é óbvio.

No entanto, saber que temos que eliminar os “agregados psíqui­cos” não é tudo; necessitamos DEIXAR DE CRIAR NOVOS AGREGADOS e diariamente os estamos criando, ao “não transformar” as impressões. Ne­cessitamos “digerir” as impressões, transformá-las em forças diferentes para não criar novos “eus”. Também necessitamos “transformar” as ve­lhas impressões, as que deram origem aos “eus” que atualmente temos, e isso é possível através da AUTO-REFLEXÃO. Quando alguém “transforma” as velhas impressões que estão depositadas nos cinco centros da máqui­na (sob a forma de hábitos, emoções inferiores, pensamentos negativos, instintos depravados, abusos sexuais, etc.), então desintegra estes “ele­mentos inumanos”.


O Primeiro Choque Consciente


"Nas assembleias temos visto como os irmãos ferem uns aos outros: um diz uma palavra, e o que se sente aludido reage violentamente, dizendo uma pior. Às vezes, o que dizem não é demasiado grosseiro, mas sutil, de­cente e acompanhado de um sorriso, porém, no fundo, leva o veneno espan­toso da reação violenta.

NÃO HÁ AMOR ENTRE OS IRMÃOS, esqueceram-se de seu próprio Ser, e só vivem no mundo do EGO, no mundo das reações. Quando alguém se esquece de seu próprio Ser, reage violentamente. Se alguém se esquece de seu próprio Ser na presença de uma garrafa de vinho, acaba bêbado; se alguém se esquece de seu próprio Ser na presença de uma pessoa do sexo oposto, termina fornicando; se alguém se esquece de seu próprio Ser Interior Profundo na presença de um insultador, termina insultando.

A coisa mais grave na vida é esquecer-se de si mesmo. Assim, é ne­cessário transformar as impressões, e isto só é possível INTERPONDO, entre as diversas vibrações do mundo exterior e a mente, a própria Consciência. Quando alguém interpõe entre as impressões e a mente isso que se chama CONSCIÊNCIA, é óbvio que as impressões se transformam em FORÇAS e PODERES DE ORDEM SUPERIOR.

[...] É muito fácil interpor a Consciência entre a mente e as impres­sões, entre as impressões e a mente. Para receber as impressões com a Cons­ciência, e não com a mente, só necessitamos NÃO NOS ESQUECERMOS DE NÓS MESMOS em um instante dado. Se alguém em qualquer momento nos fere com a palavra, não devemos esquecer de nosso próprio Ser, não deve­mos permitir que a mente reaja, não devemos permitir que intervenha o mim mesmo: o amor próprio, o orgulho, a vaidade, etc. Nestes instantes só o SER deve estar em nós; devemos estar CONCENTRADOS NO SER, para que seja o SER, a Consciência Superlativa do SER, quem receba as impressões e as digira corretamente. Assim se evitam as horripilantes reações que todos, uns e outros, têm diante dos impactos procedentes do mundo exterior. Assim se transformam completamente as impressões e, transformadas, nos desenvol­vem maravilhosamente."

El Quinto Evangelio

El Verbo y El Magisterio Sacerdotal


Nossos pacientes leitores devem saber que este importante assun­to da transformação das impressões nós o chamamos, também, o PRI­MEIRO CHOQUE CONSCIENTE”.

O “choque” se relaciona com essas impressões que são tudo o que conhecemos do mundo exterior, que estamos recebendo, que tomamos como se fossem as verdadeiras coisas, as verdadeiras pessoas.

Necessitamos, pois, transformar nossa vida, e esta é interna. Ao querer transformar estes aspectos psicológicos de nossa vida, obviamen­te necessitamos trabalhar sobre as impressões...

Por que chamamos o trabalho sobre a transformação das impres­sões de “PRIMEIRO CHOQUE CONSCIENTE”? Por um só motivo: porque, simplesmente, é algo que de modo algum poderíamos efetuar de forma meramente mecânica. Isto jamais acontece mecanicamente, se necessita de um esforço auto-consciente.

É claro que um aspirante gnóstico que comece a compreender este tipo de trabalho, obviamente, por tal motivo, começa também a dei­xar de ser um homem mecânico que serve exclusivamente aos interesses da Natureza; uma criatura absolutamente adormecida, que simplesmen­te não é mais que uma “empregada” da Natureza, para os fins econômi­cos da mesma, os quais não servem, de modo algum, aos interesses de nossa própria Auto-Realização Íntima.

Se vocês começam, agora, a compreender o significado de tudo o que estamos ensinando aqui; se pensam agora no significado de tudo que lhes é ensinado a fazer pela via do esforço próprio (começando pela OBSERVAÇÃO DE SI MESMOS), verão, sem dúvida, que todo o lado prático do trabalho esotérico se relaciona com a transformação das impressões e o que resulta, naturalmente, das mesmas.

O trabalho, por exemplo, sobre as emoções negativas, sobre os es­tados de ânimo aborrecidos, sobre a questão da IDENTIFICAÇÃO, sobre a auto-consideração, sobre os “EUS SUCESSIVOS”, sobre a auto-justificação, sobre a disputa e sobre os estados inconscientes em que nos encontra­mos, se relaciona em tudo com a transformação das impressões e o que resulta disto.

Quero que vocês estudem, reflitam profundamente nisto, que compreendam o que é o “PRIMEIRO CHOQUE CONSCIENTE”. É preciso formar um INSTRUMENTO DE MUDANÇAS no lugar de entrada das im­pressões (não se esqueçam disso!).

Se mediante a compreensão de tudo isto vocês podem aceitar A VIDA COMO TRABALHO ESOTÉRICO, então estarão em um estado cons­tante de RECORDAÇÃO DE SI MESMOS. Este estado de Consciência de Si Mesmos os levará ao terreno prático da transformação das impressões, e assim, naturalmente, ao de uma vida distinta; quer dizer, a vida já não agirá mais sobre todos vocês como fazia antes; vocês começarão a pensar e a compreender de uma maneira nova, e este é o começo, está claro, de sua própria transformação.

Enquanto vocês continuarem pensando da mesma maneira, to­mando a vida da mesma maneira, é claro que não haverá nenhuma mu­dança em vocês...

Transformar as impressões da vida é transformar-se a si mesmo, meus queridos amigos, e somente uma maneira de pensar inteiramente nova pode fazê-lo. Todo este trabalho, pois, se dirige a uma forma radical de transformação. Se alguém não se transforma, nada consegue.

Compreendam que a vida nos exige continuamente reagir. Todas estas reações formam nossa vida pessoal. Mudar a vida de uma pessoa não é mudar as circunstâncias meramente externas, é mudar realmente as próprias reações. Porém, se não vemos que a vida exterior nos chega como meras impressões que nos obrigam incessantemente a reagir de uma forma, diríamos, mais ou menos estereotipada, não veremos onde está o ponto que realmente possibilita a mudança, e onde é possível tra­balhar.

As reações, que formam nossa vida pessoal, são quase todas de tipo negativo. Então, nossa vida também será negativa, não será mais que uma série sucessiva de reações negativas, que se dão como resposta incessante às impressões que chegam à mente. Logo, nossa tarefa consis­te em transformar as impressões da vida, de modo que não provoquem estas reações negativas às quais estamos tão acostumados. Porém, para fazê-lo, é necessário estarmos nos AUTO-OBSERVANDO de instante em instante, de momento em momento. Assim, as impressões não chegam de um modo mecânico; isso equivale a começar a viver mais consciente­mente.

Um indivíduo pode permitir-se, dar-se ao luxo de deixar que as impressões lhe cheguem mecanicamente, porém, se uma pessoa não co­mete semelhante erro, se transforma suas impressões, então começa a viver conscientemente.

Por isso se diz que este é o “PRIMEIRO CHOQUE CONSCIENTE”. O PRIMEIRO CHOQUE CONSCIENTE consiste, pois, na transformação das impressões que chegam à mente.

Se uma pessoa consegue transformar as impressões que chegam à mente, no próprio momento de sua entrada, sempre se pode trabalhar no resultado das mesmas. É claro que, ao transformá-las, evitamos que produzam seus efeitos mecânicos, que costumam ser sempre desastrosos no interior de nossa psique.