Num dia agradável de abril de 1957, depois de voltar da Argentina, encontrei minha amiga Ana de Mezey e a convidei para almoçar num restaurante árabe. A comida estava deliciosa e o ambiente acolhedor.
Depois do almoço, sugeri irmos ao cinema. Ela concordou e fomos. O filme não era muito bom, mas serviu para nos distrair por duas horas.
Quase no final do filme, por volta das três e quarenta da tarde, comecei a sentir um mal-estar repentino. Minha perna e mão direitas perderam controle, senti náuseas e uma dor de cabeça intensa. De repente, perdi completamente a visão.
Tentei disfarçar, mas Ana percebeu que algo não estava certo e perguntou o que eu sentia. Decidimos sair do cinema. Minha visão começou a retornar gradualmente à medida que as pessoas saíam da sala.
Descobri que meus movimentos descontrolados pareciam seguir um ritmo musical. Minutos depois, consegui levantar e encontrar Ana, que me levou para casa dela de táxi.
O médico foi chamado e começou um tratamento que durou vários dias. Durante esse tempo, vivi experiências extraordinárias: ao fechar os olhos, via um mundo onde encontrava pessoas já falecidas, inclusive um amigo recentemente morto na Argentina.
O médico me visitou diariamente, monitorando meus sintomas e cuidando de mim enquanto eu alternava entre esses dois mundos. As pessoas que eu via no estado alterado pareciam não perceber uns aos outros, movendo-se através uns dos outros sem consciência disso.
Essa foi uma parte da história intrigante adaptada do livro "Vinte Dias no Mundo dos Mortos" por Jorge Adoum, também conhecido como Mago Jefa. Ele conseguiu registrar apenas parte da experiência de vinte dias, pois ficou gravemente doente e faleceu logo depois.
Fica a pergunta: essa experiência foi um vislumbre de sua jornada final para além deste mundo?
Veja o vídeo sobre esse assunto em nosso canal: https://youtu.be/